O governo da Argentina e associações agropecuárias do país se reúnem hoje (16) para discutir a medida oficial que propõe a redução da exportação visando a reduzir o preço no mercado interno, que aumentou 180% nos últimos três anos. Apesar de ser o sétimo maior exportador de carne do mundo, o país tem sofrido com escassez do produto para seus próprios consumidores.
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Após restringir as permissões de exportação, em meados do mês passado, a Secretaria de Comércio argentina começou a reduzir, desde sexta-feira (12), as autorizações de embarque da carne bovina.
A medida do governo despertou críticas por parte das associações do agronegócio, que não acreditam que a medida vá melhorar as condições de consumo de um dos principais pratos do cardápio argentino. O presidente da Sociedade Rural, Hugo Biolcati, citado pela agência de notícias espanhola Efe, afirma que o setor pretende organizar “algum protesto” contra a situação.
“A proibição do governo de exportar carne não conseguirá reduzir os preços”, disse Biolcati.
“Isto é uma palhaçada. Estão gerando condições de frustração, que podem dar origem a uma nova paralisação do setor agropecuário”, afirmou o presidente da Federação Agrária, Eduardo Buzzi.
“Exceto o que é Hilton [cortes de alta qualidade destinados à Europa] e já processado, o restante está parado. O que está sendo esperado é um novo acordo de preços” com o governo, disse uma fonte da indústria pecuária que não quis se identificar, citada pelo jornal de oposição argentino Clarín.
A chamada “cota Hilton” permite que a Argentina exporte 28 mil toneladas de carne de alta qualidade para a Europa a cada ano com tarifas reduzidas.
Para tratar do assunto, foi marcada uma reunião hoje (15) dos principais exportadores do setor com o secretário de Comércio, Guillermo Moreno, a principal autoridade do governo para o controle dos preços. Na quarta-feira (17), quatro associações agropecuárias do país – Federação Agrária, Sociedade Rural, Confederações Rurais Argentinas e a Confederação Intercooperativa Agropecuária – estarão reunidos para analisar “ações conjuntas”.
Nem a presidente Cristina Kirchner nem o secretário Guillermo Moreno comentaram se haverá um acordo com os exportadores ou se a decisão será mantida. Hoje, porém, o titular do Consórcio de Exportadores de Carne, Mario Ravettino, disse em entrevista à Radio 10 que “a mercadoria começará a ser liberada de modo imediato”.
O objetivo do governo é que o preço do corte da carne para consumo popular seja de 10,5 pesos por quilo (o equivalente a 4,80 reais). Atualmente, é difícil encontrar o mesmo produto por menos de 25 pesos argentinos (12 reais).
Segundo o líder da Federação Agrária, há 12 milhões de cabeças de gado que devem ir para o abate neste ano, quase um terço do que em 2009. Isso equivale a 2,5 milhões de toneladas de carne – o que é insuficiente para abastecer o mercado interno no período. Na Argentina, a média de consumo por pessoa é de 73 quilos por ano, segundo dados oficiais.
Ao contrário dos produtores, o vice-presidente da Associação de Proprietários de Açougues de Buenos Aires, Alberto Williams, apoia a decisão do governo e acredita em resultados a curto prazo.
“Se não posso abastecer os argentinos, não posso exportar. Não posso vender o que não tenho”, argumentou Williams, em entrevista à Radio Continental.
Williams disse também que a venda nos açougues diminuiu 25%, e não há como reduzir os preços por não haver oferta no mercado de carne.
Soja no lugar de pasto
Uma das razões para a escassez é a diminuição da oferta do produto, ainda que 85% da produção seja, atualmente, consumida pelo mercado interno. Segundo o Senasa, órgão responsável pela qualidade da produção agropecuária e pesqueira, entre 2008 e 2009 o número de cabeças de gado foi reduzido em 3,15 milhões.
Para o governo, a culpa é da especulação dos produtores e das condições climáticas. Ora a seca que provocou a morte de muitos gados criados em pastos, ora o excesso de chuvas e a dificuldade de escoamento. Os produtores, por sua vez, apontam problemas estruturais na administração atual, como a ausência de incentivos na produção.
Um dos fatores que contribuem para a diminuição da produção é a substituição dos pastos pela monocultura da soja, já que o preço dos cereais aumentou significativamente (300%) desde o início da década.
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Dessa forma, lugares onde antes os rebanhos pastavam estão agora cobertos por enormes tapetes verdes – a maioria deles, de soja. Entre 2003 e 2008, 11 milhões de hectares passaram da pecuária para a agricultura.
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