As cidades de Foz do Iguaçu (PR) e de Redenção (CE) vão receber as duas primeiras universidades do Brasil dedicadas especificamente à integração internacional. A tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina vai abrigar a partir de agosto a Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), que teve a lei de sua implantação sancionada na terça-feira (12) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já a cidade cearense, a primeira a abolir a escravidão no Brasil – em 1883, cinco anos antes da Lei Áurea – deverá ser sede da Unilab (Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira), cuja criação ainda depende de aprovação do Congresso.
A Unila abrirá suas primeiras turmas em agosto deste ano, inicialmente com mil vagas e chegando a 10 mil estudantes nos próximos anos – metade brasileiros e metade dos países vizinhos. Dos 500 professores, 250 serão brasileiros concursados e a outra metade será também de docentes visitantes das demais nações do continente. As aulas serão em português e espanhol e os currículos dos cursos serão adequados para serem aceitos em todos os países latino-americanos.
Segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, a prioridade nesse momento é concluir o projeto pedagógico da Unila para que as aulas possam ter início já no segundo semestre. Inicialmente, elas serão ministradas no Parque Tecnológico de Itaipu, até que sede da Unila seja construída em um terreno 389 mil metros quadrados doados pela usina de Itaipu. Segundo Haddad, o edital do projeto executivo para a construção das instalações, a partir de um projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, já está pronto para ser lançado.
O ministro disse que a Unila contemplará quatro grandes eixos: cultura, institucionalização, biociências e integração. Serão oferecidos inicialmente 20 cursos de graduação, com foco específico na integração regional, como os de Sociedade, Estado e Política na América Latina; Relações Internacionais e Integração Regional; História e Direitos Humanos na América Latina; Economia, Integração e Desenvolvimento; Interculturalidade e Integração e Políticas Linguísticas Latino-Americanas e Direito Internacional Comparado, bem como cursos técnicos voltados para áreas de interesse para a integração, como Engenharia Civil com ênfase em infraestrutura e Gestão Integrada de Recursos Hídricos.
O presidente da comissão de implantação da Unila, professor Hélgio Trindade, conta que uma das prioridades da universidade é garantir que não haverá fuga de cérebros e que os egressos levem os conhecimentos adquiridos para os seus países. “Não queremos formar essas pessoas para que elas fiquem no Brasil. Pelo contrário. Por isso, teremos como regra que os trabalhos finais de cada curso serão feitos sobre temas ligados ao país de origem de cada aluno, e ele inclusive fará parte do trabalho no seu país”, explica.
Para o secretário executivo da Associação de Universidades Grupo Montevideo, Álvaro Maglia, a convivência dos estudantes e principalmente a troca de experiências entre professores de todos os países na Unila será um importante laboratório continental para aprofundar a aproximação e o trabalho conjunto entre os países latino-americanos.
A associação de universidades, nascida em 1991 para criar um espaço acadêmico comum para promover a integração, conta hoje com 22 entidades de ensino superior do Brasil (seis federais e três estaduais), Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai. Segundo Maglia, a nova universidade trará uma contribuição fundamental para o desenvolvimento acadêmico conjunto, concentrando e aprofundando o processo já feito pelo próprio Grupo Montevideo de projetos de cooperação e intercâmbio de professores e estudantes.
De acordo com Trindade, o objetivo inicial do Brasil era a criação de uma “Universidade do Mercosul”, com a participação direta de todos os países do bloco, tanto na gestão quanto no financiamento. No entanto, não houve consenso, e por isso o Brasil tomou a iniciativa de implantar sozinho a Unila. Assim, ele vê possibilidade de no futuro se retomar o projeto de uma universidade com participação direta dos países vizinhos, e não apenas dos professores e estudantes.
Lusofonia
Com uma formatação semelhante ao projeto voltado para a America Latina, a Unilab terá também 10 mil estudantes, da mesma maneira divididos igualmente entre brasileiros e estrangeiros. Dos 300 professores, 150 serão preferencialmente dos países parceiros e os demais, brasileiros.
A instituição terá cinco grandes áreas de atuação, com inicialmente um curso de graduação em cada: saúde pública (graduação em Enfermagem), docência (licenciatura em ciências da natureza e Matemática), gestão pública e privada (Administração), desenvolvimento agrário (Agronomia) e energia (Engenharia de energia). O planejamento é ampliar depois para três cursos em cada uma das cinco áreas, bem como para cursos de pós-graduação, desde especialização até doutorado.
O presidente da comissão de implantação da Unilab, Paulo Spelher, diz ao Opera Mundi que, embora o foco esteja principalmente nos países africanos de língua portuguesa, a Unilab está já encaminhando parcerias com países de fora do continente, como Portugal e o território chinês de Macau, bem como com outras nações africanas que não têm o português como primeira língua, como Guiné-Equatorial e Senegal.
Funcionamento
De acordo com Spelher, 5 mil vagas serão oferecidas no programa residencial, com os alunos alojados na própria universidade. As demais vagas serão abertas, com os estudantes podendo fazer parte maior do curso a distância ou em universidades nos seus países de origem.
Ele destacou a importância das parcerias que a Unilab vai fazer com universidades públicas de todos os países que participarem do projeto. Todos os alunos farão uma parte dos estudos no seu país de origem, a princípio um ou dois semestres para estágio final ou trabalho de conclusão. Além disso, explicou Spelher, as universidades locais estão participando da elaboração dos currículos e vão emitir os diplomas junto com a Unilab.
O projeto de lei que cria a Unilab foi aprovado em dezembro na comissão de finanças da Câmara dos Deputados. Spelher espera que ele seja apreciado na comissão de constituição e justiça já em fevereiro, para em seguida ser encaminhado ao plenário. Apesar de depois o projeto ter de passar ainda pelo Senado, o ex-reitor da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) acredita que toda a tramitação no Congresso estará concluída até o final de abril, permitindo que as aulas comecem já em agosto.
Mais informações:
Site Oficial da UNILA
Blog da UNILAB
Grupo Montevidéu
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