A postura conservadora dos bancos brasileiros gerou um mercado mais sólido e menos contaminado pelos títulos dos financiamentos de alto risco de origem norte-americana, o que colocou o Brasil em posição de destaque no cenário internacional, segundo especialistas.
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“Esse comportamento conservador é cultural e tem a ver com um ambiente macroeconômico tradicionalmennte mais instável no Brasil, com experiência recente de crises. Houve um aprendizado, e o nosso sistema estava mais preparado”, diz ao Opera Mundi o professor André Martins Biancarelli, do Instituto de Economia da Unicamp.
Para o economista, a liderança alcançada pelos bancos brasileiros é “natural” para a maior economia latino-americana. “Além disso, o sistema financerio brasileiro em termos de tecnologia é muito sofisticado”, afirma Biancarelli.
Ele também considera as recentes fusões de bancos brasileiros um fator de fortalecimento do sistema. “O Itaú comprou o Unibanco, houve um processo de privatização dos bancos estaduais e várias instituções os compraram, aumentando a sua carteira. Temos quatro, cinco bancos privados de porte, com o Banco do Brasil à frente”, acrescenta.
O economista Biancarelli explica ainda que as pessoas sabiam que o subprime (crédito de risco) era uma operação perigosa. “Como os juros pagos pelo governo na dívida pública já eram muito altos – algo que criticamos durante muito tempo – isso foi de certa forma uma vantagem. É um certo paradoxo, mas a vantagem de ter um sistema financeiro menos propenso ao risco tem a ver com a nossa taxa de juros muito alta, que por outro lado, não é muito funcional para o desenvolvimento econômico”, afirma Biancarelli.
Para o analista econômico Luiz Gonzaga Beluzzo, da Unicamp, há “males que vêm para o bem”, referindo-se às crises econômicas do passado. “Aprendemos a reagir depressa com os anos de inflação, e mantivemos o sistema regulado, muito cauteloso. Não havia alavancagem excessiva, então o Brasil sobreviveu bem à crise”.
Beluzzo diz ainda que o Brasil saiu na frente em relação aos bancos latino-americanos por causa da ação dos bancos públicos. “A experiência neoliberal liquidou com todos bancos públicos na América Latina, na Argentina, no México. E o Brasil ficou com esse instrumento para poder operar e expandir o crédito”, opina.
Segundo ele, a mesma fórmula valeu para os países que compõem o BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China. “A Rússia sofreu muito com a crise, enquanto na China os bancos são todos públicos, e na Índia há uma regulação muito grande e grande peso do crédito público”, acredita Beluzzo.
Já para o professor Marcos Fernandes Gonçalves de Souza, da Fundação Getúlio Vargas, há uma “super-regulação” do mercado pela Comissão de Valores Mobiliários e pelo Banco Central que evitou a adoção de sistemas de crédito de altíssimo risco, como ocorreu nos Estados Unidos. “O crédito é muito restrito, mas ultimamente foi preciso que fosse assim”.
Internacionalização
Na esteira do bom desempenho, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, anunciou que vai abrir um banco comercial nos Estados Unidos para atender aos imigrantes e empresas brasileiras. Segundo Bendine, a intenção é expandir os negócios também para América Latina, Ásia e África.
Para os especialistas, a tendência é mesmo esta: a internacionalização dos bancos brasileiros. “No mercado norte-americano o Banco do Brasil vai se concentrar na exploração dos vínculos com o Brasil. E, na América Latina, tem um mercado grande para um sustentáculo financeiro no processo de integração produtiva que, aos trancos e barrancos, está acontecendo”, diz Biancarelli.
O economista lembra que já houve expansão da presença de instituições financeiras brasileiras em países como Chile, Uruguai e Argentina, desde 2001. “O Brasil meio que ocupou espaço quando houve retração de bancos estrangeiros que se retiraram destes países”.
O professor Gonçalves de Souza acredita que a vantagem brasileira se dá pela expertise, poupança e experiência em uma economia com inflação, o que faz com que o mercado tenha criatividade no desenvolvimento de produtos. “O nosso mercado financeiro é talvez o mais sofisticado de toda a América Latina”, afirma. “Esses bancos vão virar multinacionais. E agora a gente vai ter que se acostumar com a frase ‘brasil go home’ em cartazes pelo mundo”, completa o economista.
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