O terremoto do dia 27 de fevereiro deste ano mudou a agenda do governo de Sebastián Piñera e também da oposição, ampliando as boas relações entre os governistas e os opositores, que devem agora aproveitar o momento para estruturar suas metas, apontam analistas ouvidos pela ANSA.
Segundo os especialistas, as urgências da reconstrução obrigaram ambos os setores a ampliarem a margem de convivência, minimizando as discrepâncias em diversos pontos, como a regulamentação do setor privado e o papel do Estado na manipulação da economia.
“O desafio da Concertación — que pela primeira vez em 20 anos está na oposição — é apoiar o processo de reconstrução, precavendo-se de que todas as reformas ocorram em consonância aos ideais” mantidos ao longo de suas administrações, afirma Bernardo Navarrete, cientista político da Universidade de Santiago.
A atual conjuntura, decorrente da situação de emergência ocasionada pelo abalo sísmico de 8,8 graus e pelos tsunami e réplicas que o seguiram, faz com que o governo “construa um discurso de que todos têm que colaborar com a reconstrução, mas ali pode haver qualquer coisa: desde a desregulamentação das empresas privadas até a menor intervenção do Estado no controle das atividades econômicas”, esclarece o especialista.
Por isso, neste momento, a Concertación deve evitar “que as reformas terminem favorecendo os setores da direita” em detrimento a outros grupos sociais, pois corre-se o risco de “terminar com uma agenda que permitiria a ocultação de todos os grandes temas que hoje separam o governo da oposição”, complementa Navarrete.
Por sua vez, Patricio Gajardo, da Universidade Central, diz acreditar que a mudança da agenda política “pode significar uma orientação positiva” tanto ao governo de Piñera como à oposição.
O impasse dá ao governo “uma lua de mel em relação ao apoio e à aprovação”, já que Sebastián Piñera “fez uma série de pedidos por unidade nacional e não houve uma resposta tão positiva por parte da oposição. O terremoto permite, assim, que seu governo tenha uma capacidade de manobra política muito mais ampla”, aponta Gajardo.
Em contrapartida, a tragédia permite à oposição “o adiamento do debate interno sobre a derrota eleitoral, mantendo uma imagem de unidade”, o que, embora seja “necessário, será muito complexo”, continua.
O analista da Universidade Central também recorda que os dirigentes dos partidos políticos que integram a Concertación mudaram, por exemplo, o tema central da reunião do próximo dia 12, que antes discutiria o papel da aliança na oposição e agora abordará “a política de reconstrução nacional”.
Gajardo também crê que as circunstâncias permitem que a Coalizão pela Mudança, de Piñera, ” converta-se em uma coalizão política e não eleitoral”, pois “o terremoto dará um espaço de tempo para que consiga isso com eficácia”.
Com Piñera, a Coalizão pela Mudança conseguiu derrotar a Concertación por la Democracia nas últimas eleições presidenciais — cujo segundo turno, de 17 de janeiro, deu a vitória ao empresário.
Desde o fim da ditadura militar, que governou de 1973 a 1990, a aliança de esquerda governava o país e, embora a sua última mandatária, Michelle Bachelet, tenha deixado o posto com mais de 80% de aprovação, essa alta margem de apoio popular não se transferiu ao candidato Eduardo Frei.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL