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Análise

Os discursos de Bolsonaro, Trump e Xi Jinping: embuste, arrogância e esperança

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Deu-se a palavra ao primeiro orador que a tradição indicava, o presidente do Brasil, Bolsonaro, e o esperado espetáculo murchou

Haroldo Lima

Rio de Janeiro (Brasil)
2020-09-24T17:00:00.000Z

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O momento era para algo esplendoroso, marcante, definidor. Afinal, celebravam-se os 75 anos da ONU, uma instituição criada depois da vitória grandiosa dos povos contra o nazifascismo em 1945. 

O ambiente geral, contudo, era taciturno, melancólico. A pandemia do coronavírus enfeitava o ambiente de cuidados e ameaças em que o presencial fascinante de autoridades do mundo inteiro desfilando pelos corredores cedia lugar a espaços vazios, à mídia eletrônica que tomava os lugares dos líderes.

De qualquer maneira, tudo foi arranjado para que aquele instante fosse sublimado por discursos imponentes, bem construídos e bem ditos que apareceriam em imagens para o mundo inteiro. O vasto e requintado auditório onde confortavelmente cabiam 2.000 pessoas era espaçadamente ocupado por 200 funcionários, nenhum dos quais da primeira divisão. De qualquer maneira, tudo pronto, os aparelhos foram ligados, homens apareceram em telas, o espetáculo ia começar. Deu-se a palavra ao primeiro orador que a tradição indicava, o presidente do Brasil, Bolsonaro. E o esperado espetáculo murchou. 

Não interpreta papéis centrais quem nunca teve traquejo para isso. O velho baixo-clero da Câmara dos Deputados do Brasil nunca foi de alçar voos mais altos. Não gosta, nem tem jeito para isto. E o espetáculo murcho foi se transformando em uma lástima, na forma e no conteúdo. 

Na forma porque não é para qualquer um apresentar-se descontraído, transmitindo empatia. E o orador assemelhava-se a um ser frio, de porcelana, todo abotoado, programado, aparentemente zangado, chateado, talvez por não ter o que dizer. O traço humano da descontração, do olhar envolvente, da espontaneidade, do sorriso, não existia. Mas isto não foi o pior. 

Pior foi o conteúdo. Aí passou a ideia de um desastre, pelo que disse, pelo que não disse e por ser uma espécie de tragédia recorrente. Sim, porque, há um ano, o mundo e o Brasil ficaram em total desconforto ante discurso semelhante, no mesmo lugar, na mesma situação.

Grande mal estar causou a forma afrontosa com que o presidente do Brasil apresentava em cores róseas a situação dramática de nosso país. É que as cores róseas eram falsas, mentirosas.

Sublimando o ridículo, Bolsonaro vangloriou-se do desastroso procedimento que teve frente à pandemia, soltou rojões ante o descalabro dos incêndios nas florestas que cresceram com seus incentivos aos destruidores das matas. Sem a menor vergonha, jogou nas costas dos índios e dos caboclos a responsabilidade pelo fogo. 

Dados foram forjados, argumentos falsificados, realidades inventadas, tal foi o discurso de Bolsonaro, como já mostraram quase todos os órgãos de imprensa. 

Enfim, o primeiro discurso de abertura da 75ª Assembleia da ONU foi um embuste.

Reprodução
O momento era para algo esplendoroso, marcante, definidor. Afinal, celebravam-se os 75 anos da ONU

Aí começou o segundo discurso, muito esperado porque seria o de Trump, o presidente da hoje segunda maior potência econômica do mundo, os Estados Unidos.

Trump se exibiu como ele é, fanfarrão, arrogante, ameaçador, desrespeitoso.

O mundo está aturdido com o avanço, ainda não controlado, do coronavírus e com quedas monumentais da economia dos diferentes países. Aquela assembleia esperava ouvir do presidente norte-americano uma orientação, como ficariam os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Haveria paz para os povos poderem encontrar as sendas das suas retomadas desenvolvimentistas?  Ou o espectro de conflitos e guerra voltaria?   

Trump, logo de saída, disse a que veio: será necessário responsabilizar a China pela pandemia da coronavírus. O grande país asiático, na sua visão exótica e alucinada, é o responsável pela pandemia e outros graves problemas, é quem controla a Organização Mundial da Saúde e precisa, repete ele, ser responsabilizado.  Seus projetos em defesa do meio ambiente e reflorestamentos, suas realizações ecológicas numerosas, não valem nada, segundo o milionário Trump. Nessa linha de apresentar fatos invertidos diz, com a maior desfaçatez, que seu país, a nação mais guerreira do mundo, é líder de direitos humanos. 

Finalmente, o presidente norte-americano expressou de forma lapidar a sua visão beligerante do futuro: diz estar trabalhando para a paz, e acrescenta, mas a paz pela força. E ilustra esse raciocínio ameaçador dizendo, temos níveis avançados de armamento e rezo a Deus para que não tenhamos que usá-los. Em síntese, Trump foi a expressão lapidar da arrogância, causou asco. 

Pouco depois desse começo desastroso, passou-se a palavra ao presidente da China, Xi Jinping. Começava a falar para 193 países representados na ONU aquele que já agora está à frente da maior potência econômica do mundo, sim, porque, como mostrou recentemente o professor Luiz Fernandes da UFRJ, baseado em dados do FMI, a China em 2019, pela Paridade do Poder de Compra, o PPC, chegou a 19,3% do PIB mundial, enquanto os Estados Unidos ficaram com 15,1%. 

Diferentemente dos dois tresloucados que falaram antes, mentindo e ameaçando, o presidente Xi Jinping começou falando da importância da luta contra a pandemia, que deve ser travada com base na ciência e na qual a humanidade sairá vencedora. Nessa luta, afirmou Xi, é preciso levar em conta, em primeiro lugar, pessoas e vida, é preciso aumentar a solidariedade e nos unirmos. Disse ser necessário rejeitar a politização da pandemia e a estigmatização. 

Todo o discurso de Xi foi levantando perspectivas positivas para a humanidade. Restaurar a economia, em particular nos países em desenvolvimento, buscar o desenvolvimento sustentável, que passa a prazo curto pela descoberta da vacina contra a pandemia, que, se descoberta pela China, será compartilhada com os países em desenvolvimento. 

O presidente chinês fez apreciações globais. Disse que vivemos em uma vila mundial, onde devemos abraçar a visão de comunidade e rejeitar a divisão; que, comprometidos com esses propósitos, devemos respeitar a independência dos países. Enfatizou: o mundo é diverso e devemos usar essa diversidade como inspiração para melhorar a condição humana; e mais, é preciso defender o desenvolvimento inclusivo, o combate ao unilateralismo, e concluiu salientando ser preciso fazer uma revolução verde, fazer da terra um lugar melhor para se viver. Precisamos, disse ele, cuidar da mãe natureza, onde todos devem ter mesmos direitos e respeitar mesmas regras. 

Nessa linha de raciocínio, Xi apontou para a importância de se erradicar a pobreza e concluiu afirmando não querer guerra fria nem de qualquer natureza, queremos diálogo, paz mundial e leis internacionais. 

Em suas palavras finais, disse que um bastão da história foi passado para nossa geração, e que juntos poderemos fazer do mundo um lugar melhor para todos. 

Xi Jinping levantou a bandeira da esperança, falou de paz, solidariedade, diálogo, de revolução verde, de desenvolvimento sustentável. Salvou a abertura da assembleia 75ª Assembleia Geral da ONU.

*Haroldo Lima é da Comissão Política Nacional do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil

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Política e Economia

Argentina promulga lei que regula cannabis medicinal e cânhamo industrial

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'Um triunfo da sociedade contra a hipocrisia', assegurou o presidente Alberto Fernández sobre a nova legislação

Fernanda Paixão

Brasil de Fato Brasil de Fato

Buenos Aires (Argentina)
2022-05-27T21:20:00.000Z

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Nesta sexta-feira (27/05), o governo argentino promulgou oficialmente a lei 27.669 que regulariza a cannabis medicinal e o cânhamo industrial no país, conforme publicado no Boletim Oficial. A nova legislação estabelece a criação da Agência Reguladora da Indústria do Cânhamo e da Cannabis Medicinal (Ariccame) e será responsável por "regulamentar, controlar e emitir as autorizações administrativas com respeito ao uso de sementes da planta de cannabis, da cannabis e seus produtos derivados".

A Lei do Marco Regulatório para o Desenvolvimento da Indústria da Cannabis Medicinal e o Cânhamo Industrial também prevê a criação do Conselho Federal para o Desenvolvimento da Indústria do Cânhamo e Cannabis Medicinal, que contará com um representante do governo nacional e um por cada província do país. O já existente Instituto Nacional de Sementes (Inase) ditará as normas complementares.

"Este é um passo para o acesso ao direito à saúde", alegou o presidente Alberto Fernández durante o ato de promulgação da lei na última terça-feira (24/05) na Casa Rosada, sede do governo argentino. "Começamos a escutar as mães que, com a cannabis, faziam com que seus filhos pudessem ter uma vida melhor. Começamos a prestar atenção e hoje estamos ganhando uma batalha contra a hipocrisia", disse o mandatário.

"Por trás dessa lei, há uma indústria que produz, que dá trabalho, que trará dólares mas que, fundamentalmente, cure", agregou o presidente.

Também presente na cerimônia, o ministro de Ciência e Tecnologia, Daniel Filmus, ressaltou que a lei representa uma alternativa produtiva, e estima que levará à criação de pelo menos 10 mil postos de trabalho em três anos.

Twitter/Alberto Fernández
'Este é um passo para o acesso ao direito à saúde', alegou o presidente Alberto Fernández

Luta das mães contra o tabu da cannabis

O projeto de lei foi aprovado no dia 5 de maio na Câmara dos Deputados, com 155 votos a favor e apenas 56 contra. O projeto define um marco legal para o investimento público e privado em toda a cadeia da cannabis medicinal e do cânhamo industrial.

A conquista de uma lei para regularizar o uso medicinal da maconha foi resultado da luta de mães cujos filhos padecem alguma doença tratável com cannabis. Diante do tabu e da penalização sobre o cultivo e o uso da maconha, essas mães conformaram uma rede de troca de conhecimentos e produtos para o tratamento de seus filhos. A organização Mamá Cultiva esteve na linha de frente dessa militância.

O cânhamo, apesar de altamente estratégico industrialmente, também padece do tabu por ser também uma planta da família Cannabis. Neste caso, consiste em uma variedade da planta, a espécie Cannabis ruderalis, cujas fibras possuem alto valor industrial, sendo matéria-prima sustentável para a produção têxtil, como algodão, de alimentos, remédios, produtos de beleza e óleos.

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