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Análise

Por que a Argentina e o Panamá estão em crise

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Nos dois países, dolarização ata as mãos dos governos. Em Buenos Aires, presidente não ousa contestar a dívida, nem garantir condições dignas de vida. No Panamá, que já nem tem moeda própria, governo insiste em 'gestão de privilégios'

Bruno Beaklini

Monitor do Oriente Médio Monitor do Oriente Médio

2022-07-31T13:34:49.000Z

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Ao contrário do que costumamos publicar neste portal, este artigo não será nem de análise de conjuntura, nem histórico. Dadas as condições de permanência em nossa América Latina, nos cabe ver a dependência estruturante do século XXI e, modestamente, apontar caminhos para sair dessas armadilhas. 

Comecemos por nós mesmos. Esta publicação se dedica aos temas do Oriente Médio, do Mundo Árabe e dos países de maioria islâmica. Nos países latino-americanos, em maior ou menor proporção, havendo colônias dos distintos territórios do Bilad al-Sham, todas e todos nós descendentes de libaneses, sírios  e palestinos, somos socialmente brancos e podemos estar aculturados e, portanto, ocidentalizados. Logo, carregamos na interna da colônia uma versão imigrante do “criollismo da era da independência”. 

Diante da ordem pós-colonial, as sociedades concretas recém libertadas do jugo espanhol e português promoveram como “brancos do Novo Mundo” as elites oligárquicas donas de terra. Essa formação de riquezas se deu com o roubo dos povos originários na forma de acumulação selvagem, sendo a selvageria europeia diante da espoliação da população nativa. Qualquer semelhança com o Estado artificial sionista criado por europeus na Cananeia dos Filisteus não é nenhuma coincidência.

Assim, nossos setores mais ativos, tomando como exemplo a própria Argentina, geraram vergonhosos traidores como Carlos Saul Menem e Alfredo Yabrán. A terra de María Eva Duarte (Evita) também nos deu shaheeds de dois mundos como Envar El-Kadri, fedayí, nos cedros e na pampa. Representando a segunda geração militante, tivemos a legendária família Haidar (Ricardo, Mirta e Adriana), incorporando a alma de leoas na forma de jaguares em plena rebelião Montonera.

Infelizmente, a passagem de gerações nos fez de parte da classe trabalhadora de origem imigrante para uma parcela da elite eurocêntrica, lócus sociológico onde também se encontram outras colônias não europeias, como a nipônica. É essa a constância da formação social concreta dos países latino-americanos. Em maior ou menor escala, a classe dominante se mescla com a elite dirigente, se subordinam ao controle do sistema financeiro (nacional e transnacional) e com alguns setores estamentais (como os militares de alta patente), além de se comportarem como oligarcas latifundiários ou, quando muito, feitores dos desmandos especulativos.

A desindustrialização gera mais dependência externa

Evidente que cada país moderno na América Latina tem sua própria conformação e os subsistemas regionais – Cone Sul, Zona Andina, Centro América, Caribe e Antilhas, México, Brasil, Amazônia Sul-Americana – falam muito das correlações de força e a presença ou não de tropas estadunidenses (caso colombiano). Ainda com o subdesenvolvimento diversificado, alguns traços são comuns.

Nossas moedas perdem valor muito rapidamente, e uma parcela dessa responsabilidade está no fato de que o dinheiro local pode ser substituído como reserva de valor e unidade contábil. Assim, a dolarização interna deforma preços e ataca o valor real das reservas nacionais. Uma parcela dos produtores de commodities agrícolas estocam para especulação e outra parcela dessa produção gera termos de troca desvantajosos para o país.

Vejamos o exemplo da Argentina. Até o fechamento deste artigo, o governo Alberto Hernández estava montando um pacote para controlar a especulação interna e, ao menos, garantir tanto o abastecimento de produtos essenciais como o básico de ingressos para a maioria ter renda de sobrevivência. De sua parte, a oligarquia e o conjunto dos grupos de comunicação de envergadura nacional (exceção aos canais esportivos, públicos e a rede C5N) fica pregando que a “intervenção do Estado na economia” vai gerar ainda mais crise.

Os números são aterrorizantes. Com o investimento de 0,3% do PIB argentino acaba a extrema pobreza em seis meses. A produção agrícola vem estocando um valor total de 20 bilhões de dólares, a economia do contrabando ultrapassa 2 bilhões de USD e a perda de riqueza do país ultrapassa os USD 54 bilhões. Tal como no Brasil, o Tesouro financia as safras, as vendas são dolarizadas, é baixa a tributação e parte do valor pago pela Fazenda Nacional se transforma em transferência de renda transnacional, devido ao pagamento de royalties para transgênicos e taxas de importação para fertilizantes e demais insumos.

Parece uma volta no tempo, mas em condições piores. Quando da grande depressão do século XX, quase todos os países latino-americanos e com especial ênfase de Brasil, Argentina, Chile e Uruguai, fizeram uma opção. Industrializar para substituir importações. Uma das maneiras de sustentar essa virada estratégica era a emissão e endividamento do Estado. Outra era a conversão de excedentes. Fechar no azul com exportações primárias e investir pesado em indústrias e no setor de desenvolvimento e pesquisa. Para este segundo operar, é preciso uma massa de juventude estudantil, da pré-escola à pós-graduação, para garantir uma sociedade civil com vocação científica e laica.

Com a primeira década perdida da dívida (anos 1980) e a segunda ruína (anos 1990), a guinada neoliberal pós ditaduras seguia o péssimo exemplo do Chile. Quando o tirano Augusto Pinochet encabeçou um golpe de Estado, em 11 de setembro de 1973, a massa trabalhadora chilena era composta por mais de 48% de emprego industrial. Em 1990, quando o operador da CIA deixa o Palacio de La Moneda, a terra de Lautaro seguia mineral exportadora, mas sem indústrias quase. Na Argentina passou o mesmo, e esta tendência segue no Continente.

Com a formação de preços agrícolas baseados em especulação estrangeira, a exemplo do que ocorre com o petróleo e o absurdo índice Brent, temos o seguinte paradoxo. O Brasil, por exemplo, produz alimentos para quase 1 bilhão de seres humanos, mas tem mais de 125 milhões com insegurança alimentar e 33 milhões na extrema pobreza passando fome. A Argentina produz para mais de 600 milhões, mas ao menos 11 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Na prática, a agricultura de intensidade é transnacional, e o entreguismo ganha força subsidiando o espólio nacional.

Outro problema grave é o abandono da própria moeda e o emprego do dólar como sistema de trocas e reserva de valor, ainda que no caso panamenho, conviva com o balboa como unidade contábil. O Panamá poderia coordenar o comércio Interamericano, mas depende de tributar a navegação pelo canal e incentiva a especulação imobiliária sem dó. Segue com o drama de condenar à fome a população periférica urbana (na Cidade do Panamá e em Colón, por exemplo), assim como faz com a população indígena, herdeira de Victoriano Lorenzo e da guerra territorial de 1925 (a Revolução Cuna).

As condições da revolta são permanentes em ambos os países: pobreza, inflação, fome, endividamento externo, economia dolarizada, repressão sistêmica, especulação de terras ancestrais e a sensação permanente de que o governo nacional ou é um gestor de privilégios e dependência externa (caso panamenho), ou não arrisca o necessário para ao menos garantir as condições básicas de vida (atual caso argentino).

O país de Rodolfo Walsh é um exemplo gritante: 114 mil argentinos têm mais de um milhão de USD e subordinam internamente a mais de 40 milhões. A disparada do dólar paralelo esvazia as reservas internacionais e faz a alegria macabra do FMI, que exige o cumprimento do absurdo acordo de endividamento assinado por Mauricio Macri no governo anterior. Tal como no Panamá, apenas o movimento social organizado e em luta consegue impor as condições ao governo nacional e colocar contra a parede os oligarcas e traidores de seu povo.

Esse texto demonstra o óbvio. Quando a teoria parece um panfleto, é porque a transformação concreta da realidade é urgente.

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Meio Ambiente

Desmatamento na Amazônia Legal é o maior em 15 anos, aponta Imazon

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De agosto de 2021 a julho de 2022 foi destruída uma área equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-08-17T22:12:00.000Z

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Nos últimos 12 meses, a Amazônia Legal teve o maior índice de desmatamento em 15 anos. De agosto de 2021 a julho de 2022, foram derrubados 10.781 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo e 3% a mais do que nos 12 meses diretamente anteriores. Os dados, divulgados nesta quarta-feira (17/08), são do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

É a segunda vez consecutiva em que o desmatamento na região ultrapassa os 10 mil quilômetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários (ou seja, de agosto a julho) chegaram a 21.257 quilômetros quadrados, quase o tamanho do estado do Sergipe.

Ao analisar apenas o desmatamento em 2022, o índice de destruição é ainda maior. No período de janeiro a julho, a área de floresta perdida cresceu 7% em relação a 2021, passando de 6.109 quilômetros quadrados para 6.528 quilômetros quadrados. Isso significa que, somente em 2022, a região já teve destruída uma área de aproximadamente cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. E esse também foi o maior desmatamento para o período dos últimos 15 anos.

"O aumento do desmatamento ameaça diretamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazônia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono em um período de crise climática. Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões, fenômenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades", alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Pará no topo do ranking de desmatamento

Levando em conta o desmatamento ocorrido nos últimos 12 meses, 36% ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde se concentram 32 municípios na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia. Nessa área, há um processo de expansão do agronegócio, que derrubou quase 4 mil quilômetros de florestas entre agosto de 2021 e julho de 2022. A destruição na Amacro também atingiu o maior patamar dos últimos 15 anos para o período, com alta de 29%.

O Pará é o estado que mais desmata na Amazônia Legal. Nos últimos 12 meses, foram derrubados 3.858 quilômetros quadrados de floresta -  36% do destruído na Amazônia. A segunda maior área desmatada no período foi registrada no Amazonas: 2.738 km² (25%).

O que é a Amazônia Legal

A Amazônia Legal é um conceito criado ainda na década de 1950 para promover uma agenda de desenvolvimento para a região. Sua delimitação não é baseada exclusivamente na vegetação, mas inclui conceitos geopolíticos. Por isso que, além da Floresta Amazônica, há uma parte de Cerrado e do Pantanal em seu mapa.2:42

Segundo dados atualizados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região tem uma área de 5,2 milhões de km², o que corresponde a 59% do território brasileiro. Ela engloba os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima,Tocantins e parte do Maranhão, onde vivem atualmente cerca de 28 milhões de habitantes.

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