Em busca de investidores para sua dívida pública, inclusive no Brasil, o governo português anunciou no início do mês cortes em investimentos públicos e gastos sociais. Ontem (26), em comunicado à imprensa, o Ministério das Finanças informou sobre o congelamento dos salários dos empregados das empresas públicas, medida semelhante à que já tinha sido anunciada para a função pública. Em resposta, os servidores agendaram uma greve geral para a próxima quinta-feira (4), como a de ontem na Grécia.
O déficit público (endividamento líquido) português em 2009 foi de 9,3%, mais de três vezes acima do limite imposto pela União Europeia e três pontos acima da média da região. O índice ficou abaixo apenas dos de Itália, Grécia e Espanha, que junto com Portugal e Irlanda integram os PIIGS (porco, em inglês), apelido dado às economias europeias em maiores dificuldades. O governo do primeiro-ministro socialista José Sócrates vem tentando descolar a imagem do país desse grupo.
”Além de grandes déficits governamental e externo, Portugal tem uma economia que pouco cresceu na última década”, diz Chris Pryce, analista da Fitch Ratings, que rebaixou a classificação da economia de Portugal em setembro. De acordo com os dados da Eurostat – agência europeia de estatísticas –, entre 2000 e 2009 o crescimento médio do PIB português ficou abaixo do 1%.
Segundo a Standard & Poor's, outra agência a reduzir a classificação portuguesa, em dezembro, dificilmente o governo conseguirá voltar aos 3% até 2013 como prometeu à UE. O PIB de Portugal deve crescer 0,3% neste ano, o que significa menos da metade da expansão que, segundo informou a comunidade ontem, deve ser observada no continente (0,7%).
Congelamento de salários, redução no número de servidores, diminuição nos suportes sociais ao longo do ano, racionalização dos custos de saúde e alta seletividade nos investimentos públicos foram algumas das medidas apresentadas pelo governo ao mercado no início de fevereiro. Com o baixo crescimento da economia, a indexação das aposentadorias à inflação foi abandonada no ano passado, pois reduziria os benefícios e será retomada em 2011, quando o índice deve variar entre 1% e 1,6%, segundo as previsões do governo.
Uma greve geral foi confirmada pelos três sindicatos que representam as funções públicas em Portugal. A Frente Comum prevê ainda uma manifestação nacional entre maio e junho. Além do congelamento salarial, a mudança nas regras de aposentadoria é outro motivo apresentado pelas entidades para a paralisação.
Dinheiro brasileiro
As economias emergentes estão entre os alvos do governo português na busca de financiamento para sua dívida pública, que foi de 66,3% do PIB em 2009 – ante 43% no Brasil – e deve chegar a 85,4% neste ano. Em declarações ao jornal i, o secretário de Estado do Tesouro, Carlos Costa Pina, afirmou que Brasil e China são mercados onde o governo vem apostando em razão das reservas de liquidez existentes nesses países.
Questionado pelo Opera Mundi, o Ministério das Finanças nega que a busca de dinheiro no terceiro mundo seja motivada pela crise. “A diversificação geográfica e institucional da base de investidores tem sido um objetivo desde sempre prosseguido pela República Portuguesa e não está associada a nenhum factor particular da situação actual”, informou em nota. A pasta ressalvou, porém, que as oportunidades de diversificação estão ligadas à evolução dos diferentes mercados, o que pode levar a uma focalização maior num ou noutro mercado em momentos particulares.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL