Após as seguidas derrotas que deixaram a oposição venezuelana debilitada e dividida, Juan Guaidó enviará a Oslo, na Noruega, representantes que iniciarão com o governo – democraticamente eleito – de Nicolás Maduro uma nova roda de diálogos, que buscará dirimir os conflitos entre oposição e governo.
O primeiro encontro está marcado para a próxima semana e ocorrerá em um cenário bastante tumultuado para Guaidó. Embaixadores fictícios que ele mesmo nomeou e representantes de países aliados, tais como Colômbia e Brasil, afirmaram que não sabiam da negociação e se sentiram surpresos.
Guaidó já havia afirmado que não era possível manter qualquer tipo de diálogo com a “ditadura chavista”.
A nova tentativa de acordo entre o governo de Nicolás Maduro e o principal setor da oposição venezuelana, representada pelo primeiro presidente autoproclamado da história venezuelana, Juan Guaidó, pode marcar o fim de mais um ciclo de táticas erradas que foram utilizadas por esse setor da oposição venezuelana.
De 2014 pra cá já foram 3 rodas de diálogo -públicas – entre governo e oposição, a última foi entre o final de 2017 e início de 2018, terminando com um acordo firmado entre as partes. No entanto, momentos depois, a oposição venezuelana, representada nas conversas por Julio Borges (do partido Primero Justicia), cedeu à pressão dos EUA desfazendo o acordo e, portanto, ficando de fora das eleições presidenciais de 2018.
Agora, em 2019, o setor mais fortalecido da oposição venezuelana se encontra mais uma vez contra a parede. Depois de se autoproclamar presidente interino da República Bolivariana da Venezuela no dia 23 de janeiro, Juan Guaidó não foi capaz de se fortalecer tal como planejou. Apesar de ter o “apoio” de mais de 50 países, Guaidó não foi reconhecido por potencias como China e Rússia, e países como México, Uruguai, Itália e Grécia. Além disso, o encarregado para os assuntos da Venezuela, Elliot Abrams, dos EUA, reconheceu recentemente em uma entrevista que “Guaido é presidente interino mas é Maduro que segue exercendo o poder”.
Os ataques ao sistema elétrico da Venezuela, que deixaram a população por mais de 15 dias sem luz no mês de março, não tiveram as consequências que a oposição chegou a imaginar. Esperava-se gerar desordem, ódio e confusão na sociedade venezuelana afim de criar as condições para uma revolta, mas o que se viu foram grandes demonstrações de espírito de solidariedade. Queriam gerar o ódio, mas a maioria esmagadora dos venezuelanos optou pela empatia. As feridas das guarimbas (manifestações violentas), promovidas pelos movimentos da direita radical venezuelana, ainda estão bastante vivas no imaginário dos venezuelanos. Ficou parecendo que a sociedade não buscava um outro período tão violento como esse, quando o fascismo se expressou de forma nua e crua matando mais de 130 pessoas só no ano de 2017.
A “etapa final” da chamada “Operación Libertad”, convocada por Juan Guaidó no fatídico dia 30 abril, acabou resultando em um fiasco e em posições contraditórias dentro do governo de Donald Trump que foi obrigado a recuar com seu habitual discurso de guerra.
O esperado apoio diplomático não chegou do Grupo de Lima, nem da ONU e nem da OEA. Guaidó teve apoio, mas não foi capaz de chegar a um consenso nem mesmo com os próprios líderes da direita latino-americana sobre uma invasão ao território venezuelano.
O apoio convicto dos EUA tampouco chegou. Apesar de possuir um discurso fortemente belicoso, Donald Trump é, acima de tudo, um homem de negócios e utiliza do poder do Exército norte-americano para pressionar politicamente seus adversários políticos. Trump é um seguidor de Chalmers Johnson, ex-funcionário da CIA, quem afirma que a política imperialista dos EUA o expõe a perigosas repercussões, gerando um ressentimento que é contraproducente. Ao afirmar que o seu assessor de Segurança Nacional, John Bolton, está buscando envolvê-lo em guerras, Trump deixou claro a sua insatisfação e demonstrou não estar convencido da necessidade de uma guerra nesse momento, uma vez que o ano de 2020 será de eleições presidenciais e isso poderia contribuir para diminuir ainda mais sua popularidade.
Depois de ferir a Constituição autodeclarando-se presidente da Venezuela, incitando a violência e tentando realizar um golpe político assediando as forças armadas contra um governo democraticamente eleito, Juan Guaidó ficou exposto a uma realidade bastante delicada e só não está preso pois o governo de Nicolás Maduro está fazendo o possível para não utilizar essa carta nesse momento, sob pena de sofrer ataques, ameaças e sanções ainda mais fortes dos EUA. Guaidó se vê agora sem peças fortes para manipular no tabuleiro de xadrez. Está cada vez mais desidratado, tendo diminuída a sua capacidade de convencimento e mobilização. Restou buscar apoio na Noruega, país que se posicionou contra a posição da União Europeia, não reconhecendo Juan Guaidó como o presidente legítimo da República Bolivariana da Venezuela.
*Caio Clímaco é cientista do Estado e mestrando pela Universidad Bolivariana de Venezuela (UBV).
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Guaidó se vê agora sem peças fortes para manipular no tabuleiro de xadrez