O programa 20 MINUTOS desta terça-feira (25/06) entrevistou a diretora executiva da Agência Pública, a jornalista Natalia Viana, que também atuou como coordenadora do vazamento de documentos do WikiLeaks no Brasil, no início de 2010. Um dia após o jornalista Julian Assange, fundador do WikiLeaks, ter deixado a prisão máxima de Belmarsh, em Londres, a entrevistada destacou a relevância internacional do episódio com base nos princípios de direitos humanos e, também, da liberdade de imprensa.
Em conversa com o apresentador e diretor de redação de Opera Mundi, Haroldo Ceravolo Sereza, a convidada avaliou que o establishment norte-americano foi ferido por Assange, motivo pelo qual os Estados Unidos insistiram em manter a prisão do jornalista.
“O establishment norte-americano se sentiu muito humilhado pelo vazamento das informações e pela dimensão que teve por uma organização que é pequena”, disse Viana.
A jornalista também mencionou outras figuras de relevância que foram perseguidas por divulgarem informações secretas vinculadas ao governo norte-americano, como Edward Snowden, Chelsea Manning e Reality Winner, ao afirmar que os Estados Unidos fazem uso delas como exemplo para intimidar a população.
O fundador do WikiLeaks, que deixou a penitenciária após 1.901 dias, desembarcou nas Ilhas Marianas do Norte, nos Estados Unidos. Por lá, Assange deverá cumprir um acordo feito com a Justiça norte-americana e, portanto, assumir culpa por ter vazado documentos confidenciais e pedir perdão a Washington.
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No ponto de vista de Viana, “Assange não queria esse tipo de acordo”.
“Tem várias organizações de liberdade de imprensa apontando isso. Esse acordo significa que o jornalismo foi criminalizado, que atuações absolutamente jornalísticas são crime. Aceitar que isso é crime e que viola a lei de espionagem norte-americana é sério”, afirmou a jornalista, acrescentando que problemas críticos de saúde deveriam ter levado Assange a aceitar o acordo. “Não é fácil assumir um crime que não existe”.

Natalia Viana é co-fundadora e diretora executiva da Agência Pública; em 2010, coordenou o projeto de vazamento de documentos do WikiLeaks no Brasil, com apoio de Julian Assange
Em novembro de 2010 , a diretora executiva da Agência Pública revelou ter sido convidada pelo fundador do WikiLeaks a Londres com o objetivo de traçar uma “estratégia no Brasil” e levar documentos, como conversas “off record” realizadas nas embaixadas, para serem publicados em veículos jornalísticos nacionais.
“A estratégia no Brasil começou com a Folha de S. Paulo e depois se expandiu para O Globo. Os dois receberam os documentos, publicaram uma série de reportagens, e depois se expandiu para sites parceiros, inclusive Opera Mundi”, contou, afirmando que o jornalismo investigativo inspirado no WikiLeaks se expandiu na América Latina como um todo.
“A explosão do WikiLeaks em 2010 deu uma enorme força para a imprensa independente. Demonstrou que um grupo pequeno de pessoas com uma boa estratégia e visão conseguem ter um impacto enorme”, concluiu. “Assange tem uma capacidade enorme de causar impacto no jornalismo e na política […] Foi o cara que idealizou o vazamento moderno”.
Confira a entrevista do 20 MINUTOS na íntegra:
