No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (10/09), o jornalista Breno Altman entrevistou o chargista e militante da causa palestina Carlos Latuff que, 20 anos após o ocorrido, analisou os ataques do 11 de setembro nos EUA.
Para ele, o atentado foi uma catástrofe resultada da política intervencionista da Casa Branca. Com ele, os EUA inauguraram a chamada “guerra ao terror”, que passaram a servir de álibi para esse intervencionismo, de acordo com o chargista.
“Deu base para que implementassem uma política externa mais agressiva sob a égide de que estavam combatendo o terrorismo. A reação imediata foi a criação de uma onda de islamofobia e a declaração de guerras no mundo árabe, mas depois se criaram legislações que perseguiam movimentos de esquerda e movimentos anarquistas chamando-os de terroristas”, argumentou.
Ele defendeu que o termo “terrorismo”, que já é flexível, em sua opinião, foi ainda mais banalizado nesse momento e relembrou que é tudo uma questão de perspectiva: “A ditadura brasileira chamava os movimentos armados de terroristas. O apartheid sul-africano chamava o movimento contra o apartheid de terrorista. Mas Israel, por exemplo, quando bombardeia a Palestina, não é terrorista?”.
“Foi a primeira vez que os EUA receberam um ataque direto em território civil. Mas quem ganhou com isso? O establishment norte-americano que invadiu o Afeganistão sem resistência, que invadiu o Iraque sob protestos da ONU, mas que não fizeram diferença”, ponderou. Por isso mesmo, o humor estadunidense não se moveu contra Bush com a intensidade que deveria, e chargistas que ousaram se manifestar sobre o 11/09 foram criticados “por acharem que estávamos tripudiando as mortes, sendo que não era isso”.
“A questão é que as pessoas não gostam de tocar nesse tema ainda. Não existem tantos filmes, nem romances. Ainda é um tema nebuloso”, agregou.
Causa palestina
O 11 de setembro repercutiu de forma negativa em todas as causas árabes, segundo Latuff, e fortaleceu ainda mais o sionismo e o Estado de Israel: “Israel se aproveitou dos ataques para dizer que eles vivem um 11/09 todos os dias, sempre em luta contra o terrorismo e, por isso, precisavam do dinheiro e da ajuda dos EUA, porque estavam defendendo os melhores valores ocidentais em meio a uns selvagens”.
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Chargista fala de arte, política, analisa o 11 de setembro de 2001 e ataca o colonialismo israelense
Nesse cenário, Hamas, Hezbollah e Al Qaeda foram colocados “todos no mesmo saco”, apesar de serem muito diferentes e do fato de que Israel já ter um discurso de guerra contra o terror “muito antes dos atentados”.
“A manipulação canalha do Holocausto em favor das políticas de Israel é uma constante. Como chargista, quando você aponta para essa manipulação, te chamam de antissemita, como se você estivesse negando o Holocausto”, relembrou.
Ele lamentou que as charges críticas ao sionismo sejam vistas dessa forma quando, na verdade, é o próprio Estado de Israel quem “desrespeita as memórias daqueles que morreram”.
Diante da complexidade da situação, Latuff disse ter deixado de acreditar na possibilidade da solução dos dois Estados, porque o sionismo, desde o princípio, é colonial, “nunca concebeu a possibilidade de dois Estados, sempre só o Estado judeu”.
A única forma, para ele, é encontrar uma solução que seja viável para os dois povos, ainda que isso pareça cada vez mais distante e improvável com um governo como o de Naftali Bennett, conhecido como o “campeão dos colonos”, e com o apoio ainda incondicional dos EUA.
“O único jeito seria se os EUA retirassem o apoio a Israel, mas isso não vai acontecer. Nem com Joe Biden. Quando jovem, ele disse que se Israel não existisse, tinha que ser inventado. Um cara desses não está preocupado com a Palestina”, reforçou.