A chacina de 72 imigrantes ilegais no nordeste do México, ocorrida no último mês e que chocou o mundo, demonstra não apenas o poder e a violência dos carteis de droga, mas também a corrupção das autoridades mexicanas, afirma o jornalista Darío Fritz, especializado no crime organizado.
O massacre ocorrido teve “um impacto muito grande”, mas o debate concentrou-se na violência dos carteis, no fato do grupo armado Los Zetas realizar “ameaças, assassinar”, além do tráfico de pessoas, da pirataria de produtos e da extorsão, entre outros, recorda Fritz, em entrevista à ANSA.
Porém, para o especialista, o que fica evidente com esse crime “é o tema da corrupção na área de imigração, a polícia que deixa os ilegais passarem, mediante ao pagamento de cotas”.
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Segundo o jornalista, autor de Con la muerte en el bolsillo, seis desaforadas historias del narcotráfico (2005), essa é a questão essencial – os estrangeiros que conseguiram atravessar o país, sem serem barrados pelas autoridades migratórias.
Acredita-se que os clandestinos – a maior parte de origem centro-americana e entre os quais havia pelo menos um brasileiro – tenham ingressado ao México pelo estado de Chiapas, na fronteira com a Guatemala. De lá, teriam seguido até serem interceptados pelos membros do cartel já próximo à divisa com os Estados Unidos.
A opinião do especialista coincide com a denúncia feita ontem pelo sacerdote Alejandro Solalinde, que afirmou que cerca de 100 centro-americanos foram assaltados por supostos efetivos da polícia em Oaxaca, estado do sul. De acordo com o religioso, reconhecido defensor dos direitos humanos, as pessoas foram encontradas em um trem de carga de Arriaga, em Chiapas. Além de saqueadas, elas teriam sido também vítimas de abusos por parte das autoridades.
Logo após os corpos das vítimas do massacre ocorrido em agosto terem sido encontrados no fim do último mês em uma fazenda de San Fernando, em Tamaulipas, a Polícia Federal anunciou a dispensa de 3.200 agentes, como parte de um plano para “limpar” o Sistema Nacional de Segurança Pública.
Há anos, o Ministério de Segurança Pública tenta combater a corrupção em seu interior. Em 2004, os mexicanos eram considerados o segundo corpo policial mais corrupto do mundo, segundo informe da organização não-governamental Transparência Internacional.
Cerca de 100.000 agentes, das Forças Armadas e das polícias federal e estaduais, atuam há quase quatro anos na luta contra o crime organizado na nação norte-americana.
Desde dezembro de 2006, quando Felipe Calderón assumiu o poder, a ações empreendidas pelas autoridades e as disputas entre os carteis deixaram mais de 28 mil mortes. Destes há cerca de “dois mil mortos civis que não são incluídos nos debates”, recorda Fritz.
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