À espera do encontro com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que pode ocorrer hoje (3) em Washington, o presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, aguarda decisão dos Estados Unidos com relação a um possível corte formal da ajuda econômica fornecida a Honduras. Enquanto isso, a situação do país caribenho continua indefinida.
“Depois que Zelaya pôs um pé do outro lado da fronteira, mas não quis colocar o outro, as coisas mudaram bastante”, afirma Gilda Silvestrucci, jornalista e analista política hondurenha.
Ela diz que desde que Hugo Lorems, o embaixador dos Estados Unidos em Honduras, foi à Nicarágua e se reuniu com Zelaya, em 29 de julho, o presidente deposto parece “seguir instruções dos norte-americanos”. Após o encontro, Zelaya pediu publicamente aos Estados Unidos a adoção de medidas mais consistentes contra os golpistas.
Circulam notícias de que dois aviões militares norte-americanos com 600 homens a bordo chegaram à base aérea de Palmerola, em território hondurenho, há duas semanas. A informação oficial é de que os militares só foram enviados por segurança.
Nesta semana, Zelaya declarou à emissora hondurenha Radio Globo que os militares “fizeram o negócio do século com o golpe de Estado”, já que o Poder Executivo lhes havia concedido uma verba de 96 milhões de lempiras (cerca de 5 milhões de dólares) para a realização do referendo, poucos dias antes de sua derrubada. Ele diz que ninguém explica aonde foi parar o dinheiro, presumivelmente usado para o próprio golpe.
Pessoas muito próximas a Zelaya mostram-se confiantes, enquanto representantes das igrejas Católica e Evangélica, alguns empresários e organizações não-governamentais mudam de opinião sobre Roberto Micheletti: começam a chamá-lo de presidente de fato – ao invés de golpista – ou então se dizem favoráveis ao acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Árias, mediador do conflito.
Roberto Micheletti, por sua vez, concedeu uma entrevista ao jornalista mexicano Jorge Ramos na qual afirma que não negociará nenhuma transferência de poder e continuará no cargo até 27 de janeiro, data da sucessão presidencial.
Muitos acreditam, no entanto, que Micheletti gostaria de renunciar e deixar o país, “mas os militares não deixam”, afirma Sivestrucci. “Se Zelaya entrasse [no país], eles teriam de dar explicações sobre o dinheiro que lhes foi destinado. Além disso, eles são o braço sujo dos oligarcas. E os militares, antes do golpe, não tinham muito poder. Como as pessoas dizem por aqui, o que os militares faziam era cuidar das florestas”, defende.
Segundo a analista, Micheletti parece não ter intenção de se perpetuar no cargo e está perdendo muito apoio popular. Os que marcham em favor do governo muitas vezes são obrigados a participar. Além disso, o líder do governo golpista vem demonstrando impulsividade e tem uma péssima imagem diante da imprensa internacional e dos representantes de organismos estrangeiros em Honduras.
Certamente, para Micheletti e seus aliados, a saída mais vitoriosa seria a eleição de novembro. Isso porque, se ela ocorrer, o candidato com mais chances de ganhar será Porfirio Lobo Sosa (Pepe Lobo), do Partido Nacional. Por trás dele está o grupo de empresários que patrocina o golpe.
“A oligarquia, no fim das contas, se sairia bem, continuaria na mesma situação – mas com outra cara, nada simpática, de certo”, afirma Sivestrucci.
Por parte da resistência tem ocorrido alguns fenômenos políticos interessantes. De um lado, começa-se a falar de bombas e atentados, mas as organizações sociais afirmam que os próprios militares os levam a cabo, para depois justificar desaparecimentos forçados.
A resistência ao golpe, de todo modo, cresceu. “Agora, os grupos estão mais bem organizados e, quando se fala com eles, percebe-se um movimento que já não está preocupado com o retorno de Zelaya. Neste momento, interessa a eles instalar uma Assembleia Nacional Constituinte, porque percebem a situação das eleições, nas quais o ganhador seria Pepe Lobo, que continuaria a mesma política empresarial”, diz a analista Gilda Silvestrucci. “Eles falam em se organizar no âmbito centro-americano, uma espécie de guerrilha que se fortaleceria e cujo principal objetivo, a curto prazo, seria boicotar as eleições de novembro”.
E, ao que parece, a Resistência está promovendo intensivamente a esposa de Zelaya, Xiomara Castro. A ideia é lançá-la como candidata presidencial – não nesta campanha, mas no futuro, como uma opção para a esquerda. Neste momento, o candidato da Resistência é o independente Carlos H. Reyes.
NULL
NULL
NULL