“Há poucos dias, ao firmarmos o acordo coletivo com o Banco do Brasil, perguntamos sobre as notícias dos jornais que davam conta de cortes. Eles negaram e desautorizaram os jornais. Agora, em um domingo, somos pegos de surpresa com os planos de cortes anunciados”. Assim, a presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira Leite, iniciou sua conversa telefônica com os Jornalistas Livres, na noite desta segunda-feira (21/11).
Ao avaliar as medidas anunciadas, Juvandia afirmou que os planos do Banco do Brasil de redução de agências e funcionários equivalem a fechar um HSBC, que tinha cerca de 20 mil trabalhadores e 800 agências no país quando as operações brasileiras foram compradas pelo Bradesco.
“O Banco está sendo desmontado”, afirma ela, levando em conta que o corte no número de agências implica diminuição de superintendências, áreas administrativas e de caixas. Haverá redução de salários para aqueles comissionados que voltarem a funções sem comissão. “Esse descomissionamento pode chegar a 70% da renda atual de um gerente, por exemplo”, pontou Juvandia.
A argumentação usada pela diretoria do banco, de buscar lucros maiores, contrapõe-se ao papel de um banco como concessão pública que tem necessariamente uma função social. E mais ainda, contrapõe-se ao papel de um banco público, orientado por uma forte preocupação social. Juvandia ressalta que o Banco do Brasil é bastante lucrativo. A medida de comparação com a banca privada seria descabida exatamente pela necessidade de ter a contribuição à sociedade entre suas metas. O banco privado não tem compromissos com a função social.
Além disso, aumentam as incertezas quanto ao financiamento da agricultura, já que o Banco concentra cerca de 60% do total do crédito agrícola do país.
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Para presidente do Sindicato dos Bancários de SP, o Banco do Brasil está sendo “desmontado”
“Como ficarão municípios que só contam com agência do Banco do Brasil e tiverem a agência fechada?” Esse questionamento a faz temer por retrocessos inclusive no acesso das pessoas de baixa renda aos serviços bancários em municípios pequenos. Esse acesso, chamado bancarização, tem crescido muito nos anos recentes e sofrerá um golpe com o fechamento de tantas agências.
O BB afirma que não vai retirar sua estrutura em nenhum município onde esteja presente e diz que as mudanças visam reduzir gastos.
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“O sistema financeiro privado tem interesse nesse desmonte do Banco do Brasil. Eles devem estar comemorando. A atuação do Banco em anos recentes fez o sistema reduzir tarifas e reduzir taxas”, conclui Juvandia. As taxas de juros, cobradas pelo sistema financeiro brasileiro, são as maiores do mundo. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tiveram um papel muito importante na redução das taxas e na redução dos chamados “spreads” bancários. Os bancos privados foram obrigados a acompanhar, já que corriam o risco de perder clientes se não o fizessem. Balizar o mercado é uma das importantes funções de um banco público. O desmonte tornará mais difícil cumprir também esse papel.
Pegos de surpresa e indignados com a ausência absoluta de diálogo, funcionários e dirigentes sindicais se reunirão, já nessa terça (22/11), na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, para avaliar as alternativas de luta para preservação do Banco.
Em nota, o Sindicato dos Bancários de São Paulo chamaram para um seminário da quarta (23/11): “A recente medida no Banco do Brasil aumentou ainda mais a importância do seminário Se é Público, é para Todos que debaterá os ataques contra Banco do Brasil, Caixa Federal e outras instituições”, afirma o texto. O evento acontece nesta quarta, a partir das 19h na Quadra (Rua Tabatinguera, 192, próximo ao Metrô Sé).
(*) Publicado em Jornalistas Livres