A filósofa e historiadora Virgínia Fontes participou nesta quinta-feira (28/07) do 20 MINUTOS com o fundador de Opera Mundi, Breno Altman.
Para ela, uma perspectiva revolucionária para o Brasil de 2022 se dá com a constituição de uma frente antifascista e anticapitalista dentro da coalizão formada em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
“Não basta acreditar na mesma burguesia que deu um golpe há seis anos e apoiou Jair Bolsonaro há quatro anos. É fundamental, até para sustentar um governo do PT, uma força de esquerda que não tenha perdido seu caráter anticapitalista e revolucionário, sabendo que não estamos num momento revolucionário”, disse.
Uma esquerda de perfil revolucionário deve socializar esse enfrentamento com a população e “reentrar na luta educativa para tirar as burguesias de dentro das escolas públicas e do Sistema Único de Saúde”. “Esse enfrentamento não se fará pelo alto”, afirmou.
Fontes declarou voto em Lula no primeiro turno, como instrumento para derrotar Bolsonaro, apontando que isso não significa “um cheque em branco para uma tentativa de coalizão com as mesmas burguesias que não estão interessadas”.
A tarefa prioritária no momento é derrotar “de todas as maneiras” um governo de caráter fascista e militar. “Temos o dia seguinte das eleições, quando Bolsonaro ainda é presidente. Temos que garantir a posse em 1º de janeiro e a semana subsequente à posse. E temos de enfrentar a devastação tanto na institucionalidade burguesa quanto nas conquistas populares”, disse.
A historiadora afirma uma posição crítica em relação ao Partido dos Trabalhadores, que, segundo ela, vem endossando a hegemonia burguesa desde os governos de 2002 a 2016.
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Para historiadora marxista, só uma esquerda revolucionária retirará burguesia de espaços sociais
No bojo da desmobilização das causas populares, o neofascismo encontrou condições favoráveis de proliferação, amplificadas pelo apoio, financiamento e adesão das classes dominantes. Em sua avaliação, as jornadas populares de 2013 foram uma oportunidade para reorganizar o processo, desperdiçada pelo campo progressista.
“Mostrou a falta de apetite das esquerdas social-liberais, digamos assim, no sentido de galvanizar as massas para o enfrentamento das forças que já estavam colocando suas garras e eram já de extrema direita”, argumenta.
Luta revolucionária
“Quatro anos de governo foram suficientes para o fascismo armar grupos difusos e dispersos de defensores do bolsonarismo, um problema novo com o qual vamos ter que nos defrontar. É muito mais parecido com os Estados Unidos com seus atiradores alucinados do que qualquer outra coisa que já vivemos”, declarou.
A filósofa pondera que o marxismo e a tradição marxista subsequente não definem modelos ou formas estanques de luta revolucionária. Trata-se de enfrentar a correlação real de forças, e não de modo idealizado. Não haveria uma contraposição entre a luta por via revolucionária ou por via eleitoral, inclusive porque o direito ao voto foi conquistado historicamente à revelia dos poderes dominantes.
“Uma esquerda de fato revolucionária não despreza o processo eleitoral, mas sabe que em situações como esta é fundamental, mas absolutamente insuficiente. Não se sustenta um governo democrático na mesa de negociações com a classe dominante”, postula.