Nos anos 1920, quando Mussolini ascendia ao poder numa conturbada Itália, ainda era possível imaginar que o fascismo não iria tão longe. Mussolini fizera carreira política como um inflamado autor de propaganda socialista e estava diretamente ligado a operários que se sentiam duramente explorados pelo avanço industrial italiano.
A revolução russa se internalizara como uma guerra civil sangrenta (resultado de reações “naturais” da oligarquia e do apoio econômico incondicional por parte de capitalistas estrangeiros), mas metia medo em quem já conhecera tanto sangue e lágrimas. O fantasma de uma nova guerra, no entanto, levaria a uma outra guerra.
Depois de Mussolini, veio Hitler.
Num golpe mais ágil e mais evidente que o do seu companheiro de armas italiano, Hitler impôs sua vontade baseado, de forma ainda mais violenta que Mussolini, no discurso anticomunista. Somado a esse debate tipicamente político, adicionava questões comportamentais (Berlim era uma cidade progressista, que acolhia com razoável respeito para a época, prostitutas, mulheres liberadas e homossexuais) e raciais.
Também, como fizeram muitos partidos sul-americanos (penso na Falange Socialista Boliviana, por exemplo), promoveu uma confusão entre o socialismo do seu nome e o discurso antimarxista, em busca do apoio dos trabalhadores.
Vivemos hoje um neofascismo. Ele já mostra mais claramente a que vem. É radicalmente antipopular, no sentido de que considera o povo, como um todo, um problema.
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Evidentemente, há hierarquias nesse povo: indígenas, negros, homossexuais, transexuais e mulheres emancipadas figuram na linha de prioridades a massacrar, oprimir ou pelo menos silenciar. A primeira prioridade é destruir qualquer tentativa de luta por democracia, seja ela social, de gênero, racial, política ou mesmo cultural.
Os exemplos são muitos, e as falas são claras, já não é mais possível argumentar racionalmente e nem vale a pena insistir: quem opta por essa violência está, por algum motivo (felizmente, por diferentes motivos, o que significa que talvez você possa se desarmar), incapaz, muitas vezes, de olhar no próprio espelho, de se perceber também um potencial agredido, de olhar para a irmã, o irmão, o primo.
A sua opção pela morte, real ou simbólica, muitas de pessoas que você diz amar, é inaceitável. E injustificável pela, muitas vezes brandida, própria ignorância. Não, você não é ignorante, não, você não é burro, não, você não é mal informado. Você sabe o que está fazendo, e o que está fazendo é ruim, foi ruim, será ruim – para você.