Durante encontro com correspondentes em São Paulo, o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, foi questionado várias vezes sobre a postura do governo brasileiro em relação aos dissidentes cubanos. Para Garcia, é necessário compreender que aqueles que “conversam com os cubanos na base da exigência quebram a cara”.
“Qual é a prática de manifestos? Não estou desmerecendo, mas questiono em relação à eficácia”, disse. “As negociações internacionais com Cuba e o desbloqueio têm de ser feitos em outras bases que não a exigência”.
“Quando Raúl Castro veio ao Brasil, disse algo interessante: que estava disposto a trocar todos os prisioneiros pelos cinco cubanos”, em referência aos presos pelo FBI em 1998, acusados de espionagem pelos Estados Unidos e mantidos encarcerados desde então.
No dia 24 de fevereiro, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o dissidente Orlando Zapata morreu em decorrência de uma greve de fome prolongada. Na época, os opositores ao regime afirmavam ter entregado ao governo brasileiro uma carta pedindo intercessão junto a Havana. Lula negou ter recebido a carta, e na quarta-feira (10), o deputado oposicionista Raul Jungmann (PPS-PE) disse ter encaminhado à Secretaria da Presidência uma cópia do documento. Garcia, no entanto, afirmou que o pedido dos dissidentes não foi entregue.
“Eu entendo. Isso é bom, é simpático, é legal isso que o Jungmann fez, ano de eleição…. Agora, não posso reagir a um documento que foi entregue pela internet, que não foi feito num papel”, disse.
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Segundo Garcia, “nenhum país pode criticar o Brasil acusando de omissão porque há muitos prisioneiros políticos em outros países, e você sabe muito bem a quem estou me referindo: violação de Direit os Humanos tem dezenas, em países importantes do mundo”, completou, respondendo a um jornalista.
“Que a oposição queira tirar casquinha desse episódio [morte de Zapata] com declarações unilaterais, eu entendo”, afirmou, respondendo a perguntas de jornalistas norte-americanos, que questionavam se o governo brasileiro não teria se omitido do caso.
“Vamos defender em processos multilaterais, e não em caso específicos, seletivos, essa é a postura do Brasil diante dos Direitos Humanos”, disse, referindo-se ao fato de o Brasil não intervir em outras situações de violações de Direitos Humanos, como ocorre no presídio de Guantánamo, onde ficam prisioneiros considerados perigosos pelos Estados Unidos.
Economia cubana
Garcia afirmou que Cuba passa por um “momento de transição em aspectos fundamentalmente de natureza econômica”, e que o Brasil tem participado desse processo por meio de investimentos agrícolas, na ind ústria petrolífera e na construção do Porto de Mariel.
A 50 quilômetros de Havana, fica o Porto de Mariel, onde será desenvolvido o maior dos projetos financiados pelo Brasil, com custo de 300 milhões de dólares, sob responsabilidade da empreiteira Odebrecht e com financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O projeto quer converter Mariel em um porto da capital, com águas mais profundas e acesso para barcos de calado maior. O porto de Havana não pode ser utilizado porque a estrutura do túnel que atravessa a baía da cidade impede que os canais de acesso sejam aprofundados. Em Mariel, também devem ser construídos um armazém para contêineres, uma autopista e uma ferrovia que ligue o porto a Havana.
“O jornalista que não está muito intexocado sabe a importância do porto de Mariel, que dá abertura para o país [Cuba]”, disse o assessor de Lula. “Estou convencido de que aposta do governo cubano e de empresários brasileiros que estão fazendo investimentos em cuba estão apostando em mudança econômica e num fim do bloqueio”, afirmou.
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O intercâmbio comercial entre Brasil e Cuba está crescendo e, em 2009, chegou a 330 milhões de dólares. O Brasil exportou, no período, 223 milhões de dólares.
“Nós temos mostrado muita solidariedade ao povo cubano. Esforço para reintegração de Cuba na comunidade americana, com uma ajuda ostenciva nos temas econômicos”. “O país está em movimento, é impossível fazer previsões, mas é um país que tem potencial extraordinário”, completou.
Comércio com os EUA
Garcia também defendeu mais negociações com os EUA antes de concretizar a retaliação comercial, autorizada pela OMC (Organização Mundial de Comércio) como punição aos subsídios ilegais concedidos por Washington aos seus plantadores de algodão. Para o assessor de Lula, o governo tem postura unânime: “retaliação não é favorável a ninguém”.
A saída negociada para a questão é defendida pelo setor empresarial brasileiro representado pela FIESP e pelo Embaixador norte-americano no Brasil, Thomas Shannon. Segundo Garcia, no caso de não se chegar a um acordo, “o Brasil não está fazendo nenhuma retalição absurda, simplismente aplica uma determinação da OMC”.
“Temos direito legítimos de tomar as posições que tem que ser denunciadas”. A OMC deu ao Brasil o direito de retaliar por conta de subsídios ilegais dados pelo governo norte-americano aos produtores de algodão.
Futuro de Lula
Para a imprensa internacional, uma grande questão era o que fará o presidente Lula após deixar o cargo. A polêmica de que ele aspira o cargo de secretário-geral das Nações Unidas foi noticiada nesta semana em jornais dos Estados Unidos e da Europa, como o Miami Herald e La Vanguardia.
“Ele quer um mês de férias”, brincou Garcia. O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais não negou nem afirmou que o Lula tenha intenções de ocupar o cargo nas Nações Unidas. “[Certamente] vai retomar paixão de visitar o país, integrar movimentos sociais. Ele tem interesse grande no que diz respeito aos temas internacionais, de ajudar o processo de integração da América Latina. Tem paixão pela África”, disse.
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