Após a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a ação de órgãos multilaterais no processo de paz no Oriente Médio, o assessor da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse a correspondentes internacionais em São Paulo hoje (12) que o “ar das negociações entre palestinos e israelenses está rarefeito” e que as “Nações Unidas não têm atuado de forma eficaz”.
Garcia afirmou ainda que, diante do “esgotamento das tentativas anteriores”, o Brasil pode ser mediador do conflito árabe-israelense. Neste domingo, Lula viaja a Israel, depois segue para a Palestina e para a Jordânia.
Daniella Cambaúva/Opera Mundi
“O Brasil quer dois Estados independentes na região”, afirmou, avaliando que, para um diálogo, os israelenses precisam se sentir seguros para negociar, e os palestinos precisam saber que haverá condições adequadas e viabilidade econômica.
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“A tese central de Lula é a de que é importante haver unidade entre interlocutores”, disse, mencionando o fato de o Brasil ter recebido no ano passado, num período menor do que dez dias, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, o presidente de Israel, Shimon Peres, e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
Segundo Garcia, Lula tem experiência e familiaridade com o tema Oriente Médio, mesmo antes de ocupar o cargo de presidente. Em 1993, ele esteve na região como presidente do PT (Partido dos Trabalhadores). “A questão é importante para o país. Há uma grande comunidade judaica, menor em número, e árabe que vivem aqui, e convivem bem aqui”, completou.
Além disso, mencionou o fato de o conflito na região ter efeito negativo em outros países, que “têm se preocupado muito com o crescimento do fundamentalismo”.
“Não é um processo localizado. Tem alto poder de desestabilização e a tarefa saiu da mãos das Nações Unidas”, afirmou.
Questionado sobre a dificuldade de o Brasil mediar um conflito que ocorreu há décadas, Garcia respondeu que a diplomacia brasileira sabe o tamanho do problema, e que sabe de sua capacidade de atuação. “Se você quer construir uma ponte, você tem que saber a exata largura do rio”.
Brasil-Irã
Duramente questionado a respeito das relações brasileiras com o Irã, Marco Aurélio Garcia confirmou a visita do presidente Lula em Maio de 2010, e disse que é impossível defender que Ahmadinejad é presidente por conta das fraudes nas últimas eleições, no dia 12 de junho de 2009. A oposição iraniana denunciou fraudes no processo, que reelegeu o atual presidente. Na época, alguns analistas políticos defendiam a possibilidade de fraude eleitoral, outros, garantiam que esse é um discurso do ocidente para desestabilizar a República Islâmica.
Garcia afirmou que a relação com o Irã acontece há muito tempo, e é fundamental para o Brasil pois o país é peça chave para o diálogo entre Israel e Palestina. Além disso, o Brasil quer participar do debate do Programa nuclear iraniano.
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Ele reforçou a ideia que já havia sido exposta pelo governo brasileiro quando a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, veio ao Brasil. “Devemos puxar o Irã em vez de isolar o país”.
“Procuramos por um lado explicitar para o Irã nas conversas que tivemos que o Irã deveria renunciar qualquer pretensão militar nuclear. Deveriam ter a mesma intenção dos países da América Latina, desnuclearizados”, disse.
O diplomata afirmou que o Brasil é a favor da não-proliferação de armamento nuclear, que esse é o ponto principal do diálogo com o Irã, mas questionou o fato de EUA, Coreia do Norte, Reino Unido, Paquistão, Índia, França e China terem armamento nuclear declarado.
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