No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (27/09), o jornalista Breno Altman entrevistou um dos líderes do Movimento dos Entregadores Antifascistas e responsável pela queima da estátua de Borba Gato, em São Paulo, Paulo Galo.
Galo foi preso por ter incendiado a estátua do bandeirante, ato que ele justificou como necessário e até insuficiente: “Falta ódio de classe. Até quis dar uma chacoalhada na esquerda, porque se o Banksy tivesse vindo e queimado a estátua, teriam adorado, mas como foi a favela… A esquerda tem que ser mais combativa. Se não for luta de classes, é balcão de negócios”.
Na prisão, o líder revelou que o sistema carcerário se relaciona mais com a realidade da favela do que pensava e foi lá onde pode “ser mais efetivo” em seu trabalho de base, “porque você vai contar uma história para um e juntam 40. Você vai explicar por que foi preso e conta do Borba Gato, aí entra no tema da escravidão, do capitalismo e vê a galera reagindo”.
É por isso que, por mais que Galo não descarte totalmente entrar para a política institucional, no futuro, ele afirmou que seu objetivo é seguir com o trabalho de base.
“Você precisa de muito ódio para combater o fascismo e o meu trabalho é organizar o ódio. Amor não vence a guerra, como que você vai abraçar quem chega atirando em você? Tem que ir para cima, lutar, porque o fascismo é sorrateiro, ele se adapta quando vê que está perdendo terreno”, ressaltou.
Esquerda institucional
Nesse sentido, o líder argumentou que a esquerda institucional está falhando em sua reaproximação com as bases pois, segundo ele, predomina uma mentalidade “muito antiga e branca”, distante da realidade da população periférica.
Além disso, para ele, o campo progressista enxerga a periferia como estratégia política, a partir de uma perspectiva arrogante, “que não conversa de igual para igual”.
Reprodução/ Parizotti Roberto
Para ele, a esquerda institucional está falhando em sua reaproximação com as bases
O resultado disso é a baixa participação da juventude da periferia nas manifestações que vem sendo convocadas contra o presidente Jair Bolsonaro.
“A esquerda não emociona e, para emocionar, tem que levar as manifestações para onde está o povo. Tem que levar carro de som para a favela, tenho certeza que aquele modelo vai moldar a favela e a favela, com sua atmosfera, também vai moldar esse modelo. A esquerda tem que pensar em como emocionar as pessoas”, reforçou.
Lula
Galo destacou que o ex-mandatário Lula chegou a emocionar o povo, “quando surgiu um operário que virou presidente”, mas sua capacidade de fazer o mesmo, de acordo com o líder, diminuiu porque agora é algo “que as pessoas já viram, já leram sobre, já acreditaram em mentiras envolvendo-o”.
De qualquer forma, ele destacou o carinho, a admiração e o respeito que tem ao ex-presidente, apesar das críticas que tem ao líder petista: “O que mais me incomoda dele é o que incomoda todo o mundo, essa coisa muito conciliatória. Mas o que mais admiro é que Lula é um ser coletivo, é PT e sempre vai ser PT, representa esses ideais”.
Na luta contra Bolsonaro, Galo ponderou que, mesmo que Lula se eleja, a luta não acaba, pois o bolsonarismo seguirá existindo, mesmo com a saída do presidente, “a polícia vai continuar entrando e matando na favela, como já fazia antes dele, mas claro que com ele é pior”.
Sem falar que, para ele, a luta contra o golpe ainda está em curso, “um golpe contra nós, não contra o PT”, e é preciso resistir. Por isso mesmo, se pudesse escolher a chapa de Lula para as eleições de 2022, Galo colocaria Dilma Rousseff como vice, “pelo imaginário, de que estamos voltando contra o golpe, mesmo Dilma não sendo tão radical em suas políticas”.