@rafaelchirone Dúvida do dia: Kirchner usa muitas drogas ou esse absurdo tem fundamento?
Criar uma moeda única e centralizar as atividades do Mercosul em um único Banco Central é uma proposta que existe desde 1991, quando o bloco sul-americano foi fundado.
A ideia é frequentemente mencionada pelos presidentes, ministros da economia e diplomatas. O Opera Mundi noticiou recentemente que governos da Argentina e do Brasil estavam trabalhando para “criar uma moeda única”, segundo o ex-presidente argentino Néstor Kirchner.
A notícia levou o tuiteiro @rafaelchirone a comentar: “Dúvida do dia: Kirchner usa muitas drogas ou esse absurdo tem fundamento?”.
Provocado por @rafaelchirone, o Opera Mundi ouviu dois especialistas em Mercosul.
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Luiz Felipe Lampreia, sociólogo e diplomata
Apesar de acreditar que a moeda única seria positiva, pois facilitaria os negócios entre países do bloco, o sociólogo e diplomata Luiz Felipe Lampreia defende que ainda existe um caminho longo a ser percorrido até que seja feita a criação.
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Atualmente, Argentina e Brasil fazem trocas comerciais sem a mediação do dólar, por meio de uma câmara de compensação que equilibra eventuais oscilações do valor de suas moedas nacionais. Quando o comércio envolve outro país, como Uruguai ou Paraguai, o dólar volta a fazer parte da transação.
“Seria necessário um estágio avançado de compatibilidade de câmbio, inflação e contas públicas, condições que claramente não estão reunidas”, disse Lampreia, que já foi secretário geral do Itamaraty (1992-1993) e ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso entre 1995 e 2001.
Para Lampreia, uma moeda única seria “artificial” na atual conjuntura. “Nas negociações da união aduaneira, uma moeda única deveria ser um coroamento, nunca um ponto inicial”, disse.
Lampreia estava se referindo ao fato de que, quando um bloco de países adota uma moeda única, a responsabilidade sobre a política monetária – fixação dos juros, por exemplo – deixa de ser de cada país e passa a ser de um banco central comum.
Para ter uma moeda única, o ideal é que as economias de todos os países estejam integradas, com inflação e taxas de juros semelhantes, o que não ocorre no Mercosul. A Argentina, por exemplo, teve 15% de inflação em 2009, segundo institutos de pesquisa privados, e 8%, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). Já o Brasil teve, em 2009, 4%, o Uruguai, 6%, e o Paraguai, 2%.
Carlos Eduardo Carvalho, economista (PUC-SP)
De acordo com o professor de economia e relações internacionais Carlos Eduardo Carvalho, a proposta é uma “armadilha”.
“Não estamos prontos e nem essa união nos interessa. A proposta de criação de moeda única não se articula com a política comercial brasileira”, afirmou Carvalho, ligado à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Segundo Carvalho, não existem condições mínimas para que se comece a discutir um cronograma de implantação, pois “os países não têm qualquer processo de coordenação de políticas econômicas em andamento”. Ele frisa que outros passos deveriam preceder a integração, como discutir as políticas econômicas e analisar aspectos em que poderia haver coordenação e objetivos comuns.
“A inflação mais alta na Argentina não é problema para nós, a depender de como as políticas econômicas dos dois países lidem com a questão, em especial a política cambial”, disse Carvalho.
Ele acredita também que o Mercosul pode aprender muito com a experiência do euro – pois a adoção da moeda unida cria dificuldades como a que atravessa, no momento, a Grécia. O país, em forte crise e integrante do sistema euro, tem poucos recursos macroeconômicos para lidar com suas dificuldades, pois não pode mexer no câmbio para ajustar-se diante das outras economias.
“A surpresa foi a intensidade com que os grandes bancos e instituições financeiras induziram países como a Grécia a expandir seu endividamento, apesar das ameaças que a rigidez das regras do euro poderiam gerar no caso de uma crise, como acabou ocorrendo”, afirmou.
A criação do euro como moeda única, em janeiro de 1999, foi fruto de um longo processo de integração política e econômica da Europa. Só após três anos existindo como moeda abstrata, é que começou a circular, em 2002.
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