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20 Minutos

Breno Altman: Partido militar precisa ser dissolvido

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Jornalista defende que novo governo de esquerda reforme as Forças Armadas e expurgue núcleo bolsonarista; veja vídeo na íntegra

Redação

São Paulo (Brasil)
2021-06-15T18:16:00.000Z

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No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (15/06), o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, discorreu sobre o papel das Forças Armadas, em particular do Exército, no governo de Jair Bolsonaro.

O jornalista ressaltou que, com Bolsonaro, os militares ressurgiram em uma posição de protagonismo, “ainda que as portas já tivessem sido abertas pelo governo Michel Temer, que nomeou um general para ministro da Defesa e unificou os serviços de inteligência nas mãos do Gabinete de Segurança Institucional, também comandado por um general”.

Avaliando as Forças Armadas como uma entidade que atua como partido estratégico da burguesia brasileira, formulando sua própria doutrina e com liberdade para definir suas próprias ações e intervir no Estado, Altman foi taxativo: “o partido militar precisa ser dissolvido”.

Um levantamento do Tribunal de Contas da União registrou o total de 6.157 militares exercendo funções civis na administração pública federal, contra 2.957 em 2016. O número de militares da ativa chega a 2.558, segundo reportagem da Folha de S.Paulo, com o direito de acumular soldos e salários civis.

Nas estatais vinculadas à União, 92 cargos de comando são ocupados por fardados, contra apenas nove durante a gestão de Michel Temer. Segundo a Folha, das 46 estatais controladas diretamente pelo governo federal, 16 são presididas por militares. 

“Como um polvo, com múltiplos tentáculos, as Forças Armadas vão ocupando o Estado, com números incomparáveis a outros países do mundo ou até mesmo com a ditadura militar imposta pelo golpe de 1964”, avaliou Altman.

Conquistando protagonismo

Altman relembrou que, desde a redemocratização, as Forças Armadas vinham tendo um papel “relativamente discreto” na vida política, após a escapada impune dos crimes praticados durante a ditadura. Recuperaram relevância e se modernizaram durante os governos do Partido dos Trabalhadores.

“De alguma maneira, o PT parecia acreditar que a valorização dos militares e o respeito à sua impressionante autonomia, seguindo a mesma opção que havia adotado em relação ao Ministério Público, poderia bloquear o retorno dos fardados à cena política e a desidratação do papel tutelar que historicamente as Forças Armadas desempenharam sobre o Estado. Não passou de uma ilusão”, ressaltou o jornalista.

Foi durante o período petista, sobretudo depois de 2014, que a doutrina atual das Forças Armadas se consolidou, na avaliação de Altman. Concluíram que os partidos burgueses tradicionais, mais uma vez, "mostravam-se incapazes de liderar o Estado, derrotar a esquerda e garantir a implantação do programa defendido pelos grandes capitalistas”.

Também surgia naquele momento a polarização entre Estados Unidos e China, cenário em que o lugar do Brasil seria perfilar com as potências capitalistas ocidentais.

“Por fim, a crise mundial de 2008-2009 revelaria que estavam fechadas as portas para um desenvolvimento autônomo do capitalismo brasileiro, baseado na soberania externa, na reindustrialização nacional e no mercado interno de massas, como era a ambição petista. O Brasil, portanto, deveria aceitar seu papel agroextrativista, baratear custos internos para atrair capitais externos, especialmente salários e direitos, e adotar todas as medidas necessárias, incluindo privatizações e desregulamentações de toda ordem, para garantir um lugar ao sol no mapa dos grandes investidores”, explicou.

Reprodução
Para Altman, com Bolsonaro, os militares ressurgiram no país em uma posição de protagonismo

Assim, no comando das Forças Armadas, foi se formando maioria em favor do programa neoliberal, da subordinação à Casa Branca e da retomada da intervenção militar na vida política, “como solução de última instância ao colapso dos velhos partidos liberais e conservadores, que ficaria bastante claro com o fracasso do governo Temer”. 

Altman reconheceu que, no início, Bolsonaro provocava certo mal-estar entre os generais, “mas as resistências foram caindo na medida em que o ex-capitão demonstrava ter base social própria e crescia nas pesquisas, a partir de 2017”, capitalizando o surgimento de um movimento popular neofascista, assentado sobre as camadas médias, que havia tomado as ruas durante o golpe contra Dilma Rousseff.

“As Forças Armadas, então, escolheram o pacto com Bolsonaro como via institucional para exercer o que consideram seu direito ao poder tutelar sobre o Estado. A eleição de Bolsonaro poderia significar a construção de um aparato efetivo que derrotasse quaisquer contraposições à agenda defendida pelo núcleo autoritário-entreguista, neofascista e pró-imperialista, que chefia o Exército”, afirmou o jornalista. 

Do lado de Bolsonaro, “fenômeno de baixa articulação partidária e com pouca influência sobre os antigos quadros políticos da burguesia”, as Forças Armadas representavam o grande partido de sustentação ao seu governo. 

‘Esquerda precisa superar a tutela militar’

Altman recordou que a força política das Forças Armadas surgiu durante a Guerra do Paraguai e se manteve ao longo do tempo, mesmo após o fim da ditadura, de forma que nenhum governo, nem mesmo durante o ciclo petista, “teve a vontade ou a condição política, ou ambos, para romper os escudos corporativos, mexendo nos currículos, na narrativa histórica, no sistema de promoção”. 

Ele destacou que até mesmo a Constituição, “ainda que de forma imprecisa”, salvaguardou o papel tutelar das armas, através do artigo 142, que lhes dá a tarefa de proteger, além da soberania nacional, a ordem institucional, desde que convocadas por um dos três poderes. 

Portanto, não basta derrotar o bolsonarismo. Para reconstruir a democracia, Altman defendeu a necessidade de enfrentar o partido militar, pelo papel estrutural que desempenha no Estado.

“Qualquer alternativa de esquerda que se pretenda consequente precisa ter a coragem e a inteligência de, finalmente, superar a tutela militar”, reforçou.

.Para ele, caso um presidente de esquerda se eleja, ele deverá buscar exercer na plenitude seu poder de comandante em chefe das Forças Armadas, “promovendo oficiais que representem um programa nacional, democrático e popular, passando à reserva os cúmplices do bolsonarismo e expurgando o núcleo neofascista e entreguista que se reproduz desde o golpe de 1964”. 

“Mas também deveria significar o fim do sequestro do Ministério da Defesa pelas Forças Armadas, a integral reformulação curricular, a proibição de formulação doutrinária para além de assuntos especificamente militares, uma revisão histórica profunda, a começar por um pedido formal de desculpas à nação pelo golpe de 1964 e os crimes da ditadura”, agregou.

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20 Minutos

Breno Altman: esquerda deve deixar o 7 de setembro nas mãos dos bolsonaristas?

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Jornalista alerta para risco de fortalecimento da extrema direita às vésperas das eleições, se puder ocupar as ruas e controlar o Bicentenário da Independência; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-08-09T20:24:00.000Z

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A esquerda se arrisca a alimentar o confronto desejado por Jair Bolsonaro se for às ruas no dia 7 de setembro. No contraponto, deixar o caminho livre para os manifestantes bolsonaristas pode trazer consequências eleitorais perigosas e imprevisíveis. 

Assim o jornalista Breno Altman avalia, no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (09/08), o dilema das forças progressistas diante da frenética mobilização bolsonarista para ocupar as principais cidades do Brasil nas celebrações do bicentenário da Independência. 

“O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas. A intimidação desorganiza, referenda o medo que o fascismo quer provocar e pode levar a um avanço político vitaminado do fascismo, que passa a ser assim capaz controlar as ruas e pode afetar as urnas”, afirmou o fundador de Opera Mundi.

São riscos embutidos nas várias alternativas de que o campo democrático dispõe para fazer frente a um momento decisivo para a extrema direita brasileira. A possibilidade de Bolsonaro colocar dezenas ou centenas de milhares nas ruas, sem um contraponto de esquerda, deve afetar de modos distintos os militantes bolsonaristas e os antifascistas. Por outro lado, é imprevisível o efeito desmoralizante que a hipótese de mobilizar menos gente que o bolsonarismo teria sobre a esquerda.

Uma alternativa para evitar o confronto seria a convocação de uma forte mobilização progressista para o dia 10 de setembro (sábado), por exemplo, e não para o dia 7 (quarta-feira). Isso embutiria o duplo risco de um desgaste por ter deixado as ruas livres para o bolsonarismo e da chance de o dia 10 ter menor participação popular, até por conta do recuo no dia 7. 

“O campo democrático popular teria realmente forças para uma mobilização superior à do bolsonarismo? Seria razoável chegar a uma conclusão derrotista sem colocar todo empenho para impedir que a extrema direita domine o Bicentenário? Esse derrotismo não poderia ser um problema eleitoral ou pós-eleitoral?”, questiona Altman.

Outra alternativa passaria pelo Grito dos Excluídos, ato tradicionalmente articulado no dia 7 de setembro pelos movimentos populares. "Não seria o caso dos partidos de esquerda, sindicatos e movimentos populares fazerem uma convocação ampliada desse evento, jogando todas as suas energias?”, cogita. 

Altman menciona uma solução de meio termo, nem de confronto aberto, nem totalmente apaziguadora: “Não seria o caso de ser organizado no próprio dia 7 de setembro um ato em Ouro Preto (MG), com a presença de Lula, para homenagear os Inconfidentes e Tiradentes e lançar um manifesto histórico por uma nova Independência, disputando espaço na mídia e nas redes contra o bolsonarismo?”. 

Nessa hipótese, o dia 10 de setembro se caracterizaria como uma grande concentração eleitoral dentro do calendário de campanha, sem ter deixado um vácuo que venha a ser inteiramente ocupado pela extrema direita no dia 7 de setembro.

Wikimedia Commons
O recuo e a intimidação não costumam ser boas saídas para a esquerda, defende Breno Altman sobre ato do 7 de setembro

Em busca de referências históricas, Altman contrasta o momento que se aproxima com dois fatos passados, a começar pela ascensão fascista na Itália do pós-Primeira Guerra Mundial. Num primeiro momento, os grupos liderados por Benito Mussolini eram marginais, mas se exibiam dispostos a romper os limites da democracia liberal, ao contrário dos socialistas, cujo discurso revolucionário estava contido dentro desses limites. 

A burguesia italiana entendeu que a violência poderia lhe ser útil e passou a financiá-la para intimidar rebeliões de trabalhadores impulsionadas pela Revolução Russa de 1917. Mussolini e seus partidários se lançaram nesse cenário numa escalada violenta cada vez mais acelerada, enquanto os socialistas, eleitoralmente majoritários na Itália, não eram capazes ou não tinham vontade política para enfrentar a violência fascista.

“O que se viu em seguida foi uma intimidação sem fim, com os socialistas sendo abatidos pelos fascistas e fugindo, entregando suas próprias organizações para os seguidores de Mussolini, enquanto os liberais cruzavam os braços, satisfeitos com a possibilidade de o fascismo derrotar qualquer período revolucionário”, documenta o jornalista.

O segundo fato se deu em 7 de outubro de 1934, em São Paulo, quando partidos de esquerda viveram dilema semelhante, embora fora do período eleitoral. Os integralistas de Plínio Salgado, fascistas da época, convocaram uma grande manifestação na praça da Sé, apoiados por parte da Igreja Católica e das Forças Armadas. Seu slogan, similar ao do bolsonarismo atual, era “Deus, pátria e família”.

A maioria da esquerda daquele momento optou pelo confronto, formando uma frente única entre comunistas, trotskistas, anarquistas  e outros grupos para impedir a manifestação dos fascistas, num episódio que ficou conhecido como batalha da praça da Sé ou revoada dos galinhas verdes (em referência à cor dos uniformes integralistas). A militância antifascista colocou para correr os seguidores de Plínio Salgado, e o integralismo, intimidado, nunca mais tentou uma mobilização daquele porte.

De volta a 2022, o jornalista fala sobre a aposta da esquerda (e da sociedade brasileira de modo geral) na solução pela via institucional e eleitoral. “O problema é que o bolsonarismo está rompendo e possivelmente tenha forças para romper essa cultura. Vão testar isso no dia 7. Não nos iludamos, eles possuem condições de uma forte mobilização”, pondera. “A esquerda deve jogar parada, esperando apenas pelas urnas? Não ter uma cultura de disputar as ruas com o bolsonarismo, limitando a disputa às urnas, não pode acabar virando um tiro no pé?”, indaga.

“Tenho para mim que recuar da mobilização do dia 7 é uma má saída”, responde Altman à pergunta de um espectador que compara a desmobilização social durante os anos petistas com a desmobilização para o 7 de setembro de 2022. "Muitas vezes a saída mais inteligente é o confronto, e não a omissão”, afirma, voltando ao exemplo da revoada dos galinhas verdes em 1934. 

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