'Ameaça dos EUA contra Venezuela é risco para toda a América Latina', afirma Breno Altman
Segundo jornalista, governo Trump atua para defender os interesses da petroleira Exxon Mobil na Guiana e busca recuperar influência sobre a região recorrendo a discurso belicista
No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (01/04), o jornalista Breno Altman abordou sobre as relações do atual presidente dos EUA, Donald Trump, com o governo venezuelano, envolvendo principalmente a disputa territorial entre Venezuela e Guiana pela região do Essequibo, território historicamente venezuelano que é rico em petróleo e recursos naturais.
Recentemente, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, visitou a Guiana e disse que Washington responderá a qualquer ação de Caracas para ocupar a área.
De acordo com o jornalista, os EUA, em suas últimas três décadas, foram perdendo influência nas Américas, à medida que se ascendia uma onda de governos progressistas no continente. Além disso, considerou que a Venezuela, junto a Cuba, abriu espaço para o fenômeno de avanço progressista, também possibilitando um aumento da influência econômica da China na região.
Veja a análise completa de Breno Altman:
“Donald Trump pretende claramente virar esse jogo. O que significa combater por todos os meios Cuba e Venezuela. Significa também desestabilizar os governos progressistas com alguma pretensão contra hegemônica e recuperar espaços perdidos para os chineses. Custe o que custar”, avaliou.
As tensões escalaram com a descoberta de 15 bilhões de barris de petróleo no bloco offshore Stabroek, operado pela gigante ExxonMobil, que já produz 1,2 milhão de barris por dia. A Venezuela também acusou os EUA de falarem de apoio à Guiana e usarem o país como “marionete” para garantir lucros da petrolífera.
Maduro nega intenções militares e defende uma solução pacífica sobre Essequibo, mas exige que a Guiana pare a exploração unilateral dos recursos. Entretanto, por outro lado, Washington tem investido em exercícios militares conjuntos, sinalizando uma estratégia para reafirmar influência na América Latina.
“O assunto Venezuela e Guiana é apenas um dos episódios nessa estratégia conduzida pelos EUA para recuperarem sua plena hegemonia na América Latina”, declarou Altman.
Brasil e Venezuela
Ainda na exposição, Altman comentou sobre a relação do governo brasileiro com Caracas, apontando que, após as eleições presidenciais da Venezuela em julho de 2024, o país caribenho se tornou uma “moeda de troca” para o Brasil ao adotar uma postura que permitiu aproximação com os Estados Unidos e a União Europeia.
“Como o cenário internacional é cada vez mais polarizado, o Brasil, para poder manter relações e não assistir uma ruptura ou deterioração com o bloco ocidental, faz uma série de concessões. Entre essas concessões está a relação com a Venezuela. É nítido”, afirmou o fundador de Opera Mundi.
Altman também apontou outros fatores que tem sido levados em consideração sobre a atual postura brasileira referente à Venezuela, ao mencionar que pesquisas eleitorais passaram a mostrar que Lula perderia apoio popular em caso de endosso ao governo de Nicolás Maduro. Lembrou também que os veículos de comunicação de direita “bateram duro” no mandatário brasileiro nas ocasiões em que manifestava solidariedade a Caracas.
