Uma vez por ano, eleitores e políticos norte-americanos da direita ultraconservadora saem de todas as partes dos Estados Unidos para se reunir por três dias na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), em Washington. Lá, discutem seus ideais, o que querem para o futuro do país e como devem agir para alcançar seus objetivos. A edição deste ano, no fim de semana, foi marcada pelas críticas ferozes ao governo Obama e pelo público jovem – das 10 mil pessoas presentes, quase metade era formada por estudantes.
“Agora, todo o país está se sentindo como os terroristas de Guantánamo durante o governo Bush. Nós estamos apenas esperando a troca de governo para nos livrarmos deste inferno”, disse a escritora e comentarista política Ann Coulter, arrancando aplausos.
A estratégia de ataque dos conservadores norte-americanos ficou clara durante a conferência: fazer com que os jovens levem a batalha para a internet. Considerada um grande trunfo de Obama durante a campanha presidencial, a internet foi a estrela de sete palestras, algumas com nomes muito semelhantes, como “Blogando, twittando e outras palavras divertidas que fazem o movimento crescer” e “Salvando a liberdade por meio da tecnologia: o crescimento do movimento online”. Os estudantes pagavam apenas 25 dólares para participar dos três dias do evento, enquanto os demais precisavam desembolsar 175 dólares. E, considerando o sucesso do encontro de blogueiros promovido durante a CPAC – que foi fechado para convidados devido ao grande número de interessados -, não vão faltar soldados para a batalha.
Nem só os democratas foram alvo das críticas na conferência. Os republicanos também sofreram. O radialista e apresentador de TV Glenn Beck, do canal Fox, abriu a conferência comparando o partido republicano a um alcóolatra que ainda não admitiu que tem problema: “Eu ainda não vi uma reunião do tipo 'venha para Jesus'… 'Meu nome é Partido Republicano e eu tenho um problema. Sou viciado em altos gastos públicos e no Estado inchado'”. Depois de acusar o partido de abandonar os princípios conservadores, ele apontou o progressismo como o grande vilão (“um câncer comendo os ideais norte-americanos”) e saiu como o grande destaque do evento.
Com as cotas de patrocinadores e exibidores esgotadas, a CPAC 2010 apresentou palestras sobre temas como “O surgimento do conservadorismo latino”, “Salvando a liberdade contra os fiscais de impostos” e “Resistência contra a tirania do governo federal”. No fim da conferência, uma pesquisa com 2.395 participantes apontou quais são os assuntos prioritários dos norte-americanos mais conservadores neste ano de eleições no Congresso. Os seis primeiros items foram: diminuir o número de empregados do governo federal (52%), diminuir as despesas do governo (33%), a guerra contra o terrorismo (18%), diminuir os impostos (18%), aborto (10%) e estimular a economia para criar empregos (9%). Em último lugar, com apenas 1% ficaram diminuir os custos com plano de saúde e impedir o casamento gay.
O consultor político democrata e ativista gay John Aravosis se mostrou surpreso com o resultado da pesquisa. “O momento mais chocante foi quando um jovem subiu ao palco e fez um discurso sobre 'a ordem natural das coisas' e disse que o sexo existe apenas para procriação. Foi duramente vaiado. Quando os conservadores defendem os gays, a gente começa a se preocupar. Os democratas já não têm cumprido suas promessas. Então, acredito que muitos gays não vão votar em nenhum dos dois partidos em novembro. Eles simplesmente não vão votar”.
Próxima eleição
Considerada um retrato fiel das dos movimentos de base da sociedade conservadora, a CPAC mostrou que a prioridade agora para eles é recuperar a maioria no Congresso nas eleições de novembro deste ano. As próximas eleições presidenciais, em 2012, ainda estão distantes, apesar de o vice de Bush, Dick Cheney, ter dado as caras para emitir seu parecer sobre o governo Obama: “Trata-se de um governo de um mandato só”.
Ao perguntar na pesquisa quem deveria ser o próximo candidato do Partido Republicano, os conservadores tiveram como vencedor (32%) o ex-candidato a presidente Ron Paul, deputado do Texas que jamais ganhou uma primária. Mas analistas não acreditam que o resultado da enquete seja relevante.
“Temos de agradecer a Ron Paul por nos mostrar como essas pesquisas não valem nada”, disse Erick Erickson, do blog conservador RedState.com.
Em segundo e terceiro lugares nas pesquisas, ficaram o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney (22%) e a candidata a vice de John McCain, Sarah Palin (7%). Ela, aliás, não apareceu no evento. Em seu twitter, Sarah disse que a família estava envolvida com a Iron Dog Race, uma corrida de trenó motorizado que dura quase uma semana e da qual seu marido participa todos os anos.
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