Max Altman (1937-2016), advogado e jornalista, foi titular da coluna Hoje na História da fundação do site, em 2008, até o final de 2014, tendo escrito a maior parte dos textos publicados na seção. Entre 2014 e 2016, escreveu séries especiais e manteve o blog Sueltos em Opera Mundi.
Em 2 de novembro de 1917, o ministro das Relações Exteriores da Grã Bretanha escreve uma carta ao mais ilustre cidadão judio – britânico, barão Lionel Walter Rothschild, expressando o respaldo do governo a um lar judaico na Palestina.
O reconhecimento público britânico e o apoio ao movimento sionista emergente decorreram da sua crescente preocupação acerca dos caminhos a que levaria a Primeira Guerra Mundial. Em meados de 1917, a Grã Bretanha e a França estavam enredadas num virtual impasse com a Alemanha no front ocidental ao passo que esforços para derrotar a Turquia na península Gallipoli haviam fracassado espetacularmente. No front oriental, o destino do único aliado, a Rússia, era incerto: a revolução de fevereiro havia derrubado o czar Nicolau II e o governo provisório lutava contra uma ampla oposição para manter o esforço de guerra do país minimamente efetivo contra a Alemanha e o Império Austro-húngaro.
Com este pano de fundo, o governo do primeiro-ministro Lloyd George tomou a decisão de apoiar publicamente o sionismo, um movimento liderado na Inglaterra por Chaim Weizmann, um químico russo que se havia estabelecido em Manchester. Os motivos por detrás dessa decisão eram vários: à parte uma genuína crença na justeza da causa sionista, os líderes britânicos esperavam que uma declaração formal em favor do sionismo ajudaria a ganhar o apoio da população judaica em favor dos Aliados nos países neutros, nos Estados Unidos e especialmente na Rússia, onde o governo czarista nitidamente anti-semita havia sido derrubado com a ajuda da significativa população judaica do país. Finalmente, a despeito do acordo prévio anglo-francês de dividir sua influência na região após a presumível derrota do Império Otomano, Lloyd George chegara à conclusão de que o domínio britânico sobre a Palestina – uma faixa territorial entre os cruciais territórios da Índia e Egito – era essencial aos seus objetivos de pós-guerra. O estabelecimento de um estado sionista ali – sob proteção do Império Britânico, completaria essa visão estratégica.
A despeito de uma vigorosa oposição anti-sionista liderada por Edwin Montagu, secretário de Estado para a Índia e um dos primeiros judeus a servir no gabinete governamental, que recebeu maior ou menor apoio externo dos Estados Unidos, França, Itália e especialmente o Vaticano, Balfour enviou em 2 de novembro uma carta a Rothschild, um proeminente sionista e amigo de Weizmann, começando assim: “O Governo de Sua Majestade vê com simpatia o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu e usará de seus melhores esforços para facilitar a cumprimento desse objetivo, ficando claramente entendido, porém, que nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos de comunidades não-judaicas existentes na Palestina ou os direitos e o status político gozado pelos judeus em qualquer outro país.”
À época da declaração, publicada na imprensa internacional, um dos grandes objetivos do governo britânico se tornou obsolete. Lênin havia conquistado o poder na Rússia e uma de suas primeiras ações foi de negociar um imediato armistício.
Não obstante, a influência da Declaração Balfour no curso do pós-guerra foi imediato. De acordo com o “mandato”, sistema criado pelo Tratado de Versalhes, a Grã Bretanha ficou responsável pela administração temporária da Palestina na condição de agir em favor tanto da população árabe quanto da judaica. Muitos árabes, na Palestina e alhures, ficaram furiosos por não terem recebido o reconhecimento de sua nacionalidade e soberania que esperam em troca de sua participação na guerra contra a Turquia. Nos anos posteriores à Guerra, a população judaica na Palestina cresceu espetacularmente pari-passu com o aumento da violência judio-árabe. A instabilidade levou Londres a adiar uma decisão sobre o futuro da Palestina. Em seguida a Segunda Guerra Mundial, a descoberta dos horrores do holocausto levou às Nações Unidas a aprovar a Partilha da Palestina em 1947. No ano seguinte, a liderança sionista proclamou a criação e a independência do Estado de Israel.
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Reconhecimento partiu da preocupação com os rumos da primeira guerra; carta é um importante marco
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À época da declaração, publicada na imprensa internacional, um dos grandes objetivos do governo britânico se tornou obsolete. Lênin havia conquistado o poder na Rússia e uma de suas primeiras ações foi de negociar um imediato armistício.
Não obstante, a influência da Declaração Balfour no curso do pós-guerra foi imediato. De acordo com o “mandato”, sistema criado pelo Tratado de Versalhes, a Grã Bretanha ficou responsável pela administração temporária da Palestina na condição de agir em favor tanto da população árabe quanto da judaica. Muitos árabes, na Palestina e alhures, ficaram furiosos por não terem recebido o reconhecimento de sua nacionalidade e soberania que esperam em troca de sua participação na guerra contra a Turquia. Nos anos posteriores à Guerra, a população judaica na Palestina cresceu espetacularmente pari-passu com o aumento da violência judio-árabe. A instabilidade levou Londres a adiar uma decisão sobre o futuro da Palestina. Em seguida a Segunda Guerra Mundial, a descoberta dos horrores do holocausto levou às Nações Unidas a aprovar a Partilha da Palestina em 1947. No ano seguinte, a liderança sionista proclamou a criação e a independência do Estado de Israel.