Combinando questões gerais e outras bastante pessoais, Opera Mundi traz o especial A Pandemia no Mundo. O objetivo é verificar o impacto da covid-19 em diferentes países. Trata-se de uma enquete: as mesmas 27 perguntas são repetidas para moradores deles, de modo que as respostas possam ser acompanhadas e comparadas.
Quando a pandemia começou, dizia-se muito que o coronavírus era “democrático”, atacando igualmente pobres e ricos, brancos, asiáticos e negros, homens e mulheres.
O que a realidade mostrou é que os pobres são mais vítimas da covid-19, como a condução das políticas de saúde por governos de todo o mundo resultou em radicais diferenças no número de contaminados e de mortos.
Quem responde as perguntas hoje é o jornalista Victor Farinelli, de Valparaíso, no Chile.
1. Descreva o grau máximo de isolamento social praticado onde você está.
A cidade de Valparaíso é conformada por morros, onde estão a maioria dos setores residenciais. A prefeitura da cidade trabalhou para descentralizar alguns serviços, e evitar que as pessoas tenham que ir para a parte plana, onde estão os comércios. Com isso, é possível dizer que a cidade passou a ter cerca de 50% menos de circulação nas ruas que o normal. No meu caso particular, consigo trabalhar de casa, e só preciso sair uma ou duas vezes por semana.
2. Quando começou sua quarentena?
Meados de março.
3. Quem está com você?
Moro sozinho, às vezes fico com o meu filho.
4. É fácil conviver assim?
Não. A solidão, nos dias em que não estou com meu filho, é o pior dos problemas.
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5. Quando você sai de casa?
Quando é preciso comprar mais suprimentos, e quando é preciso levar o lixo para fora.
6. Teve ou conhece alguém no país em que está que teve covid-19?
Não.
7. Como viu a ação do governo do país em que está em relação ao coronavírus?
Errática. No começo, parecia estar a favor das medidas de isolamento. Depois, passaram a uma estratégia chamada “isolamento dinâmico”, na que diferentes regiões do país entram ou saem do isolamento baseado em critérios que não estão claros.
8. Ela mudou muito com o tempo?
Mudou, e para pior. Houve um momento em que o presidente chegou a falar em “nova normalidade”, e em “retorno seguro” ao trabalho. Isso foi em meados de abril. Após esse afrouxamento das medidas, os contágios e as mortes triplicaram.
9. Você está neste país por que motivo?
Para cuidar do meu filho.
10. Acompanhou a situação brasileira?
Sim.
11. A embaixada brasileira se comunicou com você ou com pessoas que você conheça?
Não.
12. O governo brasileiro ofereceu algum tipo de ajuda?
Não.
13. Como você acompanha as notícias do Brasil?
Através dos meios de comunicação, pela Internet.
14. Gostaria de voltar ao Brasil? Por quê?
Não neste momento. Meu filho ainda precisa de mim.
15. Sua vida profissional mudou durante a pandemia? Como?
Um pouco. Deixei de fazer apuração de algumas matérias na rua para tentar fazer tudo sem sair de casa.
16. Sua vida afetiva (inclusive sexual, se quiser tratar disso) mudou durante a pandemia? Como?
Um pouco. Estava ensaiando um início de relação, era algo que estava nos primeiros encontros ainda, com alguém que vive em outra cidade. Agora, estou há dois meses sem vê-la, e sem perspectiva de um novo reencontro. Conversamos bastante de forma virtual, mas para uma relação que estava no começo, isso é ainda mais insuficiente.
17. Você engordou, emagreceu ou manteve o peso?
Creio que estou mantendo o peso. Não percebo nenhuma variação significativa.
18. Você bebe mais ou menos durante a pandemia?
Quase nada.
19. O que tem feito para ocupar o tempo durante a quarentena?
Ver filmes ou séries, ler e dormir. E tento conversar com pessoas, saber como elas estão.
20. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum hobby durante a pandemia?
Não.
21. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum vício durante a pandemia?
Não.
22. Tem realizado atividades para cuidar da saúde mental durante a pandemia?
Tento conversar com pessoas, saber como elas estão. Não sei se isso é bom ou ruim para a saúde mental, mas às vezes é tranquilizador.
23. A pandemia fez com que você mudasse seu posicionamento político?
Não.
24. Se pudesse dar um conselho a você mesmo antes de entrar em quarentena, qual seria?
Não fique sozinho.
25. Você tem lido mais ou menos notícias durante a pandemia? Como é sua relação com o noticiário?
Mais. Tenho buscado me informar constantemente.
26. Como está a questão do abastecimento de insumos no país em que você está?
No setor onde eu moro há poucos problemas, mas nas regiões mais pobres das grandes cidades há pessoas que estão passando fome, e inclusive protestos sociais por causa disso.
27. Como está o relacionamento com sua família? Melhorou? Piorou?
Se manteve igual. A maioria é bolsonarista.