O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em entrevista exclusiva à Anba, que o Brasil pode ajudar no desenvolvimento da Palestina. “Como estamos fazendo com muitos países do mundo”, declarou. Na próxima semana Lula vai visitar o país, na primeira viagem de um presidente brasileiro aos territórios palestinos.
Lula vai ao Oriente Médio acompanhado de uma delegação de empresários para “garimpar” oportunidades de negócios e parcerias. O presidente garantiu que o acordo de comércio assinado entre Mercosul e Israel não inclui mercadorias produzidas em assentamentos israelenses nos territórios ocupados.
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Lula afirmou ainda que a política de aproximação do Brasil com outros países em desenvolvimento vai continuar com seu sucessor, seja ele, ou ela, da situação ou da oposição. “Eu penso que a política internacional nossa é tão exitosa que eu acho que dificilmente alguém teria coragem de mudar”, afirmou.
Uma delegação de empresários vai acompanhar o senhor nessa viagem. O que a gente pode esperar em termos comerciais?
Olha, toda vez que nós fazemos uma reunião com outro país e levamos empresários, na verdade é um processo que considero quase que uma garimpagem. Ou seja, os empresários brasileiros se reúnem com os empresários de outros países e eles descobrem entre si chances, oportunidades de negócios, possibilidades de parcerias entre as empresas. O resultado tem sido extraordinário. Veja, é a primeira vez que vai um conjunto de empresários à Palestina discutir desenvolvimento, parcerias e pesquisar oportunidades. Eu acho isso um fato muito relevante. Em todas as reuniões eu tenho dito aos meus ministros: “Vamos levar empresários, porque quando eles se encontram e começam a conversar, daqui a pouco a gente percebe que o Brasil está comprando ou está exportando alguma coisa”. Então o objetivo é esse, é desenvolver ainda mais a nossa relação com a Palestina, que é muito pequena do ponto de vista comercial.
O Mercosul já negociou um acordo comercial com Israel e os palestinos reclamam porque existem os assentamentos israelenses. Eles dizem que o Brasil, o Mercosul no caso, não deveria aceitar, dentro desse acordo, produtos dos assentamentos…
Mas isso está previsto no acordo, que a comissão que acompanha o acordo não permitirá a entrada de produtos produzidos em [assentamentos israelenses no] território palestino.
Do ponto de vista institucional, existe possibilidade e interesse do Brasil em ter algum acordo com a Palestina?
Existe possibilidade não apenas de ter acordo com a Palestina, mas do Brasil ajudar os palestinos a se desenvolverem, a crescerem e verem o que é possível ajudar a construir lá, como estamos fazendo com muitos países do mundo. Dois assuntos importantes da Palestina [que estão] no Congresso Nacional: primeiro a doação do terreno para a instalação da Delegação (embaixada) Palestina em Brasília, que já foi aprovada na Câmara dos Deputados em novembro e está na pauta da Comissão de Justiça do Senado Federal em caráter terminativo, e talvez seja aprovada esta semana; doação de 10 milhões de dólares para reconstrução de Gaza, também já foi aprovada na Câmara e na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal.
O senhor sabe quais necessidades o Brasil poderia suprir neste momento?
Não. Veja, primeiro nós temos gente lá estudando isso. Segundo, vai uma equipe na frente, sabe, para conversar com as pessoas e fazer um levantamento das coisas que a gente pode assinar protocolo de intenções, e certamente quando a gente chegar lá estarão os acordos possíveis de serem assinado, prontos para assinar. O que é importante é que é a primeira viagem de um chefe de estado brasileiro à Palestina. Eu dou muita importância para isso, porque a viagem do presidente da República é o que faz a diferença na relação entre dois povos.
O senhor adotou como política desde o começo do governo a aproximação com os países em desenvolvimento, com os países árabes houve um crescimento muito grande do comércio, o senhor vai até receber uma homenagem dia 25, em São Paulo, da Câmara Árabe. Agora, esse é o seu último ano de governo. O que a gente pode esperar? Essa política se mantém com o sucessor, principalmente se ele for da oposição?
Eu penso que a política internacional nossa é tão exitosa que eu acho que dificilmente alguém teria coragem de mudar. Obviamente que há sempre possibilidade de fazer mais. E se a [ministra da Casa Civil e pré-candidata governista à Presidência] Dilma [Rouseff] ganhar as eleições certamente ela vai aprimorar tudo o que nós fizermos e poderá fazer muito mais. Afinal de contas, ela já vai pegar a política caminhando numa evolução extraordinária. Ela vai poder, então, fomentar isso. E se for um candidato de oposição, eu acho difícil que eles consigam fazer uma reversão, porque a reversão seria prejudicial ao Brasil.
O senhor disse que até o final do ano vai tentar fazer o que for possível na questão do processo de paz [entre israelenses e palestinos]. E depois que terminar o seu mandato, o que o senhor pretende fazer?
Eu? Não sei…, comer em restaurante árabe (risos). Eu sinceramente não estou pensando no que fazer depois.
O senhor tem interesse em assumir algum tipo de compromisso internacional?
Não, não quero mais compromisso, para mim chega. É que tem muita coisa para fazer. Eu certamente tenho muita coisa para fazer dentro do Brasil e fora do Brasil, mas eu não quero pensar nisso agora, porque eu ainda tenho alguns meses de governo e esses são os meses mais delicados, porque a cabeça de uma parte do país começa a pensar no processo eleitoral, que se dará em outubro. Muita gente do governo vai sair para ser candidato. Ou seja, daqui a pouco, se a gente não cuida direito, o país está pensando nas eleições e o governo fica paralisado. Então, o meu trabalho é fazer com que o país funcione corretamente até o dia 31 de 2010…, para que no dia seguinte, às 10 horas da manhã, eu possa entregar a quem de direito a faixa.
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