Numa semana em que o tempo acelerou, um “pequeno” acontecimento passou batido na grande mídia, embora tenha agitado a comunidade acadêmica.
Benedito Aguiar, presbiteriano, ex-reitor do Mackenzie e, portanto, colega do ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi abrupta e inexplicavelmente substituído na presidência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela advogada e dona de um instituição de ensino no interior paulista, Claudia Queda de Toledo, até agora ilustre desconhecida nos meios acadêmicos.
Não que a comunidade acadêmica estivesse particularmente contemplada pelo agora ex-presidente de fé criacionista. Mas, como o Brasil atual não se cansa de demonstrar, nunca se deve dizer que pior do que está não pode ficar.
Parêntesis para dizer que, neste caso, não se culpe a grande imprensa por não dar destaque ao tema. Afinal a semana teve notícias para todos os quadrantes.
O Supremo Achincalhe Nacional ratificou por 8 votos a 3 a decisão monocrática (linda palavra) do senhor Fachin, que concluiu que o juizado de Curitiba não tinha legitimidade para julgar, prender e suspender os direitos políticos do ex-presidente Lula, impondo assim ao Brasil, e ao mundo, o desastre sanitário, econômico, ambiental e civilizatório chamada Bolsonaro.
Tanto os felizes quanto os que rangem os dentes podem perguntar por que cinco anos depois? E a única e óbvia resposta, que é a revelação da escandalosa conspiração judiciária envolvendo a participação direta de órgãos e interesses estrangeiros, sequer foi mencionada formalmente na decisão.
Reprodução
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, e a nova presidente do Capes, Claudia Mansani Queda de Toledo
A imprensa também esteve ocupada, e com razão, com o fato de que, pela primeira vez em décadas, mais da metade da população está sofrendo de insegurança alimentar, conceito importante, mas também eufemismo para a velha e conhecida fome. Sim, caro leitor, um em cada dois brasileiros, fora da nossa bolha, tem convivido com a fome. Diária, aviltante e desesperadora.
Também estivemos informados de mais um lance de brilhantismo estratégico. Às vésperas de uma cúpula do clima e esperando alguma grana do novo governo norte-americano para disfarçar o armagedon amazônico, o Brasil assiste ao inaudito episódio de um diretor da Polícia Federal denunciando o ministro do Meio Ambiente, aquele da boiada, por defender o desmatamento ilegal. E a resposta é a demissão imediata… do policial.
Nem falei nos números da covid-19, aqueles a quem ninguém mais presta atenção, e já ficou claro que a substituição da presidência da CAPES não justificava grandes manchetes.
Mas merecia mais atenção do que teve. Afinal, acabamos de entregar a presidência do órgão encarregado da formação de pesquisadores e docentes do ensino superior a quem não tem a menor ideia do que seja isso, como demonstra seu currículo, disponível ao público.
Anísio Teixeira, que teve o cinquentenário de sua morte física relembrado semanas atrás, foi assassinado mais uma vez, como tem sido reiteradamente desde a eleição, com apoio de nossas mal chamadas “elites”, do pesadelo fundamentalista, corrupto e genocida.
(*) Carlos Ferreira Martins ´é professor titular do IAU USP São Carlos