Vítor Sorano/Opera Mundi
Manifestantes da central sindical portuguesa CGTP participam de passeata em Lisboa
Com a pior taxa de desemprego em quase 12 anos na zona do euro, várias cidades do sul da Europa realizaram manifestações para marcar os 120 anos do Dia do Trabalho, neste sábado (1º/5), e a posição crítica em relação às medidas anticrise adotadas pelos governos europeus. Na Grécia e na Alemanha, houve confrontos nas ruas de várias cidades; em Portugal a participação foi considerada alta; na Espanha e na França, a adesão foi menor que a esperada pelos sindicatos.
Os congelamentos de salários, a redução dos subsídios sociais e o atendimento às orientações de mercado nas medidas dos governos foram foco dos discursos e das palavras de ordem no continente. Estima-se que cerca de 15,8 milhões de pessoas estejam desempregadas na zona do euro (que compreende 16 dos 27 países da União Europeia), segundo dados da Eurostat (órgão oficial de estatísticas do bloco) do mês de março, o que equivale a 10% da população. É o maior nível de desemprego desde junho de 1998, quando a taxa chegou a 10,1%.
O pior lado da crise está em países mediterrâneos, como Grécia, Portugal e Espanha. Esta semana, os três tiveram suas notas abaixadas pela agência de classificação Standard & Poor's.
Na Grécia, houve confrontos nas ruas das duas maiores cidades do país, segundo a imprensa internacional. Na capital, Atenas, 20 mil pessoas foram às ruas e houve conflitos com um pequeno grupo em frente ao Ministério das Finanças. Cerca de 20 manifestantes acabaram presos e sete policiais foram feridos. Em Tessalônica, a segunda maior cidade grega, de acordo com o jornal francês Libération, cerca de 250 manifestantes saíram das passeatas que reuniram 5 mil pessoas na cidade e quebraram as vitrines de estabelecimentos financeiros. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersá-los. Os transportes ferroviário e marítimo estão em greve até as 6h de domingo na Grécia, segundo o jornal espanhol El País.
Em Portugal, houve diversas manifestações no interior e na capital. A maior delas, realizada pela CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses), reuniu 90 mil pessoas, segundo a organização. A crise foi um dos motes do discurso do secretário-geral da central sindical, Manuel Carvalho da Silva, que classificou como “cinismo” os pedidos de sacrifício para acalmar o mercado e convocou os trabalhadores públicos e privados para uma manifestação que irá ocorrer em 29 de maio. Para ele, há aumento da mobilização dos trabalhadores em razão da crise. “Foi superior em relação ao ano passado”, disse em entrevista.
Desempregada há três anos, Gabriela Brito, 49 anos, foi à manifestação para defender a qualidade do trabalho no país e medidas para a geração de empregos. “Eu já nem estou nos números porque meu seguro-desemprego acabou, mas não procuro vaga em outra área. Quero trabalhar como secretária”, conta. Na opinião dela, que “há uns bons anos” participa das comemorações da CGTP, o 1º de maio deste ano teve adesão um pouco maior. “Quanto piores estão as coisas, mais gente se junta”.
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Portuguesas participam de manifestação bem-humorada sobre direitos do trabalho sexual
Foi a mesma razão que motivou o técnico em eletrônica José Nabo, 22 anos, a ir pela primeira vez à manifestação. “É só olhar para o lado e se vê que as coisas estão piores. Vir é uma forma de dar minha contribuição”, diz.
Uma lógica diferente ocorreu na Espanha, o país com a segunda pior taxa de desemprego na região, e na França. Houve centenas de manifestações nas cidades espanholas, mas a presença de trabalhadores nas ruas foi menor que nos anos anteriores, segundo o El País. O número de presentes na maior marcha da cidade variou de 60 mil, de acordo com as centrais CO (Comissões Operárias) e UGT (União Geral de Trabalhadores), a 6 mil, pelo cálculo da empresa Lynce para a agência de notícias espanhola Efe. Nas passeatas francesas, 350 mil participaram este ano, informaram os sindicatos ouvidos pelo Libération, contra 1,2 milhão estimadas no ano passado.
Confrontos
Em Lisboa, a UGT, central sindical ligada ao PSD, reuniu 30 mil pessoas em uma passeata pela Avenida da Liberdade, no centro histórico de Lisboa, de acordo com o jornal português Público. A polícia nao divulgou estimativas. Na Praça do Rossio, os sindicatos independentes esperavam reunir outras 5 mil pessoas. No Largo Camões, na Baixa, a manifestação com cerca de 150 pessoas foi contra o trabalho precário, de acordo com um policial que monitorava o evento.
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Idoso segura cravo, um dos símbolos da esquerda portuguesa, em manifestação na capital
Também houve confrontos em cidades da Alemanha, de acordo com o El País. Em Hamburgo, 14 pessoas ficaram feridas e uma foi detida em manifestações que ocorreram na noite de sexta-feira, nas mobilizações prévias habituais. Cerca de 150 manifestantes, segundo a polícia, tocaram fogo em mobiliário, tábuas de madeira e restos de lixo, e atiraram pedras e garrafas nos agentes.
Em Bremen, foram incendiados dois carros da polícia e, em Berlim, houve prisão de neonazistas. Na capital alemã houve marchas de extrema-direita, que contaram com 3 mil pessoas, e de extrema esquerda, com 10 mil.
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