A tripulação do navio Petropavlosk ancorada em Kronstadt, cidade russa no Golfo da Finlândia, a cerca de 30 quilômetros de São Petersburgo, se rebela em 28 de fevereiro de 1921 contra a ditadura do Partido Comunista. A justificativa são os maus-tratos dos bolcheviques, que multiplicam as execuções sumárias, requisitam as colheitas e reduzem a população do campo à fome. Os tripulantes reclamaram também da reeleição dos soviets e clamaram pela liberdade dos socialistas de esquerda e o direito dos camponeses e artesãos de trabalharem livremente.
O grupo convocou uma terceira revolução, após as de 1905 e 1917, lançando a palavra de ordem “viva os sovietes e abaixo os comunistas”. No dia seguinte a resolução do Petropavlosk é adotada em Kronstadt, os representantes dos bolcheviques são presos e um comitê revolucionário assume o comando da cidade. Esta “comuna” iria durar apenas 16 dias. Moscou ordena esmagar a rebelião.
Os soldados do Exército Vermelho tomam Kronstadt de assalto, após a rendição da cidade e a fuga dos líderes para a Finlândia, provocando um banho de sangue. Participaram diretamente da repressão o Comissário da Guerra Lev Trotsky e o chefe da polícia secreta Dzerzhinsky. O prestígio político de Trotsky foi severamente prejudicado pela violência com que a operação foi conduzida.
Desde a época czarista, era uma guarnição da Marinha Imperial russa e, durante a Revolução de 1917, tornou-se um centro importante de agitação revolucionária. Ao final da Guerra Civil, o país estava exausto e arruinado. As secas de 1920 e 1921 e a fome dos anos subseqüentes pareciam marcar o capítulo final do desastre.
Nos anos que se seguiram à Revolução de Outubro, epidemias, fome, guerra civil, execuções, e o desabamento econômico e social custaram milhões de vidas. Um milhão de pessoas deixaram o país. Grande parte desses emigrados eram de alta escolaridade. O “comunismo de guerra” ajudou o governo bolchevique a alcançar vitórias, mas ele devastou a economia.
Explicação
A alegação do governo bolchevique para a repressão de Kronstadt era que a revolta havia sido “certamente preparada pela contra-inteligência francesa” e que a resolução de Petropavlovsk era uma “decisão da “Centúria Negra-SR”. SR – Socialistas Revolucionários – era um partido social-democrata que detivera a maioria nos soviets até o retorno de Lenin e cujos setores à direita se haviam negado a apoiar os bolcheviques. Por sua vez a Centúria Negra era uma força reacionária, proto-fascista, antissemita, anterior à revolução, que atacava os militantes trabalhistas e radicais, entre outros. Lenin denunciou a Revolta de Kronstadt como uma conspiração instigada pelo Exército Branco e seus apoiadores europeus.
Os marinheiros da base naval de Kronstadt há muito vinham sendo fonte de rebeldia. Motins lá tiveram lugar durante a Revolução de 1905. Desempenharam importante papel ao persuadir o czar Nicolau II a editar seu Manifesto de Outubro.
Os marinheiros de Kronstadt foram também ativos na derrocada do czar na Revolução de Fevereiro de 1917. Um grande número deles era bolchevique e durante a Revolução de Outubro assumiram o controle do cruzador Aurora, zarpando em direção ao estuário do rio Neva e abrindo fogo contra o Palácio de Inverno.
Números oficiais indicam que 527 pessoas foram mortas e 4.127, feridas. Estima-se que oito mil pessoas entre marinheiros e civis abandonaram Kronstadt e foram viver na Finlândia. Historiadores acreditam que o número total de baixas foi muito maior que este. Segundo Victor Serge, mais de 500 marinheiros foram executados por tomar parte da rebelião.
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