Poucos meses antes do início das Olimpíadas no Rio de Janeiro, a ONG Anistia Internacional (AI) alerta para o alto risco do aumento de violações aos direitos humanos durante os Jogos. Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (02/06), o Brasil “repete graves erros na política de segurança pública e no uso da força policial, que se tornaram ainda mais explícitos em grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo em 2014”.
De acordo com o estudo “A violência não faz parte desse jogo! Risco de violações de direitos humanos nas Olimpíadas Rio 2016”, a estratégia adotada pelo governo ameaça o legado positivo das Olimpíadas no que diz respeito à segurança da cidade e não garante “que os agentes responsáveis por fazer cumprir a lei, especialmente a polícia, cumpram as leis e normas internacionais sobre o uso da força e de armas de fogo”.
A assessora de direitos humanos da AI no Brasil, Renata Neder, lembrou em entrevista à ANSA que a realização de megaeventos pode ter impactos negativos nos países que os realizam, como remoções forçadas, restrições dos direitos de manifestação, exploração do trabalho, etc. No Brasil, ainda é identificado o aprofundamento de violações já estruturais, como a violência policial. Segundo ela, se trata de um “problema histórico”. “A polícia no Rio mata muito e morre muito”, disse Neder.
Agência Efe
Relatório da Anistia Internacional alerta para violência policial durante manifestações
“Sede dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e uma das sedes da Copa, em 2014, parece que as autoridades do Rio não aprenderam com as experiências anteriores para evitar que violações do passado aconteçam de novo”, comenta a assessora, para quem “o Estado fez muito pouco para investigar e responsabilizar esses casos, o que tem como consequência a impunidade, que alimenta esse ciclo, passando uma mensagem de que este comportamento é aceitável”.
NULL
NULL
Para o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, a tática de “atirar primeiro, perguntar depois” colocou o Rio de Janeiro entre as cidades onde a polícia mais mata no mundo. Desde 2009, quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas, 2,5 mil pessoas foram mortas em ações policiais somente na cidade — ou seja, uma em cada cinco mortes foi provocada pela polícia.
Leia também: Por que a Copa do Mundo desafia o Brasil?
Segundo dados oficiais, em 2014, quando houve a Copa, foi registrado um aumento de 39,4% no número de mortes em operações policiais em comparação ao ano anterior. “Quando juntamos políticas de segurança pública historicamente falhas, aumento de abusos documentados durante grandes eventos esportivos e falta de investigações conclusivas sobre violações de direitos humanos, temos uma receita para o desastre”, afirmou Roque.
Ao menos 65 mil policiais e 20 mil soldados serão deslocados para garantir a segurança dos Jogos, na maior operação do tipo na história do país. Parte do contingente será enviado às favelas e morros, onde já foi registrada uma série de violações dos direitos humanos.
O relatório da Anistia Internacional conclui que “os valores olímpicos de amizade, respeito e solidariedade não estão em consonância com o predominante uso excessivo e desnecessário da força pelas forças de segurança, o que afeta de forma desproporcional os jovens negros moradores de favelas e periferias” e advertiu que essa tendência pode prosseguir porque as autoridades adotaram para os Jogos Olímpicos do Rio a mesma política de segurança que provocou um aumento das violações aos direitos humanos, incluindo as mortes de civis por parte da polícia, na Copa do Mundo de 2014.
*com informações da Agência Efe