Após a cadeia de televisão nacional comunicar à população de Honduras que o toque de recolher havia sido suspenso, a vida seguiu como era antes do golpe de Estado que destituiu Manuel Zelaya do poder e originou o governo golpista de Roberto Micheletti. Ele, por sua vez, agradeceu ontem (12) ao povo pela “paciência”. Nada aconteceu, é mais ou menos a mensagem do governo golpista.
A impressão que se tem é a de que as pessoas estavam cansadas do toque de recolher – em vigor desde 28 de junho das 23h às 4h horário local (03h às 08h em Brasília). Cada dia menos hondurenhos davam atenção aos acontecimentos no país.
“Nós só queremos a paz, não queremos aborrecimentos” diz Carlos, um taxista em Tegucigalpa.
“Finalmente podemos voltar a sair, isso quer dizer que a situação se resolveu”, afirma um jovem da burguesia, em um centro comercial.
Se difundiu através dos meios de comunicação um sentido muito genérico de paz e tranquilidade, contra às manifestações e às tentativas de greve.
O famoso jornalista esportivo Salvador Nasral, do canal Televicentro, anunciava ontem com satisfação o fim do toque de recolher em seu programa, bastante popular: “Se regressa finalmente à normalidade, porque os hondurenhos querem a paz. Além disso, não gostamos de pessoas que não vão trabalhar, que saem nas ruas, que escrevem nos muros sujando nossa cidade. Se fosse um turista nunca viria em uma cidade assim. Então, por favor, deixem de atrapalhar!”, falou.
Falta de resistência interna
Segundo especialistas entrevistados pelo Opera Mundi, a suspensão do toque de recolher aconteceu pela falta de resistência interna no país, o que tranqüilizou o governo golpista de Roberto Micheletti.
“Primeiro, não há mais manifestações nem qualquer outro tipo de movimentação que justifique um toque de recolher. Segundo, isso passa uma imagem mais pacífica para o mundo”, constatou o professor de Relações Internacionais da UNESP de Franca, Hector Saint-Pierre.
O historiador e professor do Programa San Tiago Dantas de Relações Internacionais, Luiz Fernando Ayerbe, pensa que a situação interna de Honduras tende a favorecer os que perpetraram o golpe. “Um elemento que impediu o golpe conta Hugo Chávez em 2002 foi a pressão interna. Em Honduras, o grau de resistência não foi tão alto, e no momento se estabeleceu uma negociação na Costa Rica. Isso desanuviou o ambiente. Essa negociação reconhece que os golpistas são uma parte do processo e o governo se sentiu confiante em retirar o toque de recolher”.
Para Ayerbe, a suspensão do toque de recolher não é definitiva. “Talvez se as manifestações voltarem, e mais fortes, também volte o toque de recolher. É uma medida que foi tomada porque o governo não se sente ameaçado, mas ela pode voltar a qualquer momento”.
OEA
Sobre a atuação da OEA (Organização dos Estados Americanos) na crise, Saint-Pierre disse que a organização teve uma resposta rápida, mas que a indispôs como mediadora.
Ayerbe acredita que o papel da OEA é limitado, e que o órgão já teria feito tudo o que podia. “[A OEA] foi até onde podia, tomou uma medida firme, de suspender Honduras da organização, o secretário geral buscou um diálogo, demonstrou apoio ao Zelaya, mas é o limite da agência”.
Para Saint-Pierre, mesmo a pressão externa ao golpe já estaria arrefecendo. “Agora as elites do poder estão apoiando o golpe. O comércio com o país continua. Os Estados Unidos, embora tenham ameaçado, não cortaram exatamente o apoio econômico a Honduras, só o apoio a militares. Setenta e cinco a 80% do comércio hondurenho é com os Estados Unidos. Se eles quisessem acabar com o golpe já teriam conseguido”.
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