O governo golpista de Honduras ganhou a inimizade declarada de duas das três maiores economias do continente americano. Os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e do México, Patrícia Espinosa, estiveram reunidos hoje (23) em Brasília e cobraram enfaticamente o retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder, além de fazer pesadas críticas à postura de Roberto Micheletti, líder da administração de facto.
O Brasil vai levar esta postura à reunião de cúpula do Mercosul, que começa amanhã em Assunção. O governo Lula, que vem se manifestando de forma mais contundente contra a situação em Honduras desde que as tentativas de mediação do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, começaram a fracassar, pretende convencer outros países de que é necessário boicotar os golpistas, disse um ministro do Itamaraty ao Opera Mundi.
“Esse golpe é um mau exemplo. Imagine se todo golpista se instalar no poder e a solução for a formação de um governo de coalizão. Isso seria um incentivo ao golpe de Estado. É preciso que Zelaya volte”, afirmou o ministro, referindo-se à proposta de formar um governo de união nacional, apresentada por Oscar Arias e defendida pelos Estados Unidos.
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Celso Amorim disse hoje que outros países, como os da União Europeia e os Estados Unidos, devem ser mais rigorosos para viabilizar a restituição imediata de Zelaya. Propôs também que a OEA (Organização dos Estados Americanos) tome uma nova decisão, dando maior respaldo aos países-membros da instituição que reprovam o golpe e querem a volta do presidente deposto.
“É importante que os golpistas compreendam que podem melhorar muito a situação uma vez que aceitem a volta do presidente Zelaya”, disse o ministro.
“Como instituição, como regime, os golpistas não têm futuro”, destacou. “O governo golpista é a própria instabilidade. Pode-se imaginar que, no momento, a instabilidade esteja congelada, dando uma falsa ilusão de permanência, mas a comunidade internacional não aceitará um regime que emergiu de um golpe de Estado”.
Patrícia Espinosa concordou com Amorim. “Reiteramos nossa enérgica condenação ao golpe de Estado em Honduras e nosso respaldo ao presidente constitucional, Manuel Zelaya, que deve ser restituído ao cargo de forma imediata e incondicional”, afirmou a ministra. Ela disse também que os esforços da OEA para uma solução pacífica para o conflito não estão esgotados.
Segundo a fonte do Itamaraty, o presidente Luiz Inácio da Silva aproveitará a reunião de cúpula do Mercosul para tentar propagar a posição do Brasil, que congelou uma série de investimentos em Honduras desde o golpe.
Um levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostra que o país centro-americano deixará de receber cerca de 310 milhões de dólares em investimentos do setor privado brasileiros, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e da Petrobras.
São exemplos a instalação de uma fábrica de lubrificantes pela estatal petrolífera, com custo estimado em 50 milhões de dólares; a construção de duas hidrelétricas, Los Llanitos e Jicatuyo, no valor de 180 milhões de dólares; e a participação do Brasil no projeto de pavimentação de estradas no trecho de Tegucigalpa a Catacamas, com orçamento em torno de 80 milhões de dólares.
Estados Unidos
Celso Amorim acredita que, com o congelamento das relações econômicas bilaterais, o Brasil está “fazendo o que poderia fazer”. Mas faz a ressalva de que “não é o país que tem nas mãos a capacidade de fazer mais pressão”.
Os Estados Unidos e o Brasil têm adotado posturas diferentes. A Casa Branca apoia a busca de um governo de coalizão. O Brasil defende que nenhum acordo seja feito sem que Zelaya possa voltar ao país e reassumir o cargo.
Na semana passada, o chanceler brasileiro telefonou para a secretária de Estado Hillary Clinton para dizer que estava preocupado com o andamento do processo de negociação. Ele disse ver com restrição a proposta de Oscar Arias e deixou claro que, para o Brasil, um acordo que acomode a oposição no novo governo significa “premiar os golpistas” e descumprir a resolução da OEA.
O porta-voz interino da Casa Branca, Robert A. Wood, divulgou uma declaração parabenizando Arias “pelos esforços continuados em facilitar uma negociação pacífica em prol da restauração da ordem democrática e constitucional de Honduras”. Para Wood, as conversações produziram progressos significativos e criaram uma base para uma possível resolução que obedeça aos princípios da Carta Democrática Inter-Americana e às decisões tomadas pela OEA.
Nos Estados Unidos, as forças políticas divergem: poucas horas após o golpe, Obama reprovou o golpe, mas alguns senadores discordaram da atitude do presidente.
Apesar das divergências internas, o país tomou algumas medidas rígidas. Além de não reconhecer o novo governo e incitar outros países a fazer o mesmo, congelou empréstimos, programas de ajuda e de cooperação. Instituições multilaterais, como o Banco Mundial, também suspenderam programas e empréstimos. Honduras depende muito dos Estados Unidos, destino de 85% de suas exportações.
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