Em 1950, apenas 69 milhões de latino-americanos (41%) moravam em cidades. Atualmente, são 471 milhões – ou seja, quatro em cada cinco habitantes da região, que se tornou a mais urbana do mundo. E em 2050, serão 683 milhões, segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), que divulgou ontem (25) o primeiro relatório sobre a América Latina, durante o 5º Fórum Urbano Mundial da ONU, no Rio de Janeiro.
Apesar dos problemas contidos nas grandes cidades, como a violência e a poluição, para a diretora da ONU-Habitat para a América Latina, Cecilia Martínez, o processo de urbanização foi “positivo”, pois melhorou a qualidade de vida, facilitando o acesso a serviços básicos e ao emprego, e também no aumento da expectativa de vida, que hoje atinge 75 anos.
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“As cidades deram alternativas de vida a muitas pessoas”, afirmou Martínez, durante uma entrevista coletiva. Ela ressaltou também que a urbanização tem permitido maior igualdade de gênero e avanço na democracia.
Martínez: urbanização intensa da América Latina tem pontos positivos e negativos
Segundo o relatório, a pobreza é o problema mais grave nas cidades menores e nas áreas rurais, como no caso do Brasil, onde a miséria afeta 50,1% da população rural ou o do Peru (69,3%), Colômbia (50,5%) e México (40,1%).
A rápida urbanização se explica pelo dinamismo demográfico entre 1950 e 1970, que acabou expulsando os habitantes do campo, já que “a distribuição da terra continua senda injusta”, aponta o estudo. Além disso, uma parte da população rural fugiu de desastres naturais ou guerras civis, especialmente na América Central e na Colômbia.
Desigualdade
O fenômeno de urbanização, hoje estudado por prefeitos de cidades africanas e asiáticas, que ainda não conheceram um desenvolvimento semelhante, sofre, porém, de um grande defeito. Se a pobreza é menor nas cidades, quando comparada com as áreas rurais, a desigualdade é perpetuada.
O relatório assinala que 20% dos mais ricos monopolizam 56,9% da riqueza. Por outro lado, os 20% dos mais pobres recebem apenas 3,5% das riquezas. Esses dados mostram que América Latina é ainda a região mais desigual do mundo, apesar dos avanços registrados na última década.
O Brasil é o país menos igualitário da região, já que 50,6% da riqueza nacional estão nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto os mais pobres ganham apenas 0,8%. Ele é seguido pelo México (42,2% da renda para os 10% mais ricos, contra 1,3% para os mais pobres) e pela Argentina (respectivamente 41,7% e 1,1%).
A Venezuela é, segundo o relatório, um país que conseguiu uma “notável” redução das desigualdades. Mesmo assim, os mais ricos controlam 36,8% dos recursos, enquanto os mais pobres têm 0,9%. Os países menos desiguais da região são Nicarágua, Panamá e Paraguai.
A diferença age na redução do “impacto que o crescimento econômico pode ter sobre a pobreza”, afirmou Jorge Torres, um dos autores do texto. “Boa parte da redução da pobreza nos últimos anos na região tem sido favorecida por aspectos macroeconômicos, e não estruturais, nossa urbanização continua sendo excludente”, insistiu.
Orientações
Segundo Cecília Martinez, o relatório traz algumas recomendações aos governos, como revitalizar áreas degradadas para aproveitar melhor os espaços das cidades, e trabalhar a questão do desenvolvimento sustentável desses espaços.
“As cidades podem ser muito positivas e elas têm solução. Isso depende muito das decisões políticas que os prefeitos e governadores tomem sobre suas próprias regiões e próprias cidades. Em dez anos, se pode melhorar. Mas se um prefeito decidir não fazer nada durante um, dois, ou três anos, a situação pode piorar muito rapidamente”, concluiu Martinez.
*Texto e fotos
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