Com alta produção de energia mas interrupções diárias no fornecimento, o governo do Paraguai declarou estado de emergência ontem (8) diante da impossibilidade de satisfazer o alto consumo interno. O fator que desencadeou a crise foi a onda de calor, segundo a estatal responsável pela distribuição de eletricidade, a Ande (Administração Nacional de Eletricidade).
A Direção de Meteorologia do país informou que a temperatura tem ultrapassado 40°C diariamente, com sensação térmica de 50°C.
“Há quedas de luz todos os dias e não podemos esperar para solucionar. Vamos resolver o problema com a compra de novos geradores”, declarou o presidente da Ande, Germán Fatecha, em entrevista à BBC Mundo.
Segundo dados da distribuidora, durante os dias de alta temperatura, o consumo elétrico foi superior a todos os registros anteriores. A Direção de Meteorologia explica que o calor, atribuído ao fenômeno El Niño, “obriga a um maior consumo de energia elétrica”.
De acordo com o gerente técnico da Ande, Julio Villordo, o consumo de eletricidade tem superado a capacidade nacional por causa das altas temperaturas. A energia é usada, por exemplo, para o funcionamento de ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. Segundo ele, está havendo cortes do fornecimento de energia de entre 15 e 20 minutos “para evitar o colapso do sistema”.
Estrutura
Apesar de o estopim da crise ser o aumento da demanda com a as ondas de calor, o real motivo “é a falta de linhas de transmissão e distribuição de eletricidade das hidrelétricas até os centros de consumo. A solução é que a demanda e transmissão de energia sejam equiparadas”, disse Fatecha.
Por conta das interrupções na transmissão, que se intensificaram a partir de 2005, as linhas de transmissão do país são frequentemente criticadas pela imprensa local e por especialistas, como o ex-diretor de planejamento da Ande, Ernesto Samaniego. Em entrevista coletiva, ele afirmou que “o país não tem tido até agora uma política energética”.
“O problema atual é resultado de uma sequência de decisões parciais e aleatórias sem a racionalidade e a coerência que devem ter as ações e decisões que caracterizam o setor”, acusou Samaniego.
Junto com o Brasil, o Paraguai é proprietário da segunda maior hidrelétrica do mundo, Itaipu, que está em pleno funcionamento, e de Yacyretá, com a Argentina, ambas no curso do rio Paraná.
A população consome a eletricidade produzida por uma pequena usina sobre o rio Acaray e também a gerada por uma das 20 turbinas de Itaipu e de Yacyretá. O país vende toda energia excedente ao Brasil e à Argentina em troca de uma compensação monetária anual, não regida por preços do mercado.
Segundo a Itaipu, no caso do Paraguai, o problema não está ligado à geração de energia elétrica da usina, mas às dificuldades de transmissão nas linhas do país.
Planos
Além de prometer novos geradores para solucionar o problema, a Ande recomendou à população que faça “uso racional” da energia, especialmente em horários noturnos. A estatal apresentou um plano de redução nas tarifas para quem utilizar menos eletricidade.
“Restringindo o consumo nas horas críticas, das 18h às 22h, pode ser reduzida a demanda. Se não houver incidentes ou acidentes da natureza, os problemas com a interrupção no serviço serão resolvidos em março”, assegurou Fatecha.
Apenas 10% dos usuários, que correspondem a residências, consumem 45% da energia no Paraguai. O Departamento de Meteorologia divulgou um comunicado alertando que a temperatura máxima dos próximos cinco dias continuará acima dos 40°C.
Nova linha
Um acordo assinado entre o presidente paraguaio, Fernando Lugo, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve mudar a situação energética do Paraguai. Itaipu já fechou o projeto básico para a construção de uma linha de transmissão ligando Hernandarias, no lado paraguaio, à capital Assunção, com extensão de 350 quilômetros e capacidade de 500 kilowatts.
O trabalho de sondagem do solo deve ser iniciado em breve e a previsão de conclusão do projeto é para outubro de 2010. A construção da linha deve durar de 26 a 30 meses.
Ainda não está definido quem arcará com o custo da obra, estimado em 400 milhões de dólares. De acordo com a usina de Itaipu, a nova linha de transmissão permitirá mais do que dobrar a transmissão de energia de Itaipu para o Paraguai, passando dos atuais 1.500 megawatts médios para 3.500 megawatts médios.
Leia mais:
Brasil pagará o triplo pela energia excedente
NULL
NULL
NULL