No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (21/09), o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, ponderou sobre o risco de um autogolpe por parte do presidente Jair Bolsonaro e de uma virada de mesa no processo eleitoral.
Segundo o jornalista, diante da possibilidade desse cenário, “qualquer aliança seria justificável, mas o que ocorre se tudo isso for um blefe?”
Altman apontou que Bolsonaro tentando intimidar seus adversários e animar sua base social “em um período de extremo desgaste e isolamento”. Desta lógica formariam parte a direita e seus meios de comunicação, que exageram o risco para demarcar terreno com o bolsonarismo, e até setores da esquerda, para reforçar a tese da “frente ampla”.
“Como um lutador de boxe acuado no canto do ringue, Bolsonaro move o tronco à direita e à esquerda, buscando escapar dos ataques desferidos e dar a impressão, para o adversário e para a torcida, que segue em plenas condições de combate, ganhando tempo para se recuperar e tentar escapar do cerco”, reforçou.
O jornalista destacou que o blefe da violência é um instrumento clássico do fascismo, para forçar recuos da oposição. A postura já teria dado mostras de sua efetividade, quando várias lideranças e ativistas atuaram para cancelar o Grito dos Excluídos e as manifestações Fora Bolsonaro em 7 de setembro, com medo de confrontos e violência.
“Mas o blefe não se presta apenas a atemorizar as fileiras oposicionistas, também tem outro propósito: mudar a pauta. Antes do 7 de setembro se discutia a CPI da Pandemia, a corrupção na compra de remédios e vacinas, as tramoias do clã Bolsonaro – temas que dilaceram a popularidade do presidente. Com a convocação da mobilização bolsonarista, a pauta girou para o choque entre instituições e a defesa abstrata da democracia, temas bastante menos desagregadores para o neofascismo”, defendeu.
Alan Santos/PR
Ainda que o autogolpe do presidente não fosse um blefe, Altman identificou-o como um plano B
Reação da esquerda
“No caso de ser um blefe, a oposição de esquerda não estaria sendo estimulada a fazer o jogo que interessa à oposição de direita e à burguesia brasileira, isto é, separando a luta contra o neofascismo do combate ao neoliberalismo?”, questionou o jornalista.
Alguns setores da esquerda, na percepção de Altman, “caem na ladainha de Pedro diante do lobo, como no conto infantil”, movendo-se conforme os blefes do presidente,
Ele criticou que essas organizações e lideranças estariam dispostas a abrir mão da hegemonia de esquerda, “como se dissessem que primeiro vamos lutar contra o neofascismo, depois contra o neoliberalismo”.
“Como se fosse possível dissociar esses dois temas. Razão tem o ex-presidente Lula, quando em entrevista à rádio Sagres, de Goiás, perguntou para que servia a ‘frente ampla’, avisando que somente faria algum sentido se fosse para afastar Bolsonaro e substituir o modelo econômico que ele representa”, destacou.
Adotar essa estratégia, na visão do jornalista, também afastaria a esquerda de sua base. Por isso, ele condenou qualquer submissão à oposição de direita: “a luta contra Bolsonaro deve ser a mais ampla possível, é evidente, mas sob a hegemonia da oposição de esquerda e sem abrir mão do combate ao neoliberalismo”.
Para Altman, a questão central deve ser construir uma alternativa de esquerda ao país, um governo que “liquide o neofascismo e rompa com o neoliberalismo”. Nesse sentido, ele identificou a luta pela derrubada do governo de Bolsonaro como parte dessa construção.
“Nesse momento em que Bolsonaro está mais enfraquecido e isolado que nunca, é a hora de avançarmos, nas ruas, nas redes e nas instituições, com todas as nossas forças”, concluiu.