Sexta-feira, 18 de abril de 2025
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A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou nesta sexta-feira (21/03) um relatório advertindo que o derretimento das geleiras chegou a níveis sem precedentes e que isso ameaça economias, ecossistemas e o abastecimento de água e alimentos de 2 bilhões de pessoas.

Os estudos científicos mostram que as áreas de alta montanha cobertas por gelo e neve não só estão encolhendo como o fazem em velocidade crescente. A maior perda de massa de geleiras já registrada ocorreu nos últimos três anos, afetando sobretudo os Andes tropicais, a Noruega e a Suécia. Por isso, junto com o relatório, a OMM estabeleceu 21 de março como o Dia Mundial das Geleiras e 2025, como Ano Internacional de Conservação das Geleiras.

Dois terços de toda a agricultura irrigada do mundo provavelmente se vejam afetados pelo recuo das geleiras e a redução da neve nas montanhas, adverte o relatório dos cientistas das Nações Unidas.

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“Independentemente de onde vivemos, todos nós dependemos de alguma forma de montanhas e geleiras, que estão em perigo iminente. Este relatório mostra a necessidade urgente de ação”, disse Audrey Azoulay, diretora geral da Unesco.

“A preservação das geleiras não é apenas uma necessidade ambiental, econômica e social. É uma questão de sobrevivência”, enfatizou Celeste Saulo, secretária-geral da OMM.

Geleiras perdem três piscinas olímpicas por segundo

Um estudo internacional publicado há um mês pela revista científica Nature estima que as geleiras do mundo perderam uma média de 273 bilhões de toneladas de gelo a cada ano desde 2000. Isso equivale a três piscinas olímpicas por segundo, sendo que a perda foi 36% maior entre 2012 e 2023 do que entre 2000 e 2011.

O estudo envolveu 35 grupos de pesquisa de todo o mundo coordenados pelo Serviço Mundial de Monitoramento de Glaciares. Eles combinaram quatro metodologias de medição e concluíram que as áreas congeladas do mundo perderam 5% de seu volume total. A perda varia de 2% nas ilhas da Antártida a 40% nos Alpes e Pirineus.

As superfícies montanhosas cobertas de gelo e neve estão diminuindo cada vez mais rápido
Wikimedia Commons
As superfícies montanhosas cobertas de gelo e neve estão diminuindo cada vez mais rápido

Nesse ritmo, os cientistas avaliam que muitas geleiras do oeste do Canadá e dos Estados Unidos, da Escandinávia, do Cáucaso, da Nova Zelândia e dos trópicos não sobreviverão ao século XXI.

Em algumas áreas, porém, a perda de gelo é maior. Desde 1998, em algumas áreas da África Oriental, a redução das geleiras chegou a 80%.

Os maiores reservatórios de água doce da Terra

“As geleiras de montanha contêm alguns dos maiores reservatórios de água doce da Terra. A água que derrete no verão abastece um bilhão de pessoas e sustenta uma enorme quantidade de indústria e agricultura. O impacto (do seu desaparecimento) será sentido muito além daqueles imediatamente a jusante das geleiras”, explicou ao jornal The Guardian Alex Brisbourne, geofísico de geleiras do British Antarctic Survey.

Exemplo do impacto indireto do derretimento das geleiras são todos os países da região andina, uma das mais afetadas. Além de dependerem das águas do degelo para a agricultura, esses países produzem 85% de sua eletricidade em hidreléticas.

Além dos impactos diretamente relacionados ao fornecimento de água e produção de alimentos, o derretimento das geleiras pode provocar uma avalanche de efeitos cascata. O primeiro é a elevação do nível do mar. Os oceanos sobem atualmente a uma taxa de 3,5 milímetros por ano, mas as geleiras contêm gelo suficiente para acelerar muito essa subida. E com a aceleração do aquecimento global que vem ocorrendo, a tendência é que mais gelo derreta,

Círculo vicioso de aquecimento e impactos

“E o mar subir alguns centímetros torna as tempestades e eventos extremos na costa muito mais severos”, frisa Alejandro Blázques, um dos autores do estudo publicado na Nature.

O aquecimento das regiões de alta montanha também faz com que muitas precipitações que seriam de neve passem a ser de água, o que aumenta as avalanches. Com isso cresce o risco de inundações repentinas em vales ou nas encostas abaixo das montanhas.

A redução das geleiras também diminui a superfície que, por ser branca, reflete os raios solares, substituindo-a por uma superfície escura, que absorve mais calor. Masi uma contribuição para o aquecimento global.

Ao mesmo tempo, o aquecimento global também está derretendo o permafrost, a camada de gelo até recentemente considerada ‘eterna’ porque não derretia no verão. O solo exposto pelo descongelamento libera metano  um gás que, no curto prazo, é 80 vezes maior potente que o CO2 para aquecer o planeta.