'Comunavírus': chanceler brasileiro fala em 'conspiração comunista' para dominar mundo pós-pandemia
Em artigo com tom paranoico, Ernesto Araújo ataca a OMS, distorce ideias de Zizek, compara nazismo a comunismo e inventa o 'comunavírus'
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, publicou na madrugada desta quarta-feira (22/04) um artigo com tom paranoico em seu blog pessoal (que se chama 'Metapolítica 17', com o número usado pelo presidente Jair Bolsonaro em sua campanha presidencial) no qual denuncia uma suposta "conspiração comunista" em curso para dominar o mundo após a pandemia do novo coronavírus.
Distorcendo as ideias do filósofo marxista Slavoj Zizek, Araújo cita um novo livro do esloveno impresso na Itália que reúne ensaios sobre as mudanças que o coronavírus trouxe para o mundo, publicado com o título Vírus.
"Zizek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo. A pandemia do coronavírus representa, para ele, uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade", diz o chanceler logo no primeiro parágrafo do texto.
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Além de evidenciar um completo desconhecimento da teoria marxista ou de conceitos como socialismo e comunismo, Araújo ainda chama o livro do filósofo esloveno de uma "obra-prima de naïveté canalha, que entrega sem disfarce o jogo comunista-globalista de apropriação da pandemia para subverter completamente a democracia liberal e a economia de mercado, escravizar o ser humano e transformá-lo em um autômato desprovido de dimensão espiritual, facilmente controlável".

Itamaraty
Em artigo com tom paranoico, Ernesto Araújo ataca a OMS, distorce ideias de Zizek, compara nazismo a comunismo e inventa o 'comunavíurs'
O ministro do governo Bolsonaro também aproveitou para atacar a Organização Mundial da Saúde (OMS) criticando o que chama de transferir poderes nacionais a organizações multilaterais, o que, segundo Araújo, "não tem eficácia comprovada". Ele diz ainda que o "plano comunista" em curso pretende utilizar a OMS como "primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária".
Usando expressões como "o globalismo é o novo caminho do comunismo", "o inimigo do comunismo é o espírito humano" e "o nazista é um comunista que não se deu ao trabalho de enganar as suas vítimas", o chanceler apresenta seu argumento central de que, em meio à pandemia de covid-19, o politicamente incorreto se tornou "o sanitariamente correto" e que "esse comunismo de repente encontrou no coronavírus um tesouro de opressão".
"A pretexto da pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem nações, sem liberdade, sem espírito, dirigido por uma agência central de 'solidariedade' encarregada de vigiar e punir. Um estado de exceção global permanente, transformando o mundo num grande campo de concentração", conclui Araújo.