A Capes (Coordenação do Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior), responsável pela avaliação e apoio à pós-graduação no país, não é o único órgão da área de educação que tem sofrido ataques nos últimos seis anos, mas em 2021 ocupou um lugar de destaque no processo de desmoralização e desmonte do patrimônio nacional construído ao longo das últimas sete décadas.
Menos visível para a maioria da população que o projeto de venda na “bacia das almas” de patrimônios nacionais como a Petrobrás, a Eletrobrás, a Amazônia ou a maior reserva de água potável do planeta, a destruição desse patrimônio não terá menor impacto deletério sobre o futuro da nação.
A Capes, mais uma das contribuições do grande educador Anísio Teixeira, seu primeiro secretário executivo, foi criada, em 1951, como parte do esforço de sintonizar o país com o reconhecimento da ciência e da tecnologia como fatores estratégicos de desenvolvimento e soberania pelas principais potências emergentes da guerra.
Nesse ano, foram criados a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e o CNPq, órgão responsável pelo estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico do país, emulado na poderosa NSF (National Science Foundation) dos EUA e na reorganização do francês CNRS (Centre Nationale de la Recherche Scientifique).
A Capes surge a partir da compreensão de que o desenvolvimento científico e tecnológico passava necessariamente pelo aperfeiçoamento da qualificação dos docentes do ensino superior. Esse objetivo permanece expresso no nome completo do órgão, mesmo quando o governo Lula, em 2007, incluiu entre seus objetivos a indução e fomento ao ensino básico.
Mesmo durante o regime militar, a Capes continuou importante e fortalecida, tendo sido chamada a elaborar o I PNPG – Plano Nacional de Pós-Graduação, em 1981.
Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
Em 2021, a Capes ocupou um lugar de destaque no processo de desmoralização e desmonte do país
Antes do atual desgoverno, ela foi atacada em março de 1990, quando um decreto do governo Collor a extinguiu para, diante da forte reação, anular a decisão um mês depois.
Sofrendo desde o governo Temer pela asfixia do orçamento e consequente diminuição do número de bolsas, ao menos o sistema de avaliação dos programas de pós-graduação vinha sendo mantido até o início deste ano, quando se confirmou que no governo do genocida nada está tão mal que não possa piorar.
Milton Ribeiro, que assumiu o Ministério da Educação, depois dos exuberantes Veléz Rodrigues e Abrahan Weintraub, logo se revelou ligeiramente evangélico, fortemente privatista e tremendamente descomprometido com a qualidade e o caráter público da educação.
Da indicação para a Presidência da Capes da dona da obscura Faculdade de Direito em que ele próprio se formou, à indicação de uma aluna da mesma escola, sem sequer o título de doutor, para a estratégica diretoria de Relações Internacionais, Milton Ribeiro, o demolidor discreto, vem sendo mais efetivo na parte que lhe cabe do projeto fazendão do que seus histriônicos antecessores.
É um alerta a isso a renúncia coletiva de 52 pesquisadores da área de Ciências Exatas há uma semana, em protesto declarado contra a falta de defesa da instituição e a pressão para abrir a porteira da aprovação do ensino à distância na pós-graduação, sonho de consumo dos grandes grupos financeiros que operam na área da educação.
Porque no projeto do fazendão brasílis não há necessidade de conhecimento autônomo. Basta aprender inglês e ler os manuais de instruções do agro-pop e da mineração em terra indígena.