O presidente da Guiné Bissau, João Bernardo “Nino” Vieira, da minoria étnica Papel, foi morto a tiros na madrugada de hoje (2), após ter sua casa invadida por soldados. O assassinato ocorreu horas depois de o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, general Batista Tagmé Na Waié, da etnia majoritária Balanta, ter sido morto por uma explosão. Havia uma profunda rivalidade entre os dois, que causou forte tensão nos últimos meses.
O encarregado de relações exteriores do Exército, Zamura Induta, disse que Nino Vieira “foi morto quando tentava fugir após um ataque à sua residência por soldados leais ao general Tagmé Na Waié”. Ele acusou o presidente de ser o principal responsável pela morte do general.
Em 5 de janeiro, Na Waié denunciou que a milícia presidencial tentou matá-lo ao abrir fogo contra seu veículo quando ele passava em frente ao palácio presidencial. Composta por 400 pessoas, ela foi recrutada após a residência do presidente ter sido atacada com metralhadoras e granadas em 23 de novembro de 2008, resultando em duas mortes. O general exigiu o desarmamento da milícia e foi atendido.
A antiga colônia portuguesa sofreu vários golpes de estado desde 1980, quando Nino Vieira tomou o poder pela primeira vez. Ele foi tirado do cargo em 1999, após a eclosão da guerra civil no país, e se exilou em Portugal. Voltou à Guiné em 2005, ano em que foi eleito presidente.
Nos últimos anos, a instabilidade na Guiné foi exacerbada pelo fortalecimento dos cartéis de tráfico de cocaína. Parte da droga que sai da América Latina passa pelo país antes de chegar à Europa. Na última década, outros dois chefes de Estado-Maior foram mortos em circunstâncias ainda desconhecidas.
A situação na capital
Quatro pessoas foram feridas na explosão que matou o general Tagmé Na Way e estão hospitalizadas em estado grave. A bomba que o matou estava embaixo da escada que dá acesso ao seu escritório.
Na capital, todas as vias de acesso ao quartel-general foram fechadas e o Exército pediu aos moradores que permanecessem em seus domicílios até novo aviso. Duas rádios privadas e a emissora estatal de televisão tiveram que suspender as transmissões.
De acordo com a rádio senegalesa RFM, as autoridades da Guiné-Bissau fecharam a fronteira com o Senegal e reforçaram dispositivos de segurança após decretarem situação de alerta máximo.
O presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, anunciou que a viúva do presidente, Isabel Vieira, está refugiada no escritório das Nações Unidas em Bissau, capital do país. Ela foi ferida no atentado que matou seu marido e em breve será trasladada a Dacar, capital senegalesa.
Os militares da Guiné-Bissau se comprometeram a respeitar as instituições e a Constituição vigente. Em princípio, o presidente do Senado, Raimundo Pereira, deve assumir de forma interina o poder por um período de três meses, até a convocação de novas eleições presidenciais, segundo prevê a Constituição guineense.
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