Após anos de restrições à participação estrangeira na exploração do petróleo, com desapropriações de campos e endurecimento da legislação, a Venezuela voltou a abrir o setor a investimentos de multinacionais. Ontem (10), o país atribuiu a dois consórcios externos – respectivamente liderados pela espanhola Repsol e pela norte-americana Chevron – a exploração dos poços de Carabobo I e Carabobo III, com potencial de pelo menos 800 mil barris por dia, mas que precisam de investimentos de cerca de 30 bilhões de dólares nos próximos dez anos.
O campo de Carabobo, que possui 23,6 bilhões de barris já confirmados, fica na Faixa do Orinoco, uma das regiões mais ricas do planeta em petróleo pesado. Recentemente, um novo estudo divulgado pelo USGS (Serviço Geológico dos EUA, na sigla em inglês) estimou que as reservas na Faixa do Orinoco podem atingir mais de 500 bilhões de barris, o que faria o país ter o dobro de reservas da Arábia Saudita.
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Ontem, o presidente Hugo Chávez comemorou o resultado. “Temos de colocar a Faixa do Orinoco à disposição do mundo. O investimento estrangeiro é absolutamente necessário para desenvolver nossas reservas; não podemos fazer isso sozinhos”, afirmou. Chávez, porém, ressaltou que o controle da produção dependerá do Estado.
Segundo a legislação venezuelana, a estatal PDVSA (Petróleos de Venezuela SA) deve controlar pelo menos 60% das ações de todos os novos projetos de exploração. No campo de Carabobo I, que deve começar a produzir em 2013 para chegar ao ritmo de 480 mil barris/dia em 2016, a espanhola Repsol, a malaia Petronas e a indiana ONGC terão 11% das ações cada. As empresas indianas Oil India e IndianOil dividirão os 7% restantes. Como Carabobo I é o campo com mais potencial, o consórcio terá de pagar um direito de entrada de 1 bilhão de dólares.
No outro campo licitado, com produção prevista de 400 mil barris daqui a seis anos, a norte-americana Chevron vai liderar as empresas estrangeiras, com participação de 34%, enquanto três companhias japonesas (Mitsubishi, Jogmec e Impex) compartilharão 5% e a venezuelana Suelopetrol, privada, terá 1%. O campo de Carabobo III inclui um direito de entrada de 500 milhões de dólares.
Cada um dos consórcios terá de emprestar pelo menos 1 bilhão de dólares à PDVSA para o financiamento de sua parte nos investimentos.
“É um acordo importante, que vai ajudar as finanças do governo e contribuir para aumentar o nível tecnológico do país”, disse um economista da equipe de Chávez, pedindo anonimato. “Mas o ponto mais interessante é que isso denota uma mudança no discurso do presidente. Antes, ele não fazia distinção entre o setor privado produtivo e o setor privado especulativo. Agora, sim”, acrescenta.
Segundo o economista, “Chávez está consciente de que o Estado não pode ser dono de tudo e de que o investimento privado produtivo pode ajudar no crescimento”.
Novos parceiros
Paralelamente, o governo continua tentando diminuir a dependência em relação às empresas norte-americanas. Grupos da Rússia, da China, do Vietnã e da Itália já estão ativos no campo de petróleo vizinho de Junín, também na Faixa do Orinoco.
O objetivo do governo é aumentar a produção em 1,2 milhão de barris por dia até 2015. Hoje, a PDVSA diz que a produção é de 3 milhões de barris por dia. Já a AIE (Agência Internacional de Energia) e a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) divergem dos números da estatal e afirmam que o correto ficaria em torno de 2,3 milhões de barris por dia.
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