No programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (24/08), o jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, discorreu sobre a “terceira via”, nome dado a candidaturas que buscam quebrar a polarização nas pesquisas para a sucessão presidencial entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula.
Para o jornalista, “Bolsonaro é o inimigo principal da esquerda, nesse momento, mas não se pode baixar a guarda para a oposição de direita, lembrando sempre que esse setor é uma fração do campo conservador, não um integrante do campo progressista”.
É por isso que Altman defendeu que o eleitorado da terceira via deve ser disputado, “mas suas direções precisam ser permanentemente debilitadas, isoladas e combatidas”.
Ele relembrou que a “terceira via” está formada pelos velhos partidos burgueses que lideraram o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e depois perderam a direção do bloco conservador para a extrema-direita. Seus candidatos potenciais mais conhecidos são João Dória, Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Luiz Henrique Mandetta e Rodrigo Pacheco.
Além da oposição de direita, disputa espaço na “terceira via” uma fração da centro-esquerda, cujo postulante é Ciro Gomes, “rompido com a oposição de esquerda há mais de três anos”.
Até o presente momento, a soma de intenções de voto em Lula ou Bolsonaro alcança, segundo o levantamento mais recente do DataFolha, 71%. O espaço da “terceira via” está reduzido a 17%, divididos entre as candidaturas de Ciro (com 8%), Dória (5%) e Mandetta (4%), já que 10% votariam nulo ou em branco, enquanto 2% não souberam responder.
Lula ganharia, com 46% das intenções de voto contra 25% de Bolsonaro, ainda no primeiro turno, pois obteria mais de 52% dos votos válidos, a julgar por essa pesquisa, retirando nulos, brancos e quem ainda não sabe em quem votar.
“Se esses números permanecerem vigentes, a resposta para o título do programa de hoje seria um atestado de óbito para a terceira via. Mas o jogo só acaba quando termina”, afirmou o jornalista.
Reabilitação dos direitos eleitorais de Lula
De acordo com Altman, a situação política do país mudou completamente a partir do dia 8 de março deste ano, quando as sentenças contra o ex-presidente Lula foram anuladas e restituídos os seus direitos políticos-eleitorais.
“Até então, a contradição principal da cena política era dentro do bloco conservador, entre o bolsonarismo e a oposição de direita. As forças de esquerda, especialmente o PT, tinham sido afastadas do palco principal desde as eleições de 2018 e ocupavam uma posição marginal para a corrida presidencial”, argumentou.
Reprodução/Twitter João Doria
Jornalista defende que Bolsonaro é o inimigo principal, mas que terceira via é opção da burguesia para enfrentar Lula e a esquerda
Assim, os neoliberais buscavam atrair parte da esquerda, incentivando a ideia da “frente ampla”, “com um programa exclusivamente centrado na questão democrática e na luta contra a pandemia”, já que tanto os neofascistas quanto os neoliberais “tinham e seguem tendo concordância ampla no programa econômico e na submissão do Brasil aos Estados imperialistas”.
Com a reabilitação eleitoral de Lula, “os partidos da terceira via caíram do cavalo, desidratados pelo retorno do líder histórico da esquerda brasileira”.
Radicalização da oposição de direita
Altman avaliou que o isolamento da terceira via levou setores da oposição de direita a radicalizarem seu enfrentamento a Bolsonaro, especialmente alguns meios de comunicação, embora mantendo o alinhamento a seu programa econômico e as reformas ultraliberais no parlamento.
“Embora o inimigo estratégico da oposição de direita continue a ser o ex-presidente e o campo de esquerda, o adversário tático passou a ser Bolsonaro”, reforçou.
Para Altman, essa cisão da direita é positiva para a oposição de esquerda. Por outro lado, “a resiliência dos neofascistas obriga a oposição de direita a ampliar seus alvos eleitorais, o que lhe conduz a tomar um banho de imagem e ser mais palatável a eleitores centristas que podem ser conquistados por Lula”.
“Também recorrem, o tempo todo, a uma maximização dos riscos golpistas, de que Bolsonaro vire a mesa e rompa com o que resta da normalidade constitucional. Quanto maior for esse risco, mesmo que de forma imaginária, maior poderia ser a aceitação da oposição de direita. Seria uma ilusão terrível considerar que esses neoliberais, comandantes do golpe de 2016 e da Operação Lava Jato, sejam integrantes de um suposto campo democrático”, discorreu o jornalista.
Saídas até 2022
Altman reiterou que não se pode ser ingênuo para com as intenções da oposição de direita, principalmente porque, se Bolsonaro continuar caindo nas pesquisas, esse setor “começará a mudar os objetivos de sua artilharia, voltando-se para Lula e o PT”.
O jornalista, contudo, não descarta que setores da própria oposição de direita e do centrão optem por algum acordo com o campo progressista, “sob um discurso de pacificação nacional e pressionando um novo governo liderado pelo petista a abdicar de qualquer confronto com o Estado oligárquico, a ordem imperialista e o modelo neoliberal”.
Ele ainda colocou como outra solução tentar unificar todos os partidos da terceira via ao redor de uma só candidatura, destacando que a de Ciro Gomes seria a mais viável eleitoralmente, ainda que ressaltando ser baixa a chance dessa operação ser bem-sucedida.
“Um terceiro caminho seria impugnar Bolsonaro. Não necessariamente derrubar o seu governo, através do impeachment, mas encontrar uma fórmula, via TSE, que torne impraticável sua candidatura à reeleição”, refletiu.
O jornalista ainda apontou para um quarto caminho, “que representaria novo golpe”, buscando a dupla impugnação, de Bolsonaro e Lula, através de uma emenda constitucional acabando com a reeleição, de forma continuada ou alternada, limitando a um só mandato quem vier a ocupar a Presidência da República. Dentro desse estratagema, outra possibilidade seria a adoção de um regime parlamentarista ou semipresidencialista já para o período 2023-2026.
“De toda maneira, parece claro que a ‘terceira via’, embora possa ter pontos de contatos com a oposição de esquerda na hora de combater Bolsonaro, está longe, mas muito longe de ser uma aliada das forças progressistas.”, concluiu.