Na cidade de Necaxa, as pessoas se sentem parte de uma comunidade, que compreende também a empresa LyFC (Luz y Fuerza del Centro). “Nós não somos só trabalhadores de uma empresa elétrica”, diz Soledad Ocampo, sindicalista do SME de Necaxa. “Nós moramos e temos vivido e amado esta empresa. Gerações inteiras se formaram, cresceram e se libertaram da pobreza graças à LyFC. Foi o sindicato que construiu as estradas, as infraestruturas, as quadras de futebol, que cuida do transporte dos nossos filhos. E agora não temos mais nada. Por exemplo, perdemos a previdência social. De um dia para o outro, 300 mil pessoas ficaram sem direito à previdência. Há dezenas de mulheres grávidas que não sabem o que fazer. E a lei mexicana impede de demitir grávidas. Além disso, pela primeira vez desde que existe o sindicato, foi celebrada uma missa na sala de assembléias. As pessoas começam a buscar ajuda no espiritual, e embora eu pessoalmente não seja crente, acho que precisamos até de ajuda espiritual da igreja neste momento.”
Cada membro da comunidade tenta contribuir com o que pode para a sede do sindicato, onde foi organizado um refeitório comunitário. Uma vaca foi morta para distribuir refeições de carne para as famílias com mais filhos. “Outro dia, tive uma incrível demonstração de solidariedade”, conta a responsável pelo refeitório, Sandra Paredes. “Uma velhinha que sempre pede esmola em frente ao sindicato, veio com uma bolsinha de tomate e pimentão na mão. Disse para mim que era tudo o que ela tinha, mas que depois de toda a ajuda que nós lhe demos durante anos, pelo menos uma vez ela queria ajudar de volta. Tenho certeza de que aquela senhora tirou sua própria comida para trazer aqui ao refeitório. A situação é muito grave, na verdade”.
Na Cidade de México, os médicos da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) ofereceram assistência médica aos trabalhadores da LyFC e organizaram um centro que distribui 300 refeições por dia. A faculdade de psicologia pôs à disposição atendentes que prestam assistência psicológica aos trabalhadores e a suas famílias e nos espaços da universidade foram organizados shows para arrecadar fundos, com a participação de conhecidos grupos mexicanos, como Café Tacuba e Maldita Vecindad.
Os próprios eletricistas de Necaxa se organizaram para arrecadar fundos de resistência. “Não queremos esmola. Trabalhamos durante toda a vida. Agora vamos nos organizar”, diz Adolfo Garrido, aposentado da LyFC. “Aqui em Necaxa foram formados grupos musicais e de dança de trabalhadores da central, que vão tocar em Puebla e em outras grandes cidades do Estado, para coletar dinheiro e sensibilizar os cidadãos sobre nossa luta, que é a luta de todos os trabalhadores do México”.
A sociedad civil está se mobilizando em apoio às lutas do sindicato mais combativo do país, mas o governo não parece ter intenção de ceder.
Por isso, hoje na capital, na sede do SME, acontece uma asambléia unitária de todos os sindicatos para convocar uma greve geral.
Há todos os elementos para que ocorra um conflito social. Será preciso ver se os líderes do movimento terão vontade política de organizar o povo mexicano em direção a um levante e se saberão entrar em acordo sem continuar se dividindo.
Enquanto isso, a luz é apagada no município de Necaxa e para seus orgulhosos trabalhadores. Esperam-se tempos difícieis na terra da neblina, onde durante décadas a energia elétrica foi um orgulho, um motivo de desenvolvimento e, desde hoje, pelo que parece, será a ruína.
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