Os cientistas descobriram novas evidências de que Marte já teve um oceano com praias arenosas e não apenas rios como estudos anteriores já haviam indicado. A descoberta, publicada nesta segunda-feira (24/02) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences foi feita após análise de dados e imagens subterrâneas enviadas pelo radar do rover chinês Zhurong, que explorou a superfície e o subsolo do planeta entre maio de 2021 e maio de 2022.
“O rover Zhurong foi enviado para o sul de Utopia Planitia, perto de locais onde dados de satélite haviam mapeado paleolitorais”, explica Benjaimn Cardenas, coautor da pesquisa feita pela Penn State University dos Estados Unidos.
Os autores do estudo concluíram que os dados do radar indicam um oceano porque são semelhantes aos obtidos em linhas costeiras na Terra usando o mesmo tipo de radar de penetração no solo. Em ambos os casos, as imagens desses instrumentos indicam um subsolo inclinado em um ângulo semelhante e em direção à uma planície ou oceano.
Embora esse tipo de inclinação pudesse ser resultado de outro tipo de atividade e não apenas das atividades de um oceano, os cientistas explicam dizem que nenhuma dessas outras alternativas explica a totalidade dos dados coletados.

Marte visto a partir de uma sonda espacial
Indícios de marés e ondas nos sedimentos do subsolo
“Nós descartamos vulcões, rios e dunas de areia sopradas pelo vento. Todas essas são vistas com bastante frequência em Marte, mas a estrutura que observamos não se encaixa em nenhuma delas”, disse Cardenas.
“É uma estrutura simples, mas ela nos informa que ali tinha de haver marés, ondas e um rio próximos fornecendo sedimentos. E também que todas essas coisas estiveram ativas ali por um longo período”, explica o cientista.
O estudo conseguiu inferir tudo isso porque o radar detecta até mudanças muito sutis no tamanho dos sedimentos. Os dados indicam que a praia marciana deve ter mudado de posição ao longo do tempo e crescido em direção ao oceano. “Na verdade, ela cresceu pelo menos 1,3 quilômetros ao norte em direção ao oceano”, diz o pesquisador.
Segundo ele, a descoberta tem implicações para a avaliação da habitabilidade passada de Marte, ou seja, para a possibilidade de o planeta vermelho ter sido compatível no passado com a vida.
“Uma praia é uma interface entre água rasa, ar e terra. É nesse tipo de ambiente que se pensa que a vida surgiu pela primeira vez na Terra. Por isso acho que esse lugar em Marte seria ótimo para enviarmos uma missão para buscar de sinais de vida passada”, avalia Cardenas.
“Eu adoraria fazer geologia ali, reconstruir essas paisagens antigas, é um excelente combustível para devaneios”, confessa o cientista, admitindo que a praia marciana certamente seria bem diferente e muito mais fria que as da Terra.

Detalhes da superfície de Marte
Um planeta como a Terra mas gelado
Marte tem cerca de metade do diâmetro da Terra e 10% da sua massa, com uma gravidade equivalente a quase 40% da nossa. Sua atmosfera é muito fina composta por 95% de CO2 com traços de nitrogênio e argônio. O planeta é extremamente frio, com temperaturas em torno de -140ºC a 20º C no equador durante o dia. As médias globais são de -63ºC. A duração do dia marciano é similar à do dia terrestre: 24 horas e 37 minutos, mas o planeta vermelho leva 687 dias para contornar o Sol.
Desde 1960 o planeta foi visitado por várias missões. Atualmente duas sondas estão ativas na sua superfície coletando dados: a Perseverance, que chegou em 2021, e a Curiosity, que chegou em 2012. O rover Zhurong é o primeiro rover chinês a explorar o planeta. Ele chegou em Marte em maio de 2021 depois de sete meses de viagem. Esteve ativo até maio de 2022, quando entrou em modo hibernação durante o inverno marciano. Depois não respondeu mais às tentativas de contato possivelmente por ter sido soterrado por poeira.
Graças à sonda chinesa, se coletaram evidências de que o planeta provavelmente tinha água líquida tinha água bem antes — há 400 mil anos– do que se supunha. Missões anteriores detectaram indícios de que pequenas quantidades de água salgada podem escorrer, temporariamente, de algumas encostas marcianas no verão. As sondas também confirmaram grandes quantidades de gelo nos polos e no subsolo, e chegaram a registrar até terremotos no planeta vermelho.
Essas descobertas indicam que Marte teve um passado mais quente e único, o que levantou a hipótese de que possa ter abrigado vida, ao menos microscópica. Essencial à vida, vestígios de água já foram encontrados até em asteroides.