“A maioria das pessoas em Israel e na Palestina gostaria que houvesse paz. No entanto, acabam elegendo políticos que não querem a paz.” A partir deste diagnóstico, a ONG do israelense Yitzhak Frankenthal, que perdeu um filho, vítima do conflito, desenvolveu um método inovador — e paradoxal — para abordar a questão e tentar convencer a sociedade a refletir sobre a questão israelo-palestina menos sob o aspecto emocional e mais sob a ótima racional: ao expor a espectadores uma campanha de marketing para “promover as vantagens do confronto”, conseguiu “romper barreiras psicológicas” e fazer parte deles mudar de ideia.
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Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Yitzhak Frankenthal se encontrou com o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em evento em São Paulo
“Na verdade, o que fizemos foi transformar o conflito numa marca”, explica Romem Saranga, diretor de criação da campanha, no vídeo de divulgação do projeto ‘Não Ao Conflito’. O objetivo é mostrar à sociedade de Israel o quão “escravizada, viciada, controlada e aprisionada” ao conflito ela está.
“Ok, precisamos do conflito, porque, sem isto, não teríamos nossos heróis, nossas canções, nossos exércitos, nossa guerra, nossos dias de memória”, explica a ‘estrategista da marca’ Atara Bieler, também no vídeo. E continua: “Isto nos dá uma espécie de raiz emocional. Chamamos isto de ‘O Conflito’. Mas é o que somos”.
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O apelo ao ‘emocional’ é objeto constante das manobras políticas — a última delas, aconteceu às vésperas das eleições antecipadas em Israel, no mês de março. Concorrendo à reeleição, Benjamin Netanyahu aparecia mal colocado nas pesquisas eleitorais que antecediam o pleito; alguns dos cenários davam como certa sua derrota, inclusive. No último dia da campanha, o candidato do direitista Likud subiu o tom: prometeu ampliar assentamentos nos territórios ocupados de Jerusalém Oriental e, mais grave, garantiu que “não haveria Estado palestino” sob seu mandato.
A manobra deu certo. Netanyahu virou o jogo e surpreendeu conquistando 29 cadeiras no Knesset, o Parlamento israelense, resultado que sacramentou sua vitória. Dias depois, ficou confirmada a bravata: renovado como premiê, Netanyahu voltou atrás e passou a defender a solução de dois Estados na região.
Barreiras psicológicas
Com o lançamento da campanha publicitária, o desafio do projeto ‘Não Ao Conflito’ passou a ser o rompimento dessas barreiras psicológicas, que impõem, segundo os criadores da ação, um olhar por demais “emocional, apaixonado” da questão.
“Não quero dizer aos israelenses o que fazer, ou como devem pensar. Quero que saiam do terreno emocional. É só”, explicou o próprio Yitzhak Frankenthal, em evento no Instituto Lula na última terça-feira (28/04).
A fundação afirma que os primeiros resultados do projeto são esperançosos. A ONG conduziu experimentos acadêmicos com a exposição da peça publicitária — cujo objetivo era “vender” o conflito — a um grupo amostral. E as estatísticas colhidas, publicadas em revistas científicas, surpreenderam: “Nós falhamos. A campanha falhou”.
Além de produzir melhor aceitação da ideia de encerrar o conflito, por volta de 30% dos participantes da pesquisa mostraram intenção de mudar o voto antes das eleições. E as diferenças ficaram ainda mais contrastantes entre as pessoas que possuíam orientação política de direita ou centro-direita.
“Foi aí que percebemos que, enquanto falhamos, tivemos sucesso”, sintetiza Frankenthal.
Reprodução/Palestine Solidarity Project
Garoto palestino e soldado das Forças Armadas de Israel, em setembro de 2012