Pelo menos dois altos funcionários cubanos destituídos ontem pelo presidente Raúl Castro foram acusados hoje (3) pelo antecessor Fidel Castro de desempenhar um “papel indigno” ao se deixar seduzir pelo “mel do poder”.
“O mel do poder, pelo qual não conheceram nenhum sacrifício, despertou-lhes ambições que os levaram a um papel indigno. O inimigo exterior encheu-se de ilusões com eles”, escreveu Fidel num artigo publicado no site CubaDebate e no jornal Granma, seu método habitual de intervenção política desde que adoeceu, há mais de dois anos. O título é: “Mudanças saudáveis no Conselho de Ministros”.
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Fidel não os mencionou pelo nome, mas disse que se referia aos dois mais destacados ministros demitidos “citados pela imprensa estrangeira”, que seriam Felipe Pérez Roque (Exterior) e Carlos Lage, virtual primeiro-ministro do país. Aparentemente, poupou o terceiro mais conhecido, José Luis Rodriguez (Economia).
O ex-presidente negou especulações da imprensa estrangeira no sentido de que a reforma governamental tenha sido uma “substituição dos homens de Fidel por homens de Raúl”.
Ele disse ter aprovado a reforma, que atingiu 11 altos funcionários e quatro ministérios. “Os novos ministros foram consultados comigo, ainda que nada obrigue os que os propuseram a fazê-lo. Há muito tempo que renunciei às prerrogativas do poder”.
Queixas
Nem Fidel nem a imprensa oficial deram mais explicações sobre os atos que supostamente os três possam ter cometido para serem demitidos. Com exceção de Pérez Roque, os outros dois eram conhecidos por promover abertura econômica. Roque e Lage foram assistentes pessoais de Fidel e cresceram politicamente a seu lado.
Em dezembro, durante a reunião semestral do Parlamento cubano, Lage e Rodriguez queixaram-se de que as reformas iniciadas na década passada tinham sido interrompidas, o que foi interpretado por muitos observadores como uma crítica a Fidel e Raúl.
A reforma do governo pegou de surpresa os “cubanólogos” nos Estados Unidos. Segundo Frank Mora, especialista em exército cubano do National War College em Washington, a mudança trouxe para a linha de frente uma série de tecnocratas desconhecidos, “mas bons no seu tranalho”.
“Raúl sendo Raúl”
“Isto é o Raúl no seu melhor momento. Não vejo nada ideológico nem político. Apenas vejo Raúl sendo Raúl”, disse Mora, referindo-se à personalidade perfeccionista do presidente cubano.
Mais ou menos o mesmo pensa José Azel, investigador do Centro de Estudos Cubanos e Cubanoamericanos da Universidade de Miami. Ele vê “mais um indício de que Raúl Castro consolida o seu poder”, mas ao mesmo tempo, outro sinal de que o regime “está se afastando de reformas econômicas e políticas”.
“Tudo isso nos leva a pensar que se trata de uma consolidação do poder de Raúl. A pergunta então seria ‘o que se passa com Fidel?’”, comentou Vicki Hudleston, ex-diplomata norte-americana em Havana e atual investigadora do Brookins Institute.
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