Essa foi a campanha de importantes parcelas da população norte-americana, das quais os movimentos contra a violência racial e as estrelas da NBA foram, talvez, as de maior repercussão mediática.
O apelo direto não era para votar neste ou naquele candidato, embora no peculiar sistema eleitoral norte-americano isso pudesse estar implícito. Tratava-se, acima de tudo, de um apelo contra o absenteísmo que, mais do que o desinteresse do eleitor, é o resultado de um conjunto de ações e políticas que os norte-americanos chamam de supressão do voto.
A eleição norte-americana, diferente da nossa, se realiza num dia de semana e as empresas não têm obrigação de liberar trabalhadores para votar. Cada Estado pode exigir documentos ou condições que eleitores pobres têm mais dificuldade de obter e assim por diante.
Mas os norte-americanos já votaram. E hoje somos nós, brasileiros, que devemos decidir o executivo e o legislativo da âmbito mais próximo de nossas vidas cotidianas, o município.
E aqui também cabe pedir que se vote. Particularmente numa eleição em que a tendência ao não comparecimento ou ao voto nulo e branco provavelmente será ainda maior que nas anteriores. Por conta da pandemia, de uma legislação que restringiu muito a campanha eleitoral ou simplesmente pelo desalento frente a mensagens que pouco parecem dizer aos nossos interesses do dia a dia.
Mas é preciso votar. Por quê?
Por um conjunto de razões. Primeiro porque só os mais velhos lembrarão de um longo período da vida brasileira, até 1985, em que não tínhamos esse direito. E ele não veio de graça. Eu mesmo levei um par de cassetetes na cabeça por pedir o direito de votar.
Talquei, diria o celerado, e o que é que eu tenho a ver com isso?
Você, especialmente o mais jovem, que não apanhou pelo direito de votar, precisa saber que o SUS, que não é perfeito, mas atende você sem endividá-lo para o resto da vida, só existiu até hoje porque conquistamos o direito de votar.
Que a universidade pública, que pode ainda ser elitista, mas se abre progressivamente para os alunos da escola pública, para os pretos, pardos e indígenas, também só existe, ainda, porque conquistamos o direito de votar.
E você sabe que o SUS, assim como a escola pública, assim como tantos outros direitos, estão hoje ameaçados.
Então, vote! Em quem quiser, claro. Mas dê preferência a quem defende o SUS, a escola pública, o meio ambiente, o respeito à diversidade e o seu direito a participar ativamente da vida da sociedade. Esses candidatos existem, para prefeito e vereador.
Boa escolha.
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Os norte-americanos já votaram. E hoje somos nós, brasileiros, que devemos decidir
*Carlos Ferreira Martins ´é professor titular do IAU USP São Carlos