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20 Minutos

Maria Caramez Carlotto: esquerda não tomou para si vitórias de junho de 2013

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Para cientista social, pautas que originaram movimento eram antineoliberais e foram tratadas como tabu por setores progressistas e pelo governo petista; veja vídeo na íntegra

Pedro Alexandre Sanches

São Paulo (Brasil)
2022-06-17T20:30:00.000Z

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O 20 MINUTOS ENTREVISTA com Breno Altman desta sexta-feira (17/06) tratou dos enigmas que ainda circundam em relação às Jornadas de Junho de 2013, com a cientista social Maria Caramez Carlotto, defensora da ideia de que a esquerda não compreendeu o sentido daquelas manifestações de massa e abdicou de vitórias que eram suas naquele momento. 

Para Carlotto, a pauta originária das Jornadas de Junho era antineoliberal e acabou hostilizada pela esquerda e instrumentalizada pela direita, com consequências persistentes até hoje.

"Ao transformarem junho de 2013 num tabu e assumirem uma posição de pura condenação, setores da esquerda perderam a oportunidade de disputar aqueles eventos. Isso beneficiou a direita, que se rearticulou para assumir a face que tem hoje, de um movimento de massa", disse.

A professora da Universidade Federal do ABC tenta compreender aquele momento por ângulos adicionais, observando que o crescimento econômico elevou o preço dos imóveis e atirou mais brasileiros às periferias, enquanto o acesso ao automóvel para parcelas maiores da população diminuía a velocidade média nas grandes cidades. 

O resultado combinado seria o aumento do tempo de deslocamento, o que se refletiu nas manifestações convocadas inicialmente pelo Movimento Passe Livre (MPL), com uma base social dos protestos de estudantes do ensino superior que também trabalhavam

“Não era apenas ou majoritariamente uma classe média alta, embora ela estivesse presente em peso, mas sim jovens da periferia que se solidarizaram com o movimento, entre outros motivos, porque perdiam quatro horas no trânsito entre o trabalho e o estudo", afirmou Carlotto.

A base social dos primeiros protestos, conclui, emergia a partir e por causa das conquistas de uma década de governos progressistas, que, paradoxalmente, pioraram a vida nas grandes cidades. “Massas trabalhadoras estavam sendo incluídas no ensino superior. Sobretudo, desde 2003, há no Brasil um processo sólido de escolarização, cujos resultados políticos a gente ainda não compreendeu completamente”, argumenta, classificando a juventude trabalhadora escolarizada como protagonista das primeiras manifestações, a partir de 13 de junho de 2013.

Carlotto procura interpretar aqueles eventos, que classifica como complexos e contraditórios, fazendo uma leitura à luz das responsabilidades da própria esquerda: “não tenho dúvida que houvesse interesses internacionais agindo. Isso é do jogo, sempre vai ser assim. Mas que a esquerda não tenha conseguido entrar nessa disputa para valer é algo que exige de nós uma reflexão”.

Facebook/Maria Caramez Carlotto
Cientista social Maria Caramez Carlotto é a entrevistada de Breno Altman no '20 MINUTOS ENTREVISTA' desta sexta-feira (17/06)

Exemplos dessa atitude reativa seriam o retraimento de parte da esquerda no primeiro protesto pós-revogação do aumento das tarifas e, no front político, posições tomadas pela ex-presidente Dilma Rousseff e pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em resposta aos protestos. 

"A gente devia ter ido ao primeiro protesto pós-revogação para dizer que fomos nós, que essa vitória foi nossa, mas já havia na esquerda um movimento de ‘isso é coisa de coxinha’”, recorda.

"Pressões do neoliberalismo" 

Dilma, para a professora, rendeu-se às pressões do neoliberalismo quando ainda acumulava força política para encurralar o lado adversário. O mesmo aconteceu após a reeleição em 2014, resultante ainda da força acumulada pelas realizações dos governos petistas: "ela acenou para os dois lados, e mais ainda para o lado de lá, e assim fortaleceu o lado que viria depois a lhe derrubar”. 

O laboratório que as Jornadas de Junho proporcionaram à direita permitiram a rearticulação das forças conservadoras e o advento de organizações como o Movimento Brasil Livre (MBL), que teria criado a sigla de modo oportunista, para confundir quem admirasse o até então vitorioso MPL. 

O MBL, segundo Carlotto, não possuía base social e não se relaciona integralmente com a ascensão posterior do bolsonarismo.

Questionada por Altman se junho de 2013 foi o ovo da serpente bolsonarista, a a cientista social lembrou que a visão dos militares sobre a ditadura militar (1964-1985) e o culto ao coronel torturador Carlos Brilhante Ustra são anteriores a 2013, se rearticularam após a instalação da Comissão da Verdade por Dilma, em 2012, e foram subestimadas pelo polo progressista até as vésperas do golpe de 2016. 

“Junho catalisou uma série de processos, mas não explica totalmente o bolsonarismo. Nós não prestamos atenção à visão militar, que tem papel muito grande no bolsonarismo. A cultura atual das armas e da violência deriva disso”, opina. 

A resposta à violência protagonizada pela Polícia Militar do então governador de São Paulo Geraldo Alckmin, em 18 de junho de 2013, desaguou, contraditoriamente, nos protestos de 2015, em que os manifestantes tiravam fotos orgulhosos ao lado dos policiais.

A pesquisadora rejeita o termo “esquerda identitária” como contraponto ao conjunto de ações da direita e da extrema direita.

“O que se chama de esquerda identitária são movimentos feministas, negros, indígenas. Discordo que sejam identitários, porque não escolhi ser mulher. São questões estruturais. Ser negro no Brasil não é uma questão de identidade, é uma questão entre viver e morrer”, afirmou Carlotto.

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Hoje na História

Hoje na História: 1920 - Império Otomano e nações aliadas da Primeira Guerra Mundial assinam tratado de paz

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O Tratado de Sévres pôs fim ao Império Otomano. Duro demais e impraticável, o documento despertou a ação dos nacionalistas turcos que se negaram a aceitá-lo, defendendo a independência turca

Max Altman

São Paulo (Brasil)
2022-08-10T14:15:00.000Z

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O Império Otomano, aliado da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial, assina em 10 de agosto de 1920 a paz em Sèvres (Hauts-de-Seine). Os Aliados impõem um desmembramento do Império Otomano, cujo território fica reduzido à Anatólia, ou península anatoliana, uma região do extremo oeste da Ásia que corresponde hoje à porção asiática da Turquia, em oposição à porção européia, a Trácia.

A Grécia ontem a costa do mar Egeu, a Armênia e o Curdistão obtêm o direito à independência e as províncias árabes são colocadas sob mandatos britânicos e franceses. Os nacionalistas turcos, comandados por Mustafá Kemal Ataturk, rejeitariam esse tratado. O tratado seria revisto em Lausanne (Suíça) em 1923.

O período final do Império Otomano aconteceu durante a Segunda Era Constitucional do Império Otomano. Durante a Primeira Guerra Mundial, na região do Oriente Médio, a batalha aconteceu entre as Forças Aliadas, formadas pela Grã Bretanha, França e Rússia e as Forças Centrais, formada basicamente pelo Império Otomano.

O Império Otomano foi bem-sucedido no início da guerra. Os Aliados foram derrotados nas batalhas de Galipoli, Iraque e Bálcãs. No entanto, alguns territórios anteriormente perdidos foram reconquistados. A Revolução Russa também foi um fator favorável para a reconquista de territórios Otomanos, como Trabzon e Erzurum. As ofensivas incessantes dos ingleses mostraram-se decisivas e o Império Otomano acabou sendo derrotado em 1917.

As tropas aliadas vitoriosas, lideradas pelo general inglês Edmund Allenby, com apoio das revoltas árabes e assistência da recém declarada República da Armênia, anexaram territórios otomanos.

O Tratado de Sévres pôs fim ao Império Otomano. Este tratado mostrou-se duro demais e impraticável, o que despertou a ação dos nacionalistas turcos que se negaram a aceitá-lo, passando a defender a independência da Turquia. Em resposta a tal partilha surge a figura do mito nacional Mustafa Kemal Pasha, logo renomeado Ataturk (Pai dos Turcos), mobilizando o nacionalismo turco e reorganizando parte do extinto exército otomano na Anatólia.

Wikimedia Commons/Cumhuriyet
Os quatro signatários do Tratado de Sévres, que entrou na história ao por um fim ao Império Otomano, em 1920

Vitorioso na luta da independência, que resultou na expulsão das forças aliadas, Ataturk funda a República da Turquia em 1922, tornando-se seu primeiro presidente. Muda o nome de Constantinopla para Istambul e transfere a capital para Ancara, no centro do país, além de extinguir os vestígios do sultanato otomano ao exilar o último sultão.

O tratado de Lausanne de 1923 reconheceu a Turquia em suas atuais fronteiras. Ataturk implantou reformas radicais no país: tornou a Turquia um país secular; unificou o sistema educacional e fez com que o turco passasse a ser ensinado no alfabeto latino em vez do persa-árabe, com o intuito de se alfabetizar a maioria da população; baniu o uso do véu feminino nas universidades e em locais públicos e concedeu às mulheres direitos civis iguais aos homens; aboliu os trajes típicos que expressavam a hierarquia religiosa e social dos cidadãos.

Para Ataturk, o fato de a Europa cristã ter tido sua super-estrutura (leis, escolas, comércio) drasticamente alterada por eventos como o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa estabeleceu a diferença com o mundo islâmico, que preservara suas próprias estruturas em que a religião ainda determinava o funcionamento da sociedade e se constituiu na causa real do fim do império otomano.

O fato de tais reformas terem ocorrido muito rapidamente e sem consultas maiores aos líderes das antigas estruturas causou e ainda causa certa tensão entre uma sociedade mais modernizada, visível nos grandes centros urbanos, e outra mais apegada aos antigos costumes, no interior e em povoados afastados, que não as absorveram por completo. 

Cerca de 85% dos atuais 70 milhões de habitantes do país são turcos étnicos, 97% islâmicos, sunitas em sua maioria. Quatro milhões e meio vivem na capital Ancara e cerca de 12 milhões, vivem no coração cultural e econômico do país, na área metropolitana de Istambul.

Cerca de 12 milhões de turcos vivem fora do país, 3 milhões só na Alemanha. Persistem ainda três fontes de tensões internacionais: o conflito com a Grécia pelo Chipre; as rebeliões da minoria curda (12 milhões) por autonomia no sudeste do país e o reconhecimento turco do genocídio Armênio ao fim da primeira guerra mundial, quando 1.5 milhão de Armênios, que chegaram a compor 25% da população otomana, foram massacrados ou deportados.

(*) A série Hoje na Hist´ória foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.

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