No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta sexta-feira (25/06), o jornalista Breno Altman entrevistou Alberto Carlos Almeida, cientista político, sociólogo e fundador do instituto de análise Brasilis, sobre as tendências eleitorais de 2022.
Segundo o especialista em pesquisas de opinião pública, existe um cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro que dificilmente será alterado por outros candidatos. O motivo para isso é a dificuldade de ser “nacionalmente competitivo”. Ele citou como exemplo Aécio Neves (PSDB) durante as eleições de 2014. Mesmo tendo sido duas vezes governador e, na época, senador por Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, “passou a campanha inteira sem ser um candidato competitivo, ultrapassando Marina Silva no último momento”.
“A eleição nacional tem uma barreira formidável na competitividade dos candidatos. Foi difícil para Bolsonaro ultrapassar essa barreira, o que aconteceu foi uma raridade. Considerando isso, para 2022 temos o presidente e um ex-presidente, que já são barreiras por si só para outros candidatos. Como disputar esse espaço contra eles?”, ponderou Almeida.
Diante desse cenário, o centro está sob disputa, mas Bolsonaro rejeitou o centro, na análise do cientista político. Por isso ele defendeu que Lula ocupe o centro. “O centro está livre. Bolsonaro deixou o centro e a centro-direita dando sopa, é só Lula ir lá e ocupar aquele espaço. O eleitor de Lula não vai votar em Bolsonaro de jeito nenhum, então ele não vai perder votos se adotar essa estratégia. Ele tem que conquistar os eleitores que variam de voto”, disse.
Almeida acredita que a estratégia do ex-presidente e do Partido dos Trabalhadores, em vez de rejeitar uma aliança com o centro, deve ser trabalhar para aprovar uma forte bancada de esquerda para “bancar as reformas estruturais que precisam ser feitas”, de modo a não depender das alianças na hora de governar.
Lula no primeiro turno?
O cientista político também espera que haja um aumento na popularidade do presidente até 2022, devido à aceleração da campanha de vacinação e à normalização natural da economia.
“Não sabemos exatamente como isso vai impactar as pesquisas. Lula diminui um pouco, Bolsonaro aumenta um pouco nas intenções de voto. Mas a distância entre eles é imensa. E o voto vai estar concentrado em um dos dois”, enfatizou.
Assim, Almeida não descarta que as eleições sejam definidas em primeiro turno, tudo depende dos eleitores que variam entre direita e esquerda – como, por exemplo, os que disseram que votariam em Lula em 2018, mas rejeitaram Haddad e elegeram Bolsonaro.
“Qual é a estrutura do voto em Lula? Ele vai mudar o que está aí e com segurança. É alguém que já foi testado e aprovado. Aí tanto faz o adversário, porque qualquer que seja, ele não traz os componentes que o Lula tem”, reforçou.
Alex Ferreira / Câmara dos Deputados
Alberto Carlos Almeida foi o convidado desta sexta (25/06) do 20 MINUTOS ENTREVISTAS
Fim de Bolsonaro: pelo impeachment ou pelas urnas?
Almeida analisou os índices de popularidade de Bolsonaro, que, apesar da catástrofe humanitária, social e econômica que vive o Brasil, se mantém ao redor dos 20% de aprovação.
“A questão é que o que é uma catástrofe para nós, não é para outras pessoas. Muitos não atribuem a responsabilidade dos 510 mil mortos por coronavírus a Bolsonaro. Existem aqueles que pensam que é um castigo de Deus, outros que acham que o vírus é realmente poderoso e colocam a culpa na responsabilidade individual de cada um em se cuidar. Já a economia não, as pessoas atribuem o desemprego, por exemplo, ao governo federal”, argumentou o especialista.
No entanto, mesmo com dados preocupantes em termos econômicos, com índices altíssimos de desemprego, o Brasil de novo no mapa da fome, o “núcleo duro” de Bolsonaro se mantém. De acordo com Almeida, isso se dá pelo perfil do eleitor bolsonarista.
“No caso de Dilma, por exemplo, o eleitor dela era o pobre e a vida dos mais pobres piorou com o desemprego que veio a partir de 2013. Então ela perdeu popularidade. Agora, Bolsonaro foi eleito por pessoas menos pobres e a vida dessas pessoas não piorou necessariamente. Mas a vida dos pobres voltou a piorar, assim a gente explica também a aprovação de Lula”, explicou.
Por isso, Almeida não acredita que Bolsonaro sofrerá um impeachment antes do fim de seu governo: “A opinião pública é a grande barreira ao impeachment”, além do apoio que Bolsonaro segue possuindo na Câmara.