Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciaram nesta segunda-feira (05/05) pacotes de centenas de milhões de euros para atrair cientistas estrangeiros, ameaçados nos Estados Unidos, para a Europa e a França.

A Comissão Europeia proporá “um novo investimento de € 500 milhões para o período 2025-2027”, disse a representante da União Europeia (UE) no campus universitário da Sorbonne, em Paris.

Ursula von der Leyen enalteceu os “financiamentos estáveis e sustentáveis” e as “infraestruturas” favoráveis à pesquisa na Europa, e anunciou medidas para suprir suas “deficiências”, que incluem “uma nova ‘superbolsa’ por um período de sete anos” e o dobro do “complemento” pago às bolsas de pesquisa, até 2027.

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“A médio e a longo prazo: em conjunto com nossos Estados-membros, queremos atingir a meta de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) para investimento em pesquisa e desenvolvimento até 2030”, acrescentou.

Ela reiterou sua meta de “garantir a liberdade da investigação científica na lei através de um novo ato legislativo sobre o Espaço Europeu da Pesquisa”. O Espaço Europeu da Pesquisa (EER) é um conceito criado pela Comunidade Europeia para descrever sua política em matéria de pesquisa e inovação.

O presidente francês Emmanuel Macron também anunciou que investirá € 100 milhões “adicionais”, que serão financiados por uma reserva disponível do programa de investimento público França 2030, que até agora não foi alocada, de acordo com a Presidência francesa.

Macron também demonstrou apoio a “propostas, incluindo legislativas, destinadas a proteger melhor os refugiados científicos”, em alusão ao projeto de lei apresentado pelo ex-presidente François Hollande na Assembleia Nacional. O texto propõe a criação de um novo status para facilitar a vinda de pesquisadores e cientistas ameaçados em seus países de origem

Falta de financiamento

O chefe de Estado havia anunciado em abril a organização da conferência e o lançamento da plataforma Choose France for Science, que desde então “gerou mais de 30.000 conexões, um terço nos Estados Unidos”, disse.

A iniciativa foi criticada pelos sindicatos franceses de ensino superior e pesquisa, que a qualificaram de “chocante e até mesmo indecente”. Eles denunciam o “subfinanciamento crônico” do setor, os “agrupamentos forçados” de instituições, mas também “os ataques à liberdade acadêmica”.

Ursula von der Leyen enalteceu “financiamentos estáveis e sustentáveis” e as “infraestruturas” favoráveis à pesquisa na Europa
Emmanuel Macron/X

Para Didier Samuel, diretor do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), “há um reinvestimento na pesquisa” nos últimos anos, mas “ainda não preenchemos essa lacuna”. “Devemos manter” essa dinâmica e “ampliá-la”, disse em entrevista à rádio francesa Franceinfo. O objetivo, disse, é tornar a França e a Europa mais atraente. Os salários e os recursos dedicados à pesquisa no continente e no país são muito inferiores em comparação aos EUA.

A União Europeia já recebe “25% dos pesquisadores do mundo” e “cada euro investido hoje através do programa Horizonte Europa gerará € 11 em ganhos de PIB até 2045”, disse a comissária europeia de Pesquisa, Ekaterina Zaharieva, na abertura da conferência.

Painéis

O evento também incluiu dois painéis para discutir meios de lutar contra a dependência europeia em termos de pesquisa, a liberdade acadêmica e a contribuição em termos globais.

O fim de muitas parcerias com os norte-americanos “pode ter consequências em nossa segurança, particularmente em termos de monitoramento da saúde, e em grandes programas de cooperação”, como os relacionados ao clima, de acordo com o Eliseu. Já os bancos de dados, muitos deles internacionais, podem ser ameaçados por decisões do governo norte-americano.

“A França e a Europa não podem deixar isso acontecer. É por isso que precisamos urgentemente proteger ou recriar esses bancos de dados para assumir o controle”, disse Macron.

Sobre a soberania europeia, principalmente em termos de dados digitais, Emmanuel Macron considera que a UE cometeu o “erro” de não ter um “verdadeiro cloud europeu”. Este setor é dominado por grupos norte-americanos como Amazon, Microsoft e Alphabet, onde a francesa OVHcloud, líder europeia, tem pouca influência.

“Precisamos construir o financiamento e a cooperação para recuperar e proteger essas bases de pesquisa, essas plataformas”, insistiu o presidente francês, pedindo financiamento público-privado com o apoio da Comissão Europeia.

“Nossa Europa não será independente e autônoma em termos estratégicos sem uma ciência livre e forte. Escolher a ciência é até recusar resolutamente a vassalagem”, acrescentou. “Não existe submissão feliz.”