Os mexicanos pagarão mais impostos a partir de 2010 para ajudar o país a se recuperar dos pesados efeitos da crise econômica mundial. Trabalhadores fazem as contas de quanto sairá dos seus bolsos e lamentam o fato de serem ainda mais sacrificados.
Uma lei aprovada no último sábado (31) eleva o IVA (Imposto sobre Valor Agregado, aplicado sobre itens de consumo) de 15% para 16% a partir de 1º de janeiro.
Aumenta também ISR (Imposto sobre a Renda) de 28% para 30%, no caso de pessoas físicas assalariadas cuja renda superar os 10,3 mil pesos (cerca de 1,3 mil reais). E não 6,6 mil pesos (cerca de 870 reais), como os deputados haviam proposto originalmente.
Além disso, o IDE (Imposto sobre os Depósitos em Espécie) será elevado de 2% para 3% e será aplicado sobre valores superiores a 15 mil (1,9 mil reais), não mais 25 mil (3,3 mil reais), como é hoje.
Para alimentos e medicamentos, o IVA não aumentou. As imobiliárias ganharam isenção, mas os compradores de residências, não.
Repercussão
Personalidades da Igreja Católica criticaram a medida. “Os pobres ficarão mais pobres e os ricos, mais ricos”, afirmou o vigário geral da Diocese de Ecatepec (Estado do México), Blas Flores Montes. “Espero que o governo tenha consciência e cumpra o prometido pelo presidente Felipe Calderón: que os ricos paguem o que devem pagar e que os pobres, embora também devam pagar, paguem o justo”.
Raúl Martínez, coordenador da Pastoral Social da Província Eclesiástica de Tlalnepantla (Estado do México), disse que a proposta aprovada pela Câmara e pelo Senado aumentará ainda mais o abismo econômico entre pobres e ricos.
“O atual modelo econômico neoliberal, sozinho, já produz mais pobres neste país e concentra a riqueza nas mãos de alguns”, afirmou o religioso. “Neste país já são muitos os que vivem em condições de pobreza. O aumento de encargos sobre produtos de consumo geral obrigará os cidadãos a entregar sua frágil renda”, disse Martínez, acrescentando que o PRI (Partido Revolucionário Institucional) e o PAN (Partido da Ação Nacional) traíram o povo do México e “serão castigados pelo eleitorado em 2012”.
“Sou comerciante e contribuinte, acostumada a fazer contas”, disse Mariana Salcedo, representante de comerciantes de sapatos no Centro do Distrito Federal. “É muito simples. Se antes você ganhava 12 mil pesos (1,58 mil reais) por mês, com o desconto de 28% do ISR lhe sobravam 8.640 pesos (1.138 reais). Agora, com 30%, você receberá 8.400 pesos (1.106 reais), ou seja, 240 pesos (31 reais) a menos”.
“Com a cobrança de 16% de IVA sobre quase todos os produtos de consumo, os 8.400 pesos de salário serão reduzidos para 7.056 pesos (929 reais)”, afirmou. “Deste modo, o governo ficará com quase 5.000 pesos (658 reais) de um cidadão que ganha 12 mil pesos por mês – isso se ele não consumir álcool e não tiver internet, televisão a cabo, celular ou telefone fixo, e não fumar.
Para cada peso que um mexicano ganhar, o governo vai tirar 41,20 centavos. Então, na verdade, você não ganhará um peso, e sim 58,80 centavos. E eles gozam de salários exorbitantes e automóveis luxuosos, além de lhes pagarmos até suas férias caríssimas”, concluiu Mariana Salcedo.
Governo
O governo, por sua vez, garante que o aumento dos impostos não afetará os trabalhadores e servirá para que todos os cidadãos contribuam com o necessário para sair da crise, afirmou José Isabel Trejo Reyes, presidente da Comissão de Fazenda e Crédito Público do Senado.
Também foi aprovada a proposta do PAN e do PRI de que os empresários paguem os impostos devidos em cinco anos: 40% em 2010 e 15% nos quatro anos seguintes.
A oposição e a população, no entanto, acham injusto que os 422 grupos empresariais mais poderosos do país tenham recebido cerca de 5 bilhões de pesos (65 milhões de reais) no ano passado e pagado apenas 1,7% em impostos, enquanto os cidadãos comuns têm de pagar todos os seus tributos.
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