Breno Altman: genocídio é arma de Israel para radicalizar limpeza étnica contra palestinos
Segundo jornalista, plano de Trump para Faixa de Gaza impulsionou ruptura de cessar-fogo pelo governo Netanyahu: colonização é a estratégia do regime sionista
Em meio ao rompimento do cessar-fogo com o Hamas na Faixa de Gaza por Israel, que já levou à morte de pelo menos 1.700 palestinos desde 18 de março, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não planeja o fim do conflito, ou mesmo o resgate de seus reféns, mas sim, a limpeza étnica dos palestinos antes da anexação formal das terras do enclave. Essa foi a análise do jornalista Breno Altman no programa 20 Minutos, do canal do YouTube de Opera Mundi.
“O governo israelense não esconde que seu propósito é levar a população da Faixa de Gaza ao desespero, recorrendo ao crime de guerra para enfrentar a resistência palestina. A preocupação com os próprios reféns é totalmente secundária. O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, foi muito claro ao afirmar que trazê-los de volta ‘não é o objetivo mais importante do governo’”, contextualizou o fundador de Opera Mundi.
Além disso, Netanyahu “resiste a todas as propostas que poderiam resolver imediatamente a questão dos reféns”, disse Altman, ao citar uma proposta de trégua sugerida pelo Hamas, de acordo com o diário The Times of Israel, que teria a duração de 10 a 15 anos, e a libertação de todos os reféns de uma só vez, em troca de prisioneiros palestinos.
“Mas a proposta exigia que Israel retirasse todas as suas tropas da Faixa de Gaza, permitindo o livre fluxo de ajuda humanitária e caminho para o início da reconstrução do território. Assim, o primeiro-ministro sionista recusou a proposta, dizendo que seu governo não irá concordar em encerrar a guerra até que o Hamas esteja completamente dizimado”, relatou Altman sobre a resposta negativa de Netanyahu anunciada no último sábado (19/04).
O que Netanyahu, aliado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja então é a preparação da anexação dos territórios palestinos. Nessa estratégia “o maior empecilho para a anexação formal dos territórios palestinos seria a demografia”, afirma Altman.
Segundo sua análise, caso as terras fossem simplesmente anexadas, com os dois milhões de palestinos, “mais cedo ou mais tarde, a população de Gaza teria que exercer direitos semelhantes aos dos atuais cidadãos árabes-israelenses, descendentes de palestinos que continuaram a viver em Israel” após a expulsão palestina para a criação do Estado de Israel, em 1948.

Segundo Altman, genocídio “provoca pânico e terror”, fazendo com que população de Gaza fuja, favorecendo o plano de Trump
“Seria impensável a longo prazo manter uma população tão grande. Se isso acontecesse, a população deste eventual Israel seria de 15 milhões de pessoas. Descontados aproximadamente 600 mil cidadãos de outras etnias, metade desse total seria de judeus, e a outra metade, de palestinos”, explicou, ao detalhar que essa realidade seria “demograficamente um risco para o projeto sionista”.
“Se todos os habitantes viessem a ter o direito de votar e serem votados, a supremacia judaica no Estado de Israel poderia ser rompida pela via eleitoral”, desenvolveu.
“Por essa razão fundamental, não interessa ao sionismo, por agora, a anexação formal. Então a outra solução é mudar a demografia. Já que não é possível aumentar significativamente o número de judeus, a outra opção seria reduzir drasticamente a quantidade de palestinos. Dois milhões de palestinos desaparecerem”, explicou durante o programa.
A limpeza étnica promovida por Israel desde 7 de outubro de 2023 “já atingiu 2,5% da população do enclave. Ou seja, 2,5% dessa meta já foi cumprido”. O jornalista avalia que, além do propósito direto de matar os palestinos, o genocídio “provoca pânico e terror”, fazendo com que parte da população de Gaza “não veja outra saída, a não ser fugir”.
“Para reforçar esta lógica, surgiu o plano de Donald Trump: deslocar a população da Faixa de Gaza para outros países, como o Egito, a Jordânia, e Síria. Depois passar o enclave ao controle norte-americano e construir uma espécie de paraíso mediterrâneo com imóveis que poderiam ser majoritariamente comprados pelas elites judaicas do mundo”, detalhou.
Veja o 20 Minutos Análise de Breno Altman completo:
